Vacina promete tratamento individualizado a quem retirou câncer de próstata; Inca vai traçar o perfil genético do tumor no Brasil

O câncer de próstata é o tipo de tumor mais frequente entre os homens, depois do câncer de pele, e mata mais de 16 mil pessoas por ano no Brasil. Pesquisas para tratamento de câncer de próstata avançam no Brasil
O mundo do ex-policial militar Marcos, de 61 anos, e sua esposa Cristiana desabou quando exames revelaram, há dois anos, que ele tinha câncer de próstata.
O câncer de próstata afeta a glândula localizada abaixo da bexiga e que envolve a uretra. É o tipo de tumor mais frequente entre os homens, depois do câncer de pele. Segundo dados do INCA, mata mais de 16 mil pessoas por ano no Brasil.
Os médicos avaliaram que no caso do Marcos a doença não era grave, que ele poderia ser acompanhado sem necessidade de cirurgia, quimio ou radioterapia. Mas depois de dois anos, um exame de sangue detectou que o PSA – marcador da próstata usado para o diagnóstico da doença – voltou a subir. E o ex-PM foi encaminhado para uma nova biopsia. O procedimento é necessário para confirmar a existência da doença.
A mesma esperança dos pacientes move a comunidade científica. Pesquisadores brasileiros têm avançado no conhecimento da doença.
Depois de 25 anos de estudos no Brasil, uma vacina contra o câncer de próstata, criada pelo médico gaúcho Fernando Kreutz, começou esta semana a ser testada nos Estados Unidos.
“Isso é um passo bastante inusitado para a nossa história do Brasil como um desenvolvedor de ciência. A gente poder estar contribuindo efetivamente para dispor um novo tipo de terapia para os pacientes”, afirma o médico.
No Instituto Nacional do Câncer no Rio, outra pesquisa é liderada pela equipe do doutor Franz Campos.
“A genética do homem brasileiro é que está sendo estudada e que nós vamos estudar nos próximos três anos”, explica Campos.
Desde 2018, o Inca realizou mais de 10 mil biopsias em pacientes como o Marcos. O projeto teve início a partir desse banco de informações.
E os dados compilados nesses últimos seis anos surpreenderam os médicos. É que de acordo com padrões internacionais, cerca de 30% dos casos de câncer de próstata são de alto grau, ou seja, mais agressivos. Mas no Inca, a média de tumores de alto grau é quase duas vezes maior, 59%, fazendo com que se entenda que a patologia do câncer de próstata do brasileiro talvez seja diferente do que a gente conhece dos padrões internacionais, explica Dr. Fran.
Como a doença se comporta no Brasil? Essa é a principal pergunta da pesquisa.
Os laboratórios têm equipamentos de ponta que vão analisar o material genético que vai ser coletado de 980 pacientes pelos próximos três anos.
“Esses dados também são coletados para fazer um grande banco de dados onde nós cruzamos a característica genética, os dados clínicos e os dados sociais desses pacientes. Podemos identificar fatores que possam estar associados ao desenvolvimento dos tumores e também identificar marcadores que possam definir tratamento”, diz João Viola, coordenador de pesquisa e Inovação do Inca.
Com a pesquisa, os médicos vão tentar entender também se o estilo de vida da nossa população pode, de alguma forma, impactar no desenvolvimento da doença. No futuro, o estudo pode ajudar a definir um tratamento mais eficaz para cada paciente.
“A pesquisa genética caminha para isso. Nós precisamos ter mais assertividade no nosso diagnóstico”, diz Dr. Fran.
A vacina do doutor Fernando também promete tratamento individualizado para pacientes que realizaram a cirurgia de retirada do câncer de próstata.
“Mesmo fazendo a cirurgia, nós temos muitos pacientes que acabam fazendo a recorrência da doença. E onde é que esse tratamento entra? Ele entra justamente para prevenir, para diminuir a chance de haver recorrência”, afirma o Dr. Fernando.
A vacina funciona assim: fragmentos do tumor do paciente são retirados durante a cirurgia. As células cancerígenas são expandidas e modificadas em laboratório. E depois utilizadas para ativar o sistema imunológico do próprio paciente.
“Os pacientes ganharam 27 meses sem recorrência da doença. Isso do ponto de vista do paciente, da família, do sistema de saúde, tem um enorme impacto”, diz Kreutz.
Se tudo der certo, a agência americana que controla medicamentos (FDA) deve autorizar o registro da vacina brasileira dentro de dois anos.
As duas pesquisas podem ajudar a beneficiar milhares de pacientes nos próximos anos.
A expectativa é que os casos de câncer de próstata devem dobrar até 2040, podendo chegar, no Brasil, a 150 mil casos por ano.
Kreutz diz que o grande segredo é o diagnóstico precoce, antes dos sintomas. “Se faz uma conversa com o urologista, a partir de 50 anos, para ele ver, avaliar vínculo familiar, etnia e idade”, explica o médico.
Dias depois da segunda biópsia, o Marcos voltou ao Inca para buscar o resultado.
“Não tem nenhuma presença de doença em atividade. Você vai continuar em vigilância ativa aqui no Instituto do Câncer, com controle semestral e vida que segue”, explicou o médico a Marcos.
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