Sururote: o dinheiro social que aumentou poder de compra de marisqueiras em Maceió


Necessidade de auxílio financeiro para mulheres que atuavam em um projeto de reaproveitamento das cascas do sururu, molusco tradicional na capital alagoana, levou à criação da moeda fictícia que é aceita em mais de 50 estabelecimentos comerciais no bairro. Sururote: entenda como funciona moeda que criou uma economia circular em bairro de Maceió
Já imaginou usar dinheiro parecido com o do ‘Banco Imobiliário’ para fazer suas compras no supermercado? Isso existe e acontece no bairro do Vergel, em Maceió. O Sururote vem movimentando a economia local e proporcionando uma melhor condição de vida para as marisqueiras da Lagoa Mundaú. (Veja mais abaixo como funciona)
Em 2019, nascia o Projeto Sururu, que tinha como objetivo aproveitar as cascas do marisco, reduzir o impacto do descarte desses resíduos e gerar um resultado econômico a partir disso. Entretanto, com o início do projeto surgiu uma necessidade de auxílio e direcionamento financeiro para as marisqueiras que estavam lidando com essa reforma em sua economia e precisavam se dedicar ao projeto.
Até então, o ciclo do sururu acabava na venda da carne do marisco. Mas agora se estende até o aproveitamento da casca, que serve para a fabricação de materiais de construção, como o Cobogó Mundaú.
A moeda social criada para fazer girar a economia local foi batizada de Sururote, que é equivalente ao real, mas só é aceita em estabelecimentos cadastrados. E a instituição financeira responsável por essa economia é o Banco Laguna, idealizado pelo Instituto Mandaver, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos que surgiu como uma parceria público-privada e hoje se autossustenta com os lucros gerados pelos produtos da casca do sururu.
O banco, desde o início contou com o apadrinhamento das marisqueiras, peças fundamentais nesta economia circular, que ajudaram na escolha do nome, das cédulas e de suas ilustrações.
Moeda social tem ilustrações pensadas pelas Marisqueiras
Reprodução/Banco Laguna
Mesmo sendo idealizada em 2019, a moeda só começou a girar em 2021. O funcionamento da moeda é bem simples:
Após realizar toda a limpeza do sururu e separar a carne da casca, essas conchas são postas para secar e passam por uma segunda limpeza, em que as marisqueiras garantem que resíduos indesejados não estejam mais presentes.
O segundo passo é ensacar e levar essas cascas para a fábrica da IABS (também chamada de entreposto), onde essas conchas são pesadas e trocadas por recibos com o peso da quantidade deixada.
É nesse momento que o banco entra. No mesmo dia em que a IABS anuncia o recebimento de cascas, o banco abre atendimento para a troca dos recibos, que são revertidos em Sururotes, a moeda social do Vergel.
Um Sururote equivale ao valor de um Real e é oficialmente aceito em aproximadamente 50 estabelecimentos no bairro, todos cadastrados no Banco Laguna.
As marisqueiras cadastradas no programa podem usar a moeda em diversos estabelecimentos cadastrados no banco laguna, desde supermercados até salões de beleza. Em entrevista ao g1 a presidente do banco, Lisania Pereira, contou quais foram os critérios para os primeiros estabelecimentos cadastrados:
‘’De acordo com pesquisas, essas mulheres que trabalhavam com o marisco contavam com uma renda entre R$ 350 e 400, por isso a prioridade foi a segurança alimentar. À medida que essas mulheres foram aumentando a produtividade dentro do programa, nós fomos entendendo outras prioridades como farmácia e estética.’’
Banco Laguna na Lagoa Mundaú Instituto mandaver
Cortesia/Portobello
Mudança na economia do bairro 💰
Assim como toda economia circular, a moeda não para apenas nos pontos cadastrados, isso porque muitos comerciantes acabam aceitando a moeda mesmo sem ter cadastro, já que também conseguem usá-la na compra de suprimentos de uso próprio.
Mas para trocar o Sururote por real é preciso estar cadastrado no Banco Laguna, que faz atendimento individualizado em dia e horário combinado com o próprio comerciante.
A Verônica, uma das comerciantes que aceita a moeda no bairro, comemora a implantação do projeto e diz que o Sururote alavancou as suas vendas.
“Foi uma parceria bem gostosa pra gente. O Sururote é algo inovador, colocou a gente em casas que nem imaginávamos entrar. Essa criação da moeda veio para acrescentar, tanto pros empresários, quanto para as marisqueiras que usam a moeda.”
O gás entregue pela Verônica é só uma das várias novas contas essenciais que muitas marisqueiras passaram a ter com a entrega de novas moradias. Isso porque muitas delas quando habitavam moradias irregulares não tinham custos com água, luz, gás ou internet; encontrando na moeda e na venda das cascas um novo começo.
Empreendedora Veronica comenta impacto do sururote nos negócios
*Sob supervisão de Michelle Farias e Vivi Leão.
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