Barco que naufragou na ‘Garganta do Diabo’ com sete pessoas tinha capacidade para cinco; duas morreram


Piloto deu detalhes sobre a embarcação em depoimento à Polícia Civil. Os corpos de duas mulheres foram encontrados após o naufrágio em São Vicente (SP). Corpos de Aline Tamara Moreira de Amorim, de 37 anos, e Beatriz Tavares da Silva Faria, de 27 anos, foram encontrados após naufrágio em São Vicente (SP)
Redes Sociais e Arquivo Pessoal/Roni Pantera
O barco que naufragou com sete pessoas na região conhecida como Garganta do Diabo, em São Vicente, no litoral de São Paulo, tinha capacidade para transportar apenas cinco. A informação foi revelada à Polícia Civil no depoimento do piloto e dono da embarcação, que é um dos sobreviventes. Duas mulheres morreram.
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O caso aconteceu na noite do dia 29 de setembro. As vítimas estavam em uma festa dentro de uma lancha, mas sofreram o acidente durante o transporte de volta à terra firme em um barco menor. Esta segunda embarcação foi atingida por uma onda e os sete ocupantes caíram no mar. Ninguém foi preso.
O corpo de Beatriz Tavares da Silva Faria, de 27 anos, foi encontrado em uma área próxima ao Emissário Submarino de Santos (SP), em 2 de outubro. Dois dias depois, o cadáver de Aline Tamara Moreira de Amorim, de 37, foi achado na região conhecida como Itaquitanduva, em São Vicente.
Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, o delegado titular da cidade, Marcos Alexandre Alfino, explicou que o barqueiro revelou ter sido acionado para dar apoio à festa na lancha. Segundo o piloto, o contratante, que não foi identificado, sabia da capacidade do barco, mas insistiu para ele levar seis pessoas.
“Alguns não quiseram colocar porque ficam tirando selfie. [Eles] ficam conversando e, realmente, aquilo [colete salva-vidas] atrapalha o bronzeado”, afirmou o delegado, com base no depoimento.
Embarcação com sete pessoas afundou na Garganta do Diabo, em São Vicente (SP)
Depoimento à polícia
De acordo com o piloto, o combinado era deixar os passageiros em Santos. Apesar disso, durante o trajeto, o grupo pediu para mudar o destino para São Vicente, onde aconteceu o naufrágio. O barqueiro afirmou ter tentado ajudar todas as pessoas, mas ressaltou que só conseguiu retirar alguns dos sobreviventes do mar.
O delegado explicou que o dono da embarcação foi ouvido e liberado porque não existe uma ordem de prisão contra ele. “Tudo isso está sendo apurado com muita tranquilidade para [concluirmos] se houve uma fatalidade ou se houve alguma conduta liberada baseada na imprudência e negligência”, disse.
Por meio de um inquérito policial, as investigações continuam com a expedição de cartas precatórias para ouvir os sobreviventes na capital, além do Inquérito Administrativo de Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) da Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP), que também está em andamento.
O g1 tentou contato com o barqueiro, mas não o localizou até a última atualização desta reportagem.
Quem são as vítimas
Aline Tamara Moreira de Amorim tinha 37 anos e morava em São Paulo. Conforme apurado pelo g1, ela tinha ido para uma festa na lancha com duas amigas e, inclusive, publicou nas redes sociais imagens dentro embarcação (veja abaixo).
O irmão dela, Anderson Carlos Moreira de Amorim, disse que a vítima não sabia nadar. Aline tinha um filho de 17 anos, que esteve em São Vicente acompanhando as buscas junto com os tios.
O corpo de Aline foi encontrado na região conhecida como Itaquitanduva, entre as praias do Parque Xixová, em São Vicente. As embarcações das autoridades foram até a área, que é de difícil acesso, e transportaram o corpo até a praia do Gonzaguinha. Os familiares fizeram o reconhecimento.
Aline Tamara Moreira de Amorim, de 37 anos, fez selfie em lancha antes de naufrágio em São Vicente (SP)
Redes sociais
Beatriz Tavares da Silva Faria tinha 27 anos, era filha única e morava com os pais e a avó em Santos. Conforme apurado pela equipe de reportagem, ela também estava na festa, mas não acompanhava Aline e as amigas dela. As duas vítimas, inclusive, se conheceram na embarcação.
Ao g1, a mãe dela, Cláudia Aparecida Tavares da Silva Farias, de 55 anos, contou que a filha foi modelo na infância e juventude, mas atualmente trabalhava com CrossFit. Ainda segundo ela, Beatriz era apaixonada por esportes e cursou Educação Física.
