Uma eleição com poucas surpresas. A não ser que o acaso faça das suas

Nas últimas pesquisas Datafolha e Quaest, 10 pontos percentuais dos votos válidos separam Ricardo Nunes (MDB) de Guilherme Boulos (PSOL). Cada voto válido significa dois – um que se subtrai ao adversário, outro que se ganha. Se Boulos tomasse 5% dos votos de Nunes e não perdesse nenhum, empataria com ele.

É possível? Matematicamente, sim. Provável? Não. A entender-se as pesquisas como retratos tirados numa sequência, elas revelam uma grande estabilidade. Em São Paulo, onde o Datafolha realizou quatro pesquisas no segundo turno, Nunes começou com 55% das intenções de voto, caiu para 51%, para 49% e para 48%.

Boulos praticamente não saiu do lugar: 33%, depois 33%, 35% e 37%. Descontados os votos nulos e brancos, Nunes chegou na véspera da eleição com 57% das intenções de votos válidos, e Boulos, 43%. Elege-se o que obtiver 50% mais um dos votos válidos. Há dois anos, Lula venceu Bolsonaro por 50,9% a 49,1%.

O favoritismo de Nunes se deve ao fato de que ele captou 83% do apoio do eleitorado bolsonarista, enquanto Boulos só atraiu 65% do eleitorado lulista. Lula entrou de cabeça na campanha de Boulos desde o primeiro. Bolsonaro fingiu apoiar Nunes no primeiro e o apoiou timidamente no segundo.

A estabilidade revelada pelas pesquisas no segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo repetiu-se na maioria das capitais que voltarão às urnas. Em 17 de outubro, Sandro Mabel (União Brasil) aparecia em Goiânia com 46% das intenções de voto e  oscilou para 48%; Fred Rodrigues (PL), 39%, e agora 38%.

A Quaest dá por empatadas as eleições em Fortaleza e em Manaus. Em Fortaleza, André Fernandes (PL) tinha 43%, oscilou para 42%, agora 44%; Evandro Leitão (PT), 43%, 44% e manteve os 44%. Em Manaus, David Almeida (AVANTE) tinha 43% e segue com 43%; Capitão Alberto Neto (PL), 41% e 42%.

É voz corrente que o segundo turno é uma nova eleição. A voz corrente está errada. Os presidentes eleitos no segundo turno terminaram o primeiro na frente. Em relação aos governos estaduais, apenas 20 candidatos reverteram o resultado do primeiro turno e se elegeram no segundo (24% do total de casos)

Nas eleições para prefeitos de capitais, o resultado do primeiro turno só foi revertido 15 vezes (16% do total de casos), segundo levantamento feito por Camila Xavier. Em São Paulo, virada só houve uma vez, em 2012, quando Fernando Haddad (PT) derrotou José Serra (PSDB) que fora o mais votado no primeiro turno.

Adeus surpresas, portanto? Não. O acaso faz das suas. Há dois anos, apoiada por Lula, a deputada federal Marília Arraes tinha tudo para se eleger governadora de Pernambuco no primeiro turno, à larga distância de Raquel Lira (PSDB), prefeita de Caruaru. Ainda por cima, Marília estava grávida.

Na manhã do dia da eleição, o empresário Fernando Lucena, marido de Raquel, morreu de mal súbito no seu apartamento do Recife. A notícia espalhou-se e, abertas as urnas, Marília apareceu com 23,9% dos votos, e Raquel, com 20,6%. No segundo turno, por 58,7% a 41,3%, Raquel derrotou Marília, e reconheceu:

– Pernambuco me pôs no colo.

Raquel é a primeira mulher a governar Pernambuco. Eleita naquele ano, Teresa Leitão (PT) é a primeira senadora.

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