Nome de vencedora e moradora especial: conheça Vitória, onça-pintada com hidrocefalia que vive no zoo de Sorocaba


Vitória vive no Zoológico Municipal Quinzinho de Barros há 13 anos. Em comemoração ao Dia Internacional da Onça-Pintada, o g1 visitou o zoológico para saber mais sobre espécie, que está ameaçada de extinção. Onça-Pintada ‘Vitória” em seu recinto no Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros
Fernanda Cordeiro/g1

Nome de vencedora, mãe e participante de programa ambiental: conheça Vitória, onça-pintada diagnosticada com hidrocefalia tratada no Zoo de SorocabaSorocaba
Quem visita o Zoológico de Sorocaba (SP) se encanta com as 290 espécies que vivem no local. Entre elas, estão as onças-pintadas, que chamam a atenção de adultos, crianças e idosos pela imponência – e pela carinha fofa também. Um exemplo é a Vitória, onça com uma doença congênita, que vive no zoo há 13 anos e participa de um programa ambiental.
📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp
O Dia Internacional da Onça-Pintada é comemorado nesta sexta-feira (29) e, em comemoração à data, o g1 visitou o zoológico para saber mais sobre espécie, que está ameaçada de extinção.
O Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros foi fundado em 1968 e recebe verba da prefeitura para manter as espécies preservadas. O objetivo é promover a empatia entre seres humanos e animais, além da reprodução para reintroduzir essas espécies na natureza.
Médico veterinário André Luiz Mota da Costa é o cuidador principal de Vitória
Fernanda Cordeiro/g1
Quem tem uma relação especial com Vitória é o médico veterinário André Luiz Mota da Costa, que a acompanha desde 2011, quando ela chegou no zoo, vinda de um centro de triagem de animais silvestres de Rio Branco (AC). Segundo o profissional, a onça tinha tonturas, não conseguia andar direito e estava com a cabeça inchada.
“Com o auxílio da Faculdade Veterinária de Botucatu, detectamos um quadro de hidrocefalia, que é a má formação, ou uma doença congênita, que aumenta o crânio dos animais e faz uma pressão na massa encefálica”, explica.
Para chegar ao diagnóstico, André explica que foram feitos diversos exames, como acentuação magnética e tomografia craniana. Com o tratamento correto, Vitória voltou a ser saudável e hoje tem uma vida normal no zoo.
Recinto da onça-pintada Vitória no Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros
Fernanda Cordeiro/g1
💛 Raul, o par romântico de Vitória
Vitória cresceu sob os cuidados do médico veterinário, porém, isso não durou muito tempo. Assim que ela se tornou uma onça adulta e entrou na fase de reprodução, a onça-pintada Raul chegou no local para formar um casal com ela.
“Conseguimos um macho amazônico para ela, há seis anos mais ou menos. Ele veio da região de Manaus. Ela cruzou com esse macho amazônico, que era um animal idoso, o nome dele era Raul. Ela ficou prenha dele”, conta.
Raul e Vitória tiveram um filhote, mas, infelizmente, o pai não teve a chance de conhecer o filho. Raul morreu antes do nascimento da pequena onça.
“O filhote ficou com ela por alguns meses até se tornar adulto, e depois foi enviado para Curitiba antes que copulasse com a mãe, algo que não é desejável do ponto de vista genético”, explica.
“O Raoni está no zoológico de Curitiba participando também de um projeto de reprodução com outra onça-pintada amazônica que está por lá, e a gente pretende utilizar os filhotes desse casal para futuros projetos de conservação da espécie”, continua.
Segundo o veterinário, o cruzamento entre dois animais do mesmo sangue pode acarretar em filhotes com falhas genéticas, como más formações e doenças mentais. Para controlar isso, o livro “studbook keepers” foi criado.
“É um livro onde tem catalogadas todas as onças-pintadas do Brasil. Onde elas estão, quem que é o pai, quem que é a mãe, isso, claro, quando a gente sabe. No caso da Vitória, não sabemos quem é o pai e a mãe, porque ela veio de vida livre”, explica.
🐆Importância da preservação da espécie
Onça-Pintada Vitória em seu recinto no Parque Zoológico Municipal ‘Quinzinho de Barros’
Fernanda Cordeiro
A onça-pintada é uma espécie bastante temida e que está espalhada por todo o país. Diante disso, a Mata Ciliar de Jundiaí (SP) é um dos exemplos de ONGs que trabalham em prol da preservação não apenas dessa espécie, mas também de outros animais da fauna brasileira.
A médica veterinária Cristina Harumi Adania participa da Associação Mata Ciliar de Jundiaí e explica sobre a importância de preservação dessa espécie.
“A onça-pintada tem uma importância ecológica muito grande, pois ela é o topo da cadeia alimentar. A onça é um exímio caçador, ela é treinada para caçar presas vivas. Então, se você retira a onça-pintada do ambiente natural, você acaba por desequilibrar aquele ambiente”, diz.
Filhote de onça-pintada resgatado
Associação Mata Ciliar/Divulgação
Cristina explica que a espécie serve para manter o equilíbrio ecológico na cadeia alimentar. Por isso, se não existe a onça-pintada no ambiente, a população de um determinado animal que seria a possível caça dela tende a aumentar de forma descontrolada.
“Por ser um felino topo da cadeia alimentar, a onça tem um papel primordial na função ecológica. Tem alguns autores, inclusive, que dizem que se existe a onça-pintada num determinado ambiente, isso significa que aquele ambiente tem qualidade de vida”, diz.
Do resgate à reintrodução na natureza
Zoológico de Sorocaba é aberto para visitas
Fernanda Cordeiro/g1
