Manicure relata gordofobia após ter corridas canceladas por motociclistas: ‘Preconceito por eu ser gordinha’


Mulher afirma que um dos motociclistas compartilhou com um grupo de condutores uma mensagem em que ela “avisava” ser “gordinha”. Mulher avisou motociclista de aplicativo que era ‘gordinha’ e ele mandou em um grupo da categoria em Guarujá (SP)
Arquivo pessoal
Uma manicure, de 38 anos, alega ter sofrido gordofobia após receber cinco negativas de motociclistas de aplicativo em Guarujá, no litoral de São Paulo. Ao g1, Marília Pereira da Cruz contou que um dos profissionais compartilhou com um grupo de condutores uma mensagem em que ela “avisava” ser “gordinha”. Depois disso, segundo a mulher, outros quatro recusaram corridas após a encontrarem na rua.
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Marília revelou ter o costume de chamar motociclistas de aplicativo para ir da própria casa, no bairro Morrinhos, até o consultório da psicóloga, no bairro Balneário Cidade Atlântica. Ela afirmou que, apesar disso, nunca tinha enfrentado problemas com o cancelamento de corridas.
“Isso mexeu muito comigo”, desabafou Marília. “Nunca passei por isso, mas tenho certeza de que se trata de gordofobia”.
Em nota, a 99 afirmou que lamenta e repudia qualquer tipo de discriminação, seja baseada na aparência física, gênero ou raça. Assim que o relato de Marília foi registrado, de acordo com a companhia, uma equipe foi mobilizada para fazer apurações internas (veja o posicionamento completo ao final da reportagem).
Mulher teve corrida cancelada por cinco motociclistas de app em Guarujá (SP)
Arquivo pessoal
Corridas e preconceito
Marília afirmou que, no primeiro momento, não entendeu o motivo dos cancelamentos, mas depois imaginou que poderia ser alvo de injúria por conta do próprio peso.
Diante da possibilidade, a mulher enviou uma mensagem para um dos motociclistas “avisando” que era “gordinha”. O homem cancelou a corrida de imediato, ainda segundo ela.
“[N]o último, falei: ‘Vou ficar atrás do muro’. Quando ele chegou até a minha casa, olhou de cima a baixo e falou: ‘É entrega?'”, lembrou Marília. A mulher afirmou que era passageira, mas o homem disse que não a levaria na moto e foi embora.
Marília chegou a pedir um carro por aplicativo após as recusas dos motociclistas. Apesar disso, ela não pôde pagar o valor da corrida e perdeu a consulta com a psicóloga.
Injúria
No dia seguinte, a manicure contou ter sido acionada por uma conhecida, que estava em um grupo de motociclistas em um aplicativo de mensagens. A mulher informou que um dos profissionais tinha enviado uma captura de tela com o aviso dela sobre o próprio peso, acrescentando a frase: “Pelo menos foi sincera”.
“Entendi que foi um preconceito por eu ser gordinha”, afirmou a manicure. “Eu me senti como se fosse a pior pessoa do mundo. Uma vergonha, tanto que quando eu vou pensar em pedir [um motociclista no aplicativo], não peço […] para não passar pelo mesmo constrangimento”.
Justiça
A situação aconteceu em 23 de setembro e, no último dia 8, Marília registrou um boletim de ocorrência via internet.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi registrado como difamação e que a vítima foi orientada quanto ao prazo para oferecer a representação criminal.
A manicure acionou o advogado Marcus Vinícius Ferreira Santos. Ao g1, ele explicou que atuará em duas frentes: no âmbito criminal contra os motociclistas e no cível, movendo uma ação contra a empresa de aplicativo.
“Tendo em vista que a conduta por eles [motociclistas] perpetrada configura o crime de injúria”, afirmou o advogado. “Entendemos que ela [empresa] tem responsabilidade e, assim, será pleiteada uma indenização por danos morais”.
Empresa
Antes de acionar o advogado, Marília entrou em contato com a 99, sendo orientada a bloquear os motociclistas de aplicativo.
“Eles não estão só fazendo comigo, então eu vou bloquear e eles vão continuar [com outras pessoas]”, afirmou a manicure.
A empresa, por meio de nota enviada à equipe de reportagem, declarou lamentar e repudiar qualquer tipo de discriminação, seja baseada na aparência física, gênero ou raça.
Assim que o relato foi registrado, ainda de acordo com a 99, uma equipe foi mobilizada para apurações internas e realizou contato com a passageira para oferecer “todo o suporte e acolhimento necessários”.
A companhia reforçou que o respeito mútuo é “obrigatório para a utilização do serviço e investe continuamente em treinamento e conscientização dos motociclistas parceiros por meio de iniciativas como a do Guia da Comunidade 99, que traz orientações sobre como agir e quais comportamentos não são aceitos”.
Caso seja necessário, a empresa também afirmou estar à disposição para colaborar com as investigações das autoridades.
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