‘Mochila’ indígena causa frisson na ‘Zona Verde’ da COP16

A ministra colombiana de Meio Ambiente e presidenta da COP16, Susana Muhamad (C), usa uma mochila enquanto fala com líderes indígenas na Zona Verde da Cúpula COP16 em Cali, Colômbia, em 22 de outubro de 2024JOAQUIN SARMIENTO

JOAQUIN SARMIENTO

Trata-se de um acessório comum na Colômbia, mas que se popularizou na “Zona Verde” da COP16, em Cali: a “mochila”, bolsa artesanal tecida por indígenas, encanta cada vez mais os participantes da reunião de cúpula mundial sobre a biodiversidade.

“É muito prática e o desenho é bacana”, diz Mark Ekson, delegado estrangeiro na COP, enquanto aponta para sua pequena bolsa preta com listras amarelas tecida em lã. “Não ficaria surpreso se a mochila virasse uma das sensações da COP16.”

A depender da etnia que as tece, mudam as cores e os simbólicos desenhos geométricos das bolsas, feitas à mão em comunidades como Wayuu, Aruhaca, Kamsa, entre outras.

Embora se mantenha relativamente discreta no centro de conferências onde são realizadas as negociações na “Zona Azul”, a mochila é onipresente na “Zona Verde”, no centro de Cali, frequentada diariamente por milhares de participantes da reunião da cúpula da ONU e curiosos. Dezenas de lojas de artesanato e comunidades indígenas as vendem ao público.

“Todos as querem, todos compram de nós! Colombianos, obviamente, mas também estrangeiros. São tão bonitas e práticas”, diz, sorridente, Diana Imbachin, em um dos postos da Organização Nacional Indígena da Colômbia. “É quase que para a vida toda”, explica, ao lado da Maloca (oca coletiva) dos povos amazônicos erguida especialmente para a ocasião, um dos locais mais animados e coloridos da “Zona Verde”.

Os indígenas são os protagonistas da COP16, a convite do governo do presidente Gustavo Petro. Sua gestão tem destacado seus conhecimentos ancestrais sobre o cuidado do planeta perante os representantes dos 196 países reunidos em Cali até 1º de novembro.

– Cada mochila, uma história –

“É linda, não estraga. Eu tenho a minha há anos. Não vem da minha região, mas temos que manter essa tradição e ajudar as comunidades que as produzem”, diz Sofía Riva, uma afro-colombiana vinda do Chocó (noroeste).

As mochilas colombianas são procedentes, sobretudo, de duas regiões do norte e nordeste da Colômbia, explica Dayana Hernández, vendedora em outro posto: Serra Nevada – cadeia montanhosa que entra pelo Mar do Caribe – e Guajira, área quase desértica na fronteira com a Venezuela.

“Tanto a técnica quanto o tempo de produção variam segundo a etnia”, explica Dayana. Algumas levam meses para serem tecidas. “Para nós, os wayuu de Guajira, tecer uma mochila leva até duas semanas. Cada família tem suas especificidades. Eu aprendi com a minha mãe e as minhas avós”, conta.

Com desenhos mais sóbrios, as mochilas da Serra Nevada são confeccionadas com fios de lã de cordeiro pelos povos arhuaco e kankuamo. Os preços variam entre US$ 20 e US$ 120 (R$ 114 e R$ 684), a depender da delicadeza da costura.

“Cada mochila tem sua própria história. Uma mochila diz algo sobre você”, afirma Jaime Chindoy, que veio das montanhas de Putumayo (sul), na fronteira com o Equador, para vender suas mochilas, elegantes confeccionadas pelo povo Kamsa. “Nossas mochilas têm uma carga energética, são mágicas, ajudam a harmonizar”, garante.

“Os estrangeiros se apaixonam por nossas mochilas. Cada uma é única, como um relógio de luxo. Porém, são mais ecológicas e melhores para o planeta”, explica José Carrillo, 35 anos.

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