As onças-pintadas são resgatadas em decorrência de atropelamentos, choques elétricos, ferimentos por linhas de pipas e, principalmente, pela falta de habitat. Na Associação Mata Ciliar, os animais passam por um processo longo até serem reintroduzidos na natureza.
“Depois de ter alta médica, o animal passa para o recinto de reabilitação para que ele possa se exercitar muito, porque a onça-pintada é um animal muito territorialista, ela precisa de uma área grande para forragear, para caçar e para se defender e, assim, ser reintroduzido na natureza”, explica Cristina.
Os profissionais precisam manter o animal frequentemente estimulado. Por isso, diversas estratégias e técnicas são aplicadas. Além disso, é fundamental que o felino não se acostume com humanos para que isso não seja um problema ao voltar para a natureza.
“Nós ofertamos estímulos para a onça, mostrando que o humano é perigoso, atrelando sempre a presença humana com barulho, com alguma coisa desagradável, ela tem que fugir com medo. As onças também se escondem em locais que o recinto oferece, como esconderijos, mato e árvores”, diz.
Filhote melânico de onça-pintada
Associação Mata Ciliar
Outra técnica utilizada envolve a alimentação. Para alimentar o animal, é essencial que os tratadores façam isso com muito cuidado, para isso, elementos do recinto são usados para estimular os sentidos aguçados do animal.
“Ela não pode perceber que quem está ofertando o alimento é o ser humano. Então, nós temos algumas técnicas e estratégias de ofertar alimento sem que ele perceba: colocamos uma presa já morta em cima de uma árvore e, a partir daí, a onça tem que forragear, cheirar, e subir na árvore”, explica a veterinária.
Após passarem por todo esse processo e, caso respondam bem a esses condicionamentos, as onças-pintadas voltam para o seu habitat natural.
As onças e os humanos
Onça-pintada Vitória é cuidada no Zoo de Sorocaba (SP)
Fernanda Cordeiro/g1
As onças-pintadas são o símbolo do Brasil, significando força e coragem. Porém, a espécie também está distribuída por diversos países, como Argentina, México e até mesmo no sul dos Estados Unidos. Apesar da presença em diferentes locais, a espécie é predominante no Brasil.
“O Brasil é o país mais rico na distribuição de onças-pintadas. Ela vive em diversos ecossistemas do Brasil, como a Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e até mesmo no Pampas.”
Por serem amplamente distribuídas, as onças-pintadas de diferentes ecossistemas possuem distinções morfológicas para se adaptarem às regiões do país. Mesmo assim, ela ainda é uma espécie em risco de extinção, seja por falta de habitat, pela caça predatória ou turismo.
“Muitas pessoas fazem um turismo que não é oncológico, é um turismo predador. Geralmente as pessoas querem ver de qualquer jeito o animal e, com isso, acabam alimentando o bicho sempre naquele lugar, naquele mesmo horário. E a cada dia essa aproximação tem sido mais prejudicial à onça pintada”, alerta a profissional.
A ‘Pantera Negra’ ainda é uma onça-pintada, porém com excesso de melanina
Associação Mata Ciliar
“A onça-pintada, querendo ou não, acaba também se acostumando ao ser humano. E isso é muito ruim, porque de repente existem aqueles que se arriscam e esquecem e a onça-pintada ainda é um predador”, continua.
Os encontros com esse animal têm sido recorrentes, principalmente nas áreas rurais. De acordo com a especialista, isso acontece devido à falta de espaço nas florestas que as onças-pintadas ficam.
“Existe uma caça predatória muito grande para pegar partes das onças como troféu, ou porque acreditam em mitos. Algumas pessoas acham que o dente da onça vai trazer muita sorte ou que o crânio da onça mostra coragem. É uma série de mitos que acabam por dizimar a população de onças”, explica.
Onças na cidade? Conheça o trabalho da instituição que resgata e monitora animais silvestres em áreas urbanas
“Além disso, as áreas das onças estão sendo retiradas, principalmente para o manejo de gado e plantação de cana-de-açúcar e soja. Os agricultores costumam matar as onças porque elas atacam o gado e as galinhas, mas isso acontece justamente pela falta de habitat”, pontua.
“É importante que as pessoas entendam que a nossa sobrevivência está também ligada à sobrevivência da onça-pintada no habitat natural. Então, nós temos que preservar as áreas para que a manutenção das populações se mantenha nesses habitats.”
A Mata Ciliar de Jundiaí é uma instituição sem vínculos governamentais, que tem como objetivo resgatar e reabilitar animais silvestres. Para saber conhecer mais sobre os trabalhos da instituição, é possível acessar o site da Associação.
Já o Zoológico de Sorocaba está localizado na Rua Theodoro Kaisel, número 883, na Vila Hortência, e é aberto de terça-feira a domingo, das 9h às 17h, sendo que a bilheteria funciona até as 16h.
Os ingressos custam R$ 8 para pessoas de 12 a 59 anos, e R$ 4 para crianças de seis a 11 anos, além de estudantes dos ensinos fundamental, médio, técnico ou superior, reconhecidos pelo MEC, mediante comprovação de matrícula ou carteira estudantil dentro do prazo de validade.
Crianças de até cinco anos, idosos acima de 60 anos completos e pessoa com deficiência, garantindo-se também ao seu acompanhante, quando necessário e quando comprovada essa condição, são isentos de pagamento do ingresso.
*Colaborou sob supervisão de Júlia Martins e Gabriela Almeida
Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

Adicionar aos favoritos o Link permanente.