
Processo já é feito por outras técnicas, que são mais caras. Essa é a primeira vez que a análise é realizada utilizando um sistema impresso em 3D, dizem pesquisadores de Araraquara (SP). Pesquisador da Unesp cria tecnologia que identifica presença de formol em leite
Um sistema de baixo custo e baseado em impressão 3D permite detectar a presença de formol no leite e em cosméticos. A inovação é resultado de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara.
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A detecção do formaldeído, mais conhecido como formol, já é feita por outras técnicas, mas são muito mais caras. Essa é a primeira vez que a análise é realizada utilizando um sistema impresso em 3D.
Os pesquisadores pretendem patentear o sistema, mas em um modelo Creative Commons (CC), permitindo que a tecnologia fique acessível à sociedade e possa ser aprimorada por outros pesquisadores.
O formaldeído é prejudicial à saúde se ingerido, inalado ou em contato com a pele. Ele é um produto considerado cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (Iarc).
A substância é adicionada para prolongar a validade ou mascarar a deterioração do produto. O novo dispositivo de análise permite detectar sua presença em pequenas amostras de leite e cosméticos.
O processo é diferente dos métodos tradicionais utilizados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que exigem grandes volumes de material, é complexa, demanda várias etapas e é custosa.
A estrutura impressa em 3D possibilita o preparo da amostra em quantidades reduzidas, tornando o processo mais eficiente e prático.
Gabriel Baroffaldi Piassalonga, desenvolveu pesquisa durante mestrado no Instituto de Química (IQ) em Araraquara
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A pesquisa
O projeto foi desenvolvido por Gabriel Baroffaldi Piassalonga, em sua pesquisa de mestrado no Instituto de Química (IQ). O trabalho foi orientado pelo professor Paulo Clairmont F. de Lima Gomes, também com foco na detecção de formou em amostras de cosméticos.
“Muitos cosméticos são à base de água, o que favorece a proliferação de fungos e bactérias. Nestes casos, substâncias liberadores de formaldeído são adicionadas e atuam como conservantes para evitar a contaminação”, explicou Gabriel.
Em muitos casos, contudo, a presença de formol em cosméticos não é resultado de uma adição intencional. Ocorre que alguns conservantes, ao se degradarem, liberam formaldeído como subproduto, um fenômeno bastante comum, de acordo com os pesquisadores.
Segundo os pesquisadores, embora seja proibido no leite, a presença do formol é permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em cosméticos, porém em quantidades restritas:
até 0,1% em produtos de higiene oral;
0,2% em produtos de higiene não oral;
até 5% em esmaltes com endurecedor de unhas.
Análise é realizada utilizando um sistema impresso em 3D, dizem pesquisadores de Araraquara
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Como o sistema foi desenvolvido
O funcionamento do sistema ocorre da seguinte forma: o formaldeído evapora e atravessa uma membrana de PTFE (politetrafluoretileno), material conhecido como teflon.
Em seguida, um reagente é adicionado, provocando uma reação química que gera uma coloração amarela, cuja intensidade está diretamente relacionada à concentração da substância na amostra.
Na etapa final, a amostra é transferida para uma cubeta de quartzo e analisada por um fotômetro, equipamento que quantifica o formaldeído com base na intensidade da cor gerada.
Quanto mais intensa a coloração, maior a concentração da substância. Isso acontece porque o formaldeído reage com certas substâncias químicas, formando um composto colorido que absorve parte da luz emitida por um LED.
Foco na sustentabilidade
Além de tornar o processo mais acessível, a pesquisa teve um foco na sustentabilidade. Segundo o professor Paulo, a proposta foi reduzir o consumo de reagentes agressivos ao meio ambiente e minimizar custos de fabricação.
“Nosso objetivo foi desenvolver um método de baixo custo e impacto ambiental reduzido. Fizemos uma avaliação da sustentabilidade desse sistema, buscando alternativas mais seguras e acessíveis”, disse.
Proposta de pesquisadores do IQ de Araraquara foi reduzir o consumo de reagentes agressivos ao meio ambiente e minimizar custos de fabricação
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A ideia, segundo os pesquisadores, é que no futuro esse tipo de análise possa ser feito de forma descentralizada, talvez até por consumidores comuns.
“Assim como hoje existem testes para medir o nível de cloro em piscinas, esse sistema poderia, no futuro, permitir que os próprios usuários detectem substâncias como o formaldeído em cosméticos e outros produtos”, explicou o professor.
Seleção das amostras
Para garantir a confiabilidade dos testes, os pesquisadores analisaram diferentes amostras de leite e cosméticos. “O leite foi comprado diretamente no supermercado. Escolhi uma única marca que oferecesse variações do produto, como integral, desnatado e semidesnatado”, explicou Gabriel.
Já para os cosméticos, a equipe seguiu um procedimento semelhante, adquirindo cremes, esmaltes e outros produtos em uma loja especializada.
“Optamos por testar também esmaltes infantis, pois há uma preocupação especial com a segurança desses produtos. No caso dos cremes capilares, analisamos várias amostras, mas a maioria não apresentou formaldeído. Apenas um dos produtos testados teve resultado positivo, e foi nele que concentramos a investigação”, acrescentou o pesquisador.
Nos testes com leite, nenhuma amostra apresentou traços de formaldeído. Para validar o método, os pesquisadores adulteraram propositalmente algumas amostras, simulando contaminações para testar a eficiência do sistema. Já nos cosméticos, a presença de formol foi detectável, mas dentro dos limites estabelecidos pela legislação.
Gabriel Baroffaldi Piassalonga é aluno de mestrado do IQ de Araraquara
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Desafios e perspectivas
Um dos desafios enfrentados no desenvolvimento da pesquisa foi evitar a contaminação das amostras, já que o formaldeído é encontrado em diversos materiais do dia a dia, como móveis planejados, cuja resina contém a substância.
“Foi preciso tomar muito cuidado para garantir que a detecção fosse precisa e não influenciada por outros fatores. Por exemplo, utilizamos filamentos de impressão 3D que não são contaminantes, embora materiais desse tipo possam, em alguns casos, representar uma fonte de interferência. Além disso, mantivemos o laboratório bem ventilado”, explicou Gabriel.
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