O corpo de Beatriz foi encontrado em uma área próxima ao Emissário Submarino de Santos. O reconhecimento foi feito pelo tio da jovem.
Beatriz Tavares da Silva Faria, de 27 anos, trabalhava com CrossFit
Arquivo pessoal
Sobreviventes
Vanessa Audrey da Silva, de 35 anos, trabalha como autônoma e veio da capital para o litoral paulista no último fim de semana. Ela é uma das amigas que acompanhavam Aline na festa na lancha.
Ao g1, Vanessa disse que não conhecia todos os convidados da festa. Apesar disso, ela afirmou que o grupo consumiu bebidas alcoólicas, andou em motos aquáticas e passou o dia em Guarujá.
Por volta das 18h, ainda segundo Vanessa, a turma se dividiu em dois barcos menores para se encontrar em São Vicente e voltar a Santos por terra.
As três amigas e Beatriz ficaram juntas em uma das embarcações, que foi atingida por uma grande onda durante o trajeto. Vanessa contou que se agarrou em um colete salva-vidas com uma jovem que não conhecia. Em seguida, conseguiu se segurar nas pedras, na parte inferior da Ilha Porchat, e gritar por socorro.
“Chegou um momento na água que ninguém conseguia ver ninguém. Estava lutando pela vida”, disse Vanessa. Um homem no topo da ilha enxergou a mulher e acionou o resgate. Os bombeiros chegaram ao local e salvaram a vítima, levando-a para terra firme.
Vanessa Audrey da Silva, de 35 anos, estava a bordo da embarcação que afundou em São Vicente (SP)
Redes Sociais
Camila Alves de Carvalho, de 20 anos, é estudante e viajou de São Paulo para a Baixada Santista com Vanessa e Aline. Elas também estava na festa e seguiu junto com as mulheres para a embarcação menor, que afundou.
Assim como Vanessa, a estudante contou ao g1 que conseguiu segurar em um dos coletes com o piloto do barco e, em seguida, segurou em pedras perto da Ilha Porchat. “A gente nasceu de novo […]. Estavam muito fortes [as ondas], a gente quase morreu. A gente não sabia nadar”, afirmou ela.
Camila afirmou que a sensação era de desespero. “A gente via que não ia aguentar por muito tempo, bater o pé e engolir muita água. A nossa solução foi se jogar nas pedras”. Ela explicou que subiu nas rochas e encontrou uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
A estudante contou ter batido o corpo com muita força nas pedras, o que provocou um corte na cabeça e ferimentos nos joelhos e pernas. Ela precisou levar pontos na cabeça.
Aline (de azul) e Camila na lancha em Guarujá (SP)
Redes sociais
Gabriela Santos Lima estava na embarcação que afundou. A equipe de reportagem entrou em contato, mas ela preferiu não comentar sobre o caso.
Daniel Gonçalves Ferreira, de 22 anos, e Natan Cardoso Soares da Silva também são sobreviventes do naufrágio. O g1 não conseguiu localizá-los.
O caso
O barco com sete pessoas a bordo naufragou na noite do último domingo (29). O Corpo de Bombeiros foi acionado por moradores e enviou três viaturas para ajudar nas buscas. Além da corporação, a Marinha do Brasil enviou uma embarcação para auxiliar na ocorrência.
Durante o naufrágio, Beatriz e Aline desapareceram. O corpo de Beatriz foi encontrado na quarta-feira (2) em área próxima ao Emissário Submarino de Santos (SP), enquanto o de Aline foi achado na sexta-feira (4) no Itaquitanduva, entre as praias do Parque Xixová, em São Vicente.
Cinco pessoas foram resgatadas. Uma delas negou atendimento médico, enquanto quatro foram levadas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até o Pronto-Socorro Central de São Vicente para avaliação médica.
Em nota, a Marinha do Brasil afirmou que um inquérito administrativo foi instaurado para investigar as possíveis causas e responsabilidades pelo acidente. “Cabe ressaltar que não houve registro de poluição hídrica resultante do afundamento da embarcação”, complementou.
Garganta do Diabo
Baía de São Vicente e Ilha Porchat
Carta náutica da Marinha
A ‘Garganta do Diabo’, região onde ocorreu o acidente, fica entre a Ilha Porchat e o Parque Estadual Xixová-Japuí, em São Vicente. Ela atrai surfistas por conta das ondulações, mas esconde vários perigos devido às fortes correntezas que atingem o local.
De acordo com historiadores, existe uma crença popular de que o local serviu de passagem para as caravelas de Martim Afonso na fundação da Vila de São Vicente.
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