Solo impermeabilizado, estrutura antiga e mudanças climáticas: veja motivos para colapsos de córregos e alagamentos em Campinas


Chuvas intensas em pouco espaço de tempo, em áreas onde o solo não consegue absorver tanta água, sobrecarregam as linhas de drenagem na cidade. Professora da Unicamp defende ampliação de áreas de jardins nas residências. O temporal que atingiu Campinas (SP) na noite de quinta (25) reproduziu cenas trágicas, com alagamentos e mortes em ruas e avenidas. Um problema que diante das mudanças climáticas e da atual estrutura da metrópole, com solo impermeabilizado e galerias antigas, pode se agravar nos próximos anos.
“Esses alagamentos que ocorrem na Princesa d’Oeste, Norte-Sul e Orosimbo Maia se dão por conta de uma quantidade muito grande de chuva que cai em muito pouco tempo. A média histórica para outubro em Campinas é de 110 milímetros. Nas últimas 12 horas, choveu 80mm, ou seja, quase a totalidade do mês inteiro caiu em muito pouco tempo”, destacou Ernesto Paulella, secretário de Serviços Públicos.
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Segundo Paulella, a região foi muito impermeabilizada, com muitas áreas asfaltadas, onde praticamente não há infiltração da água no subsolo, e toda a água da chuva corre para os canais, formados por galerias antigas, projetadas para a média histórica.
“As redes não suportam essa quantidade de água no período muito pequeno, por isso o alagamento”, diz o secretário.
Gabriela Celani, professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, enfatiza o cenário de mudanças climáticas agrava um problema que já existia.
“Não tem como negar que a gente está vivendo um período de mudanças climáticas extremas. O padrão de chuvas se alterou claramente nos últimos anos. Em vez de chuvas mais distribuidas ao longo do ano, elas estão se concentrando em pequenos períodos, e agrava um problema que já existia. Não tem como um córrego dar vazão a uma chuva tão intensa em tão pouco tempo”, explica.
Assim como o secretário municipal, a professora da Unicamp destaca a questão da impermeabilização do solo como um agravante para os alagamentos.
“Antes de a cidade estar aqui, esse solo tinha uma cobertura vegetal, ele podia receber essa chuva e absorver, impedindo que grande parte dela se dirigisse rapidamente às linhas de drenagem, que são os córregos”, detalha Gabriela.
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Arquivo pessoal
Como resolver?
Para Gabriela Celani, são duas opções para resolver o problema: aumentar área de impermeabilidade do solo, para que ele seja capaz de absorver mais água, ou criar áreas de retenção da água, para retardar o tempo para ela chegar aos córregos.
“Isso pode ser feito em pequena, média ou grande escala. Em grande escala, são os grandes piscinões, em concreto, no subsolo, que geralmente demandam muito recurso, e nem sempre são viáveis. E uma coisa que pode ser feito por qualquer dono de um lote, de uma casa, que é aumentar a área de permeabilidade do seu próprio jardim”, defende a professora.
De acordo com a Prefeitura, as obras de piscinões, o primeiro deles em andamento, devem amenizar os impactos na região do ribeirão Anhumas, que provoca os alagamentos entre as avenidas Princesa d’Oeste, Norte-Sul e Orosimbo Maia – a entrega é prevista para 2026.
“Esse piscinão representa 80% do problema de inundação da Princesa e Norte-Sul. A conclusão é prevista para 2 anos. Até lá nós viveremos, infelizmente, essa situação”, disse Paulella.
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Já na região da Vila Industrial, onde a jovem Sara Gabrielly, de 18 anos, foi arrastada pela água, o secretário disse que a administração realiza estudos e não tem prazo para obras que solucionem o problema.
“É algo a médio e longo prazo, não são obras de curto prazo. Primeiro, pela obra, complicada estruturalmente. E depois pelo custo. O que é importante é que as pessoas evitem esses locais em dias de chuva. Evitar esses locais é muito importante para que não ocorram mais essas mortes”, disse Paulella.
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Desaparecimentos
Duas pessoas desapareceram após serem arrastadas pela enxurrada à noite durante o temporal, uma delas teve o corpo encontrado pelos bombeiros. Veja o detalhamento:
Jair Samuel da Silva Oliveira Marques, de 22 anos: desapareceu na Vila Formosa. Segundo um familiar, o rapaz estava dentro de um bueiro, onde “mexia com entorpecentes”, quando foi surpreendido pelo grande volume de água. O corpo dele foi encontrado no início da tarde desta sexta-feira (25).
Sara Gabrielly de Souza, de 18 anos: desapareceu na Avenida Sylvio Moro, na Vila Industrial, após ser arrastada pela enxurrada. Segundo a família, ela voltava do trabalho de carro quando foi surpreendida pelo temporal. Até às 14h desta sexta-feira, os bombeiros seguiam com as buscas.
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