Fora do GPS: mais de meio milhão de casas não têm número no ES; moradores ficam sem entregas e serviços


Levantamento do IBGE apontou também que cerca de 50 mil ruas não têm nome no Espírito Santo. Mais de meio milhão de casas do ES não têm número e 50 mil ruas não têm nomes no ES
No Espírito Santo, 565.574 imóveis não possuem número no endereço, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além da dificuldade de localização, a falta de registro representa para os cidadãos que vivem nesses locais perda de acesso a serviços de cidadania e contratempos no dia a dia, como problemas com a entrega de encomendas. No Brasil, são 24,3 milhões de domicílios nessa situação.
Segundo o levantamento, a pior situação no Espírito Santo é a da cidade de Santa Leopoldina, na Região Serrana. Por lá, quase 90% das casas não são numeradas. Já a capital Vitória é a cidade com menos casos de falta de registros números das residências.
Endereços sem numeração no Brasil
Além da falta de número, outro problema enfrentado no estado é a falta de nomes nas ruas. O Espírito Santo tem quase 50 mil ruas sem nome oficial, sendo que no país são 2,7 milhões de endereços nessa situação.
Os dados são do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), realizado pelo IBGE, e foram divulgados em junho de 2024. Foram levantados microdados dos 106.814.877 endereços do país, como o nome do logradouro, número, complemento, tipo de edificação, entre outros, no período abrangido pela coleta do Censo 2022.
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De acordo com o instituto, o endereço também é um indicador de cidadania. Isso significa que a pessoa que vive em um local sem número ou em uma rua sem nome está sofrendo algum tipo de déficit pela não formalização daquele endereço pelo poder público municipal.
O analista do Cadastro Nacional de Endereços para fins estatísticos do IBGE, Felipe Salles, comentou as dificuldades que podem ocorrer.
Mais de meio milhão de casas não têm número no Espírito Santo, cenário comum no município de Santa Leopldina (foto), onde quase 90% das casas estão nessa situação.
TV Gazeta
“A partir do momento que um domicílio não tem o seu número ou uma denominação, e é necessário que haja, por exemplo, um chamado de uma ambulância, da polícia, ou mesmo se uma pesquisa de saúde precisa ir àquela casa, pode ser que o local determinado não seja encontrado. Isso é um impacto para o próprio morador”, disse.
O presidente do Sindicato dos Condutores de Ambulância (Sindconam) do Espírito Santo, Jobson Santana, alerta sobre como a falta de informações interfere no trabalho desempenhado diariamente pelos motoristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
“A agilidade do nosso serviço, chegar mais rápido ou mais devagar, pode fazer a diferença na vida da pessoa que está precisando de atendimento. No caso de uma parada respiratória, por exemplo, cada segundo conta. É uma dificuldade e uma pressão. A gente faz o que pode, vai com GPS, mas ele também não é preciso, deixa uns metros de diferença. A gente pede informação e já vai reforçando a sirene quando entra na rua, para ver se alguém já sai da casa e sinaliza que é ali”, relatou.
Jobson explicou ainda que existe um tempo estipulado para o veículo ficar procurando o endereço no caso de uma ocorrência.
“Se não encontrar entre 10 e 15 minutos depois que já está no local indicado, a ambulância retorna para a base, para não deixar de atender outra ocorrência, pois elas chegam o tempo todo”.
Endereços incompletos dificultam, por exemplo, no atendimento do Samu.
Hélio Filho/Secom-ES
A falta de informações impacta até mesmo nas pesquisas do próprio IBGE, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que monitora o acesso de moradores à alimentação, educação e emprego.
“O cadastro de endereços é a base onde estão todos os domicílios para as pesquisas que fazemos. Existe um quantitativo por mês de entrevistas e, se no momento em que o recenseador vai procurar a residência ele não encontra, se perde uma amostra dessa pesquisa, e você vai ter um quantitativo de domicílios entrevistados menor do que o ideal”, explicou.
Problemas com entregas
Mais de meio milhão de casas não têm número no Espírito Santo, o que dificulta acesso a serviços e entregas.
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Nos últimos cinco anos, os Correios registraram um aumento de quase 80% no segmento de encomendas, que já é responsável pela maior parte do faturamento da empresa no estado. O cenário é reflexo da mudança nos hábitos de consumo e aumento da quantidade de compras feitas pela internet.
Além da dificuldade de acesso a serviços, a falta de endereços também pode atrapalhar na hora de receber algo em casa. O motoboy Alex Batista Cruz trabalha com entregas e comenta os problemas enfrentados diariamente, mesmo com a ajuda da tecnologia.
“Os números não batem, às vezes, a rua não aparece. Se você não conhece o lugar e joga o endereço no GPS, o próprio sistema te conduz para um lugar que não existe”.
Mais de meio milhão de casas não têm número no Espírito Santo, o que dificulta acesso a serviços e entregas.
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A cidade da Serra, na Grande Vitória, é o município mais populoso do estado, e é um dos lugares apontados pelo motoboy onde ele encontra mais dificuldade. Os moradores da Rua Quetzal, no bairro Novo Horizonte, mostram que, às vezes, o problema pode ser a falta de número ou o excesso deles.
A dona de casa Cleusa Dias mora na casa de número 15, mas afirmou que existem outros dois números iguais ao dela na mesma rua. O esposo dela, por exemplo, já teve um documento entregue em outra casa.
“Só aqui na minha rua tem três números 15. Às vezes, alguém vem fazer entregas aqui e eu aviso que é mais pra lá, que aqui eu não fiz pedido nenhum. Ou ao contrário, as nossas coisas vão para outro lugar. O vizinho de lá que conhece a gente, veio aqui e entregou. Se não fosse isso, tinha desaparecido”, falou.
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“São” e “Santa”
O levantamento também constatou algumas curiosidades comuns às ruas de todo o país. Por exemplo, 3,3 milhões de endereços em logradouros cujo nome tem a palavra “São” ou “Santa”, como a Rua São Pedro, no bairro Maria Ortiz, Vitória, e a Rua Santa Catarina, em Itapuã, Vila Velha.
Além disso, existem 171,7 mil endereços em logradouros cujo nome tem a palavra “Brasil”, como a Rua Brasil, em Carapina, na Serra.
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