Com disparada do dólar e dúvidas sobre contas públicas, BC deve acelerar ritmo de alta e subir juro para 11,25% ao ano, prevê mercado


Decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central será anunciada depois das 18h. Se confirmada, essa será maior elevação dos juros básicos da economia desde maio de 2022, ou seja, em dois anos e meio. Banco Central deve subir os juros pela segunda vez consecutiva nesta semana.
Raphael Ribeiro/BCB
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira (6) e deve acelerar o ritmo de elevação dos juros básicos da economia. A decisão será anunciada após as 18h.
De acordo com projeção do mercado financeiro, a Selic deve subir de 10,75% para 11,25% ao ano, uma elevação de 0,5 ponto percentual. Se confirmado, esse será o segundo aumento seguido, e o maior desde maio de 2022, ou seja, em dois anos e meio.
A decisão do Copom sobre o patamar da taxa de juros ocorre em meio à forte alta do dólar, que acumulou aumento, em 2024, de 19,2% até segunda-feira (4) – cotado a R$ 5,78. Segundo analistas, esse é mais um fator a pressionar a inflação.
De maneira geral, a taxa de câmbio pode ter influência nos preços domésticos em diferentes frentes, como por meio da importação de produtos e insumos ou mesmo pela equiparação dos preços praticados no Brasil com o mercado internacional.
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Eleições americanas
A pressão sobre o dólar, por sua vez, decorre de fatores externos, como as eleições nos Estados Unidos, e internos — a dúvida dos investidores sobre o ajuste das contas públicas.
A eleição nos EUA, segundo analistas, tem o potencial de pressionar ainda mais a moeda norte-americana no caso de vitória do candidato republicano Donald Trump, que promete medidas protecionistas para frear as importações — resultado no menor ingresso de divisas no Brasil.
No campo doméstico, o mercado aguarda, reticente, a equipe econômica finalizar e anunciar propostas de cortes de gastos. O objetivo é manter de pé o arcabouço fiscal, a regra atual para as contas públicas — sem a qual cresce a percepção descontrole fiscal e alta maior no endividamento.
O Banco Central também tem citado o aumento de gastos públicos com um fator que pressiona a inflação, juntamente com atividade econômica em alta e um mercado de trabalho aquecido.
“Diante de um cenário ainda desafiador, com taxa de câmbio em nível mais depreciado do que na reunião anterior, mercado de trabalho apertado, e núcleos de inflação e expectativas ainda acima da meta, as autoridades devem julgar apropriado este aumento do ritmo [de alta do juro], avançando mais rapidamente em território contracionista”, avaliou o Itaú, em comunicado.
Como as decisões são tomadas
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
Neste momento, a instituição já está mirando na meta considerando o próximo ano, e o primeiro semestre de 2026.
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 4,59% (acima do teto da meta anual) e, a de 2025, 4,03%, e de 3,61% em 2026.
Em setembro, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em 4,3% em 2024, 3,7% em 2025 e 3,3% em 2026.
Efeitos na economia
De acordo com especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Veja abaixo algumas delas:
▶️ Reflexo nos juros bancários: a tendência é que a alta da queda da Selic influencie as taxas cobradas dos clientes bancários. Em setembro, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas somou 39,9% ao ano, o maior nível desde junho de 2024 (40% ao ano).
▶️Crescimento da economia: com juros mais altos, a expectativa é de um comportamento mais contido do consumo da população e, também, de mais dificuldades aos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Nos últimos meses, porém, os dados de atividade têm surpreendido positivamente.
▶️ Piora das contas públicas: juros mais altos também desfavorecem as contas públicas, pois aumentam as despesas com juros da dívida pública. Em doze meses, até agosto de 2024, a despesa com juros somou R$ 854 bilhões (7,55% do PIB).
▶️Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, terão um rendimento maior, com o passar do tempo, do que seria registrado com juros mais baixos. Isso pode contribuir para diminuir a atratividade do mercado acionário.

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