Delegado preso por extorquir empresários usou celular dentro de presídio para mandar ameaçar vítimas, diz Gaeco


José Clésio de Oliveira Filho pedia que um amigo, preso nesta sexta-feira, coagisse testemunhas a mentir para a Justiça. Comparsa foi preso. O delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho, do 1º Distrito Policial de Indaiatuba
Gustavo Biano/EPTV
O delegado José Clésio de Oliveira Filho, preso após ser apontado como chefe de uma organização criminosa que inventava crimes para extorquir empresários em Indaiatuba (SP), foi alvo de um novo mandado de prisão preventiva nesta sexta-feira (25).
De acordo com informações do Gaeco e da Polícia Militar, promotores descobriram que o investigado, que está atualmente em um presídio da Polícia Civil, usou um celular para telefonar a um amigo, dono de uma loja de carros, pedindo que ameaçasse suas vítimas para coagi-las a mentir em juízo.
Segundo a Promotoria de Justiça, “os alvos estão ameaçando vítimas e obstruindo a Justiça para favorecer integrantes de organização criminosa que são réus e estão presos, liderados por delegado de polícia que atuava na cidade”.
Com isso, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) determinou a nova prisão preventiva do delegado e do suposto amigo, que foi levado ao Distrito Policial de Indaiatuba. Mandados de busca e apreensão também foram cumpridos e uma arma de fogo foi encontrada com o comparsa.
Relembre o caso
Esquema montado por policiais e agentes públicos cobrava propina milionária de empresários
As ações desta sexta integram a segunda fase da Operação Chicago. Ao todo, de acordo com informações divulgadas em abril pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, 13 dos 14 investigados estavam presos preventivamente por tempo indeterminado.
A investigação apontou que o grupo criminoso mantinha, no 1º Distrito Policial uma “sala de extorsão”, onde pessoas detidas eram ameaçadas a responder por crimes que não cometeram caso não pagassem propina. O MP concluiu que o valor da extorsão chegava a R$ 10 milhões.
O caso veio à tona no dia 26 de março, quando uma operação do Gaeco prendeu os envolvidos. A Promotoria agora aguarda a decisão da Justiça para saber se a denúncia será ou não aceita.
Denúncia
Na época, além de pedir a prisão preventiva, o Ministério Público apresentou acusação formal contra 13 dos 14 investigados na operação. A Justiça, no entanto, abriu prazo para defesa prévia dos acusados antes de decidir sobre o recebimento da denúncia.
Segundo a Promotoria, os crimes aos quais os investigados foram denunciados são:
Organização criminosa
Roubos
Extorsão com restrição da liberdade das vítimas
Corrupção
Furto
Ainda de acordo com o MP, nem todos os investigados respondem por todos os crimes. Os advogados, por exemplo, foram denunciados por organização criminosa e extorsão. Já os policiais civis vão responder por todas as acusações, caso a denúncia da Promotoria seja aceita pela Justiça.
A única exceção entre os investigados é José Abel Von Ah, fiscal da prefeitura que foi alvo de mandado de busca e apreensão à época da operação. Ele não foi denunciado porque o MP ainda quer aprofundar a participação dele no esquema.
Dez investigados da Operação Chicago tiveram a prisão preventiva decretada
Reprodução
Suspeito de chefiar
Segundo o Ministério Público, o delegado-titular do 1º Distrito Policial, José Clésio Silva de Oliveira Filho, é o suspeito de chefiar o esquema criminoso que extorquia dinheiro de empresários em Indaiatuba (SP).
“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou na terça Paulo Carolis, promotor do Gaeco.
Células de atuação
Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa.
Os promotores de Justiça afirmam que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação:
Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.
Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.
Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.
Invasão de comércios e fabricação de inquéritos
De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.
Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões, totalizando ao menos R$ 10 milhões.
Chicago
O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”.
Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.
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