O Brasil é o país do futuro (por Felipe Sampaio)

Justiça seja feita, o presidente Lula possui um talento invejável de interpretar a realidade (a atuar sobre ela) a partir de uma leitura panorâmica dos cenários e das circunstâncias. Mais uma vez, Lula enxerga, mais do que ninguém, que, o Brasil, mais do nunca, é o país do futuro.

É bem verdade que a frase pode estar desgastada por tantas idas e vindas da nossa democracia pendular e da nossa economia colonial. Contudo, o presidente brasileiro demonstrou – à frente do G20 – que não precisa ser uma potência militar global (talvez, nem deva ser) para construir entendimentos e convergências em torno dos temas decisivos para a humanidade daqui pra frente.

A Declaração de Líderes do G20, aprovada com consenso por todos os membros da cúpula, tornou, mais uma vez, o Rio de Janeiro a capital do futuro, ainda que apenas por algumas horas. Situação semelhante havia ocorrido há três décadas, por ocasião da Rio-92, a conferência climática das Nações Unidas que ficou conhecida como Cúpula da Terra.

Vale destacar que o encontro do G-20 em 2024, sob presidência brasileira, aconteceu justamente quando a globalização apresenta sintomas de esgarçamento, a governança multilateral padece de fadiga de material, a mudança climática revida as agressões da sociedade industrial e a democracia mundial oscila. As guerras na Europa e no Oriente Médio agravam o quadro internacional.

No cenário interno, o Brasil se esforça para encontrar o caminho de recuperação do apagão civilizatório vivido recentemente, cujas recaídas extremistas teimam em mostrar o quanto o país beirou uma paradoxal anarquia autocrática, que também tem acometido outras nações. Persistem ainda nossos desafios históricos nos campos da desigualdade social, criminalidade, competitividade e do meio ambiente.

Tudo isso em um momento em que, no rastro do fim da Guerra Fria, os EUA afrouxaram seu espírito de polícia do mundo, quando usava sua projeção militar nos cinco continentes para garantir os fluxos de comércio em escala global, baseado em alianças como a OTAN, ONU, OMC, União Europeia, ALCA, OEA, amparadas pelo FMI, Banco Mundial, BID e tantas outras agências de cooperação.

A fragmentação geopolítica mundo afora parece irreversível, caminhando para uma nova ordem global, inclusive nas relações do Brasil com o resto do mundo. Merece análise, por exemplo, o veto brasileiro à entrada da Venezuela no BRICS, ao mesmo tempo em que se busca o protagonismo brasileiro em temas socioambientais, como ocorreu no G-20 do Rio e deve se repetir em torno da COP30 de Belém. Note-se ainda os entendimentos assinados com a China em Brasília.

O governo brasileiro demonstra saber que o futuro passa necessariamente pelos temas prioritários tratados da cúpula desta semana: desigualdade social, clima, fortalecimento da ONU e uma OMC orientada pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Nessa linha, além da adesão unânime à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza (que, não por acaso, terá sede na FAO/ONU), outros consensos emblemáticos foram conquistados nessa histórica Declaração de Líderes do G20, como: transição energética, paz mundial, impostos sobre ultrarricos e regras para inteligência artificial.

Foi muito bom que, numa mesma semana, tenha ficado claro – para o mundo – que o Brasil é o país do futuro, assim como tenha ficado claro – para nós brasileiros – que essa posição não será alcançada com negacionismo científico nem atentados às nossas instituições e autoridades democráticas. Não dá mais tempo de passar boiadas e seguir o baile.

 

Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou a assessoria do ministro da Defesa; dirigiu o sistema de estatísticas no ministério da Justiça; membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; ocupa a chefia de gabinete da secretaria-executiva no Ministério do Empreendedorismo.

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