Delator do PCC ligou para advogado ao pousar em SP e foi avisado que carro estava com problema, disse namorada à polícia


Maria Helena prestou depoimento na madrugada do sábado (9). Ela disse ter ouvido conversa de Antônio Vinicius Gritzbach com o advogado. O casal, que se conheceu pelo Instagram, namorou cerca de um ano e meio. Vinicius Lopes Gritzbach foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no dia 8 de novembro de 2024
Polícia Civil/Divulgação
O empresário Antônio Vinicius Gritzbach, delator do PCC que foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo na sexta-feira (8), soube que o carro que faria sua escolta estava com problemas mecânicos quando pousou em Guarulhos e ligou para o advogado.
A informação foi dada pela namorada de Gritzbach, Maria Helena Antunes, em depoimento obtido pela TV Globo que foi concedido por ela à polícia na madrugada do sábado (9).
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Gritzbach era delator da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele foi morto após desembarcar no Terminal 2.
Maria Helena, de 29 anos, afirmou que usavam mais a Amarok, por ter blindagem nível 5, do que a Trailblazer, que também os aguardavam no aeroporto, mas tinha blindagem nível 3. Segundo ela, todos ficaram juntos no desembarque, aguardando a chegada das bagagens.
Quando saíram do aeroporto e seguiam em direção ao estacionamento, Gritzbach estava alguns passos à frente dela, quando começou a ouvir diversos disparos em direção ao namorado, e o viu cair.
Ela afirmou não ter visto de onde partiram os tiros e, assim como outras pessoas, correu para se abrigar das balas.
Maria Helena relatou também que saiu do aeroporto em um táxi para o bairro do Tatuapé, na Zona Leste da capital paulista, com o soldado Samuel Tillvitz da Luz, que era um dos cinco seguranças do namorado e estava com o casal no voo.
Eles iriam para a casa de Gritzbach , mas, no caminho, Maria Helena erecebeu uma ligação da ex-mulher do delator do PCC e mudaram de local, tendo seguido para a residência de um amigo da família, Alexandre Almeida.
Polícia suspeita que PCC monitorou voo de delator executado em SP e vai analisar lista de passageiros
No mesmo depoimento, ela afirmou que o casal jantava na noite de quarta (6), ainda em Alagoas, quando Gritzbach comentou que desconfiava que estava sendo seguido. Ele teria dito ter visto um homem parecido com alguém que o ameaçava, mas não deu certeza, já que a pessoa a que ele se referia fumava muito, e a figura vista em São Miguel não estava com cigarros.
Ainda no depoimento, ela disse que os dois se conheceram pelo Instagram e em pouco tempo começaram a namorar. O relacionamento durou cerca de um ano e meio, até o dia em que Gritzbach foi executado.
Durante o relacionamento, ela afirmou que o namorado recebia ameaças de morte por “mensagem eletrônica”.
Investigação
Delator do PCC pode ter sido monitorado em voo que veio de Maceió
A investigação que apura os motivos da execução vai incluir uma análise minuciosa da lista de passageiros do voo que o trouxe de Maceió para São Paulo.
Em troca de informações entre Polícia Federal (PF), Polícia Civil e promotores criminais, foi levantada a possibilidade de investigar a existência de um “olheiro” do PCC no voo, segundo investigadores. Há uma suspeita consistente, com base em informações de inteligência, de que a facção criminosa vinha monitorando os passos de Gritzbach na capital alagoana e no trajeto de volta.
Por isso, os investigadores planejam verificar cada um dos passageiros que embarcaram no voo de Maceió para o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Os investigadores não descartam a possibilidade de um integrante do PCC estar no avião no retorno do delator, executando a função de apoio e observando sua movimentação. Assim, ele conseguiria certificar que Gritzbach chegou em Guarulhos e conseguiria saber, especialmente, o momento exato em que ele saiu do Terminal 2, onde foi executado com 10 tiros.
A polícia acredita que a emboscada foi planejada e executada em detalhes para dar certo.
A força-tarefa também pediu apoio para a polícia alagoana. Uma equipe do setor de inteligência está cooperando com as investigações e refazendo os trajetos, locais visitados e pessoas que Gritzbach encontrou no estado. Imagens de câmeras de segurança, de trânsito, da orla, de hotéis também serão analisadas. A lista de solicitações na cooperação é extensa.
Gritzbach delatou PCC e policiais
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi morto na sexta-feira (8) no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais
Gritzbach, de 38 anos, foi executado à luz do dia (por volta das 16h) na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de SP, em Guarulhos, por dois homens mascarados que desceram de um carro preto. Até a publicação desta reportagem, ninguém foi preso.
Na bagagem, ele levava mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor. Segundo fontes da polícia, ele tinha ido à capital alagoana cobrar uma dívida.
Nenhum dos quatro policiais militares contratados como seguranças particulares estava com ele no momento do assassinato. Segundo depoimento deles à polícia, um dos carros que iriam buscá-lo no aeroporto teve um problema na ignição e o outro teve de fazer meia volta para deixar um dos ocupantes em um posto de combustível.
Investigadores desconfiam dessa versão (leia mais). Uma das linhas de investigação é que os seguranças teriam falhado de forma proposital.
Gritzbach era investigado por envolvimento com o PCC e, em março, havia fechado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo com a promessa de entregar esquemas do crime organizado e de policiais.
Nos depoimentos, o delator acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de exigir dinheiro para não o implicar no assassinato de um integrante da facção (Anselmo Santa, o Cara Preta).
Além disso, Gritzbach forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalharam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Nesta terça-feira (12), a força-tarefa criada pelo governo de São Paulo afastou oito policiais militares investigados por suspeita de envolvimento na execução do delator. Antes do crime, os PMs eram investigados pela Corregedoria da corporação por denúncias de que faziam a segurança particular de Gritzbach. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso.
Em entrevista à GloboNews, o promotor do Gaeco, Lincoln Gakiya, que participou das negociações da delação premiada confirmou que o delator se recusou a entrar no programa de proteção oferecido pelo MP.
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