HÁ VINTE ANOS – Sugestão de nota a ser divulgada um dia pelo PT

Por todas as razões exaustivamente discutidas, não dá para alterar a política econômica herdada do governo anterior. À luz do que ocorre em outras partes do mundo, a política é essa mesma, e não percamos mais tempo com debates estéreis.

Também não dá para se aferrar a purismos de outrora quando se recusava determinadas alianças por julgá-las espúrias. Só se alcança o poder por meio de golpe, revolução ou eleição. Só se ganha eleição por meio de alianças. E uma vez no poder, só é possível conservá-lo preservando as alianças que garantiram a vitória ou então promovendo outras. Há que se tapar o nariz, fazer todas as concessões possíveis e seguir em frente. Justamente por isso, não dá para tolerar a indisciplina interna.

O confronto acirrado de ideias é permitido no partido até que as instâncias mais elevadas tomem uma decisão final. A decisão deve ser respeitada mesmo por aqueles que em sã consciência discordem dela. Que a ética, valores e princípios se submetam aos interesses coletivos.

Não dá para ficar lembrando, e lembrando teimosamente compromissos passados. O realismo sugere postura distinta. Seria muito bom que se pudesse, por exemplo, abrir os arquivos da ditadura para se buscar ali respostas às interrogações das famílias que perderam parentes ou que pedem reparação do Estado.

Elas não querem vingança – já se foi o tempo que queriam. E sabem que a lei da anistia apagou culpas e culpados. Aspiram, tão-somente, saber o que aconteceu com seus mortos. E lhes oferecer uma sepultura digna. Infelizmente, não será possível. Os arquivos permanecerão fechados para evitar que a governabilidade seja posta em risco.

Finalmente, compreendam que não se muda um país da complexidade do Brasil em curto prazo – um país que até há pouco foi governado por gente que não queria mudar nada ou que só queria mudar o necessário para que tudo permanecesse como era.

Há que se ter paciência. E fé. E aos impacientes, aos rebeldes, aos inconformados com o lento caminhar da História, recomenda-se que tentem começar tudo novamente, se para isso tiverem tempo e disposição. Corram atrás de novos sonhos – ou ressuscitem os que se frustraram. Indaguem, procurem, encontrem pessoas habilitadas para transformá-los em propostas concretas e factíveis.
E que sejam felizes, sem medo de ser.

 

(Publicado aqui em 25 de outubro de 2004)

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