
O governo federal pediu ao Congresso alterações no Orçamento deste ano para acomodar uma série de novas despesas, como R$ 3 bilhões adicionais para o Auxílio-Gás e um aumento de R$ 8 bilhões em gastos previdenciários. Diante desse cenário, o governo solicitou um corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família, ampliando a redução de despesa com o programa já prevista no pacote de contenção de gastos, segundo apurou a reportagem.

Entre os cortes anunciados, estão R$ 7,7 bilhões nos repasses ao Bolsa Família – Foto: Roberta Aline/MDS/Divulgação/ND
A decisão foi tomada no âmbito das discussões da JEO (Junta de Execução Orçamentária). O pedido de corte no Bolsa Família consta em ofício encaminhado pelo Ministério do Planejamento à CMO (Comissão Mista de Orçamento), ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso.
O pacote fiscal divulgado no ano passado previa inicialmente a redução de R$ 2 bilhões na projeção de despesa no programa Bolsa Família para 2025. Esse valor foi, no entanto, ampliado em discussões posteriores realizadas no âmbito da JEO.
Despesas com o Pé-de-Meia não estavam previstos nos cálculos do governo para o Orçamento
No ofício, o Executivo não previu na conta as despesas com o Pé-de-Meia, mas pediu que os gastos com o programa de incentivo à permanência escolar possam ser suplementados depois da aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual) deste ano.
Em nota enviada à reportagem, o Ministério do Planejamento esclareceu que o ofício solicita ajuste ao texto para permitir que o Pé-de-Meia seja suplementado por ato do Poder Executivo após a aprovação do Orçamento. O programa educacional conta hoje com dotação de R$ 1 bilhão no projeto original e não foi suplementado neste ofício.
A Conof (Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira) da Câmara dos Deputados estima que há R$ 10 bilhões com recursos do Pé-de-Meia que não passaram pelo Orçamento.
O TCU (Tribunal de Contas da União) decidiu, em 12 de fevereiro, liberar R$ 6 bilhões do Pé-de-Meia que haviam sido bloqueados por operarem fora do Orçamento, em desrespeito às regras fiscais. A Corte de contas determinou, porém, que o governo tomasse providências em 120 dias para adequar o programa às regras orçamentárias.
Conforme a decisão, a execução do Pé-de-Meia poderá ser feita fora do Orçamento até a deliberação do Congresso Nacional sobre o tema.

Assim como o Bolsa Família, o programa Pé-de-Meia também sofreu corte bilionário para adequar o Orçamento a outras despesas do governo federal – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND
Reajustes no Orçamento
Apesar de não incluir os gastos com o programa educacional no ajuste de despesas a ser feito no Orçamento, o Planejamento pediu que cerca de R$ 39,6 bilhões sejam remanejados na peça orçamentária.
Além dos R$ 3 bilhões necessários para garantir o aporte maior no Auxílio-Gás, o governo também ampliou os gastos com benefícios previdenciários em cerca de R$ 8 bilhões no Orçamento de 2025. A nova estimativa reduz a diferença em relação às previsões feitas por agentes do mercado, que antes apontavam uma subestimação de R$ 16 bilhões a R$ 20 bilhões nessa despesa.
Também pediu que o Congresso acrescente R$ 3 bilhões na rubrica “Apoio Financeiro Reembolsável mediante Financiamento e outros Instrumentos Financeiros para Projetos de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima” do Fundo Social.
Outros cortes em Bolsa Família e escolas em tempo integral
Para acomodar essas novas despesas, o governo pediu a redução de vários outros gastos. O corte no Bolsa Família foi um dos maiores sugeridos pelo governo.
Também foram cortados R$ 4,8 bilhões em ações de implantação de escolas em tempo integral, que no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva figurava como uma das prioridades do Ministério da Educação.

Ações para implantação de escolas em tempo integral eram uma das prioridades do governo, mas também tiveram recursos cortados – Foto: José Cruz/Agência Brasil/Reprodução/ND
Mais recursos para o BPC
Em contrapartida, mesmo com o pacote de contenção de gastos aprovado no ano passado com restrição no acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), o governo pediu um acréscimo de R$ 678 milhões nos gastos com o programa (R$ 296,8 milhões a mais para o benefício para pessoas idosas da Renda Vitalícia Mensal por idade e R$ 381,3 milhões a mais para o auxílio voltado a pessoas com deficiência e da Renda Vitalícia Mensal por invalidez).