Casan aposta em caminhões limpa-fossa para aumentar tratamento de esgoto em SC

A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) testa o uso de caminhões limpa-fossa para transportar esgoto no interior do estado. O projeto-piloto do programa Esgotamento Sobre Rodas está sendo implementado na cidade de Descanso, no Oeste de Santa Catarina, desde janeiro.

Caminhões limpa-fossa da Casan coletam esgoto

O lodo acumulado nos lotes residenciais será coletado anualmente pelos caminhões limpa-fossa – Foto: Divulgação/Casan

O programa é uma alternativa às redes tradicionais de coleta e tratamento de esgoto. Caminhões limpa-fossa de empresas terceirizadas serão utilizados para levar o lodo das residências até as unidades de gerenciamento, com custo médio de R$ 300 a hora para a Casan.

O professor Pablo Sezerino, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC (Universidade de Santa Catarina), explica que as longas redes e grandes estações não seriam a opção mais adequada em cidades pequenas.

“A densidade populacional baixa não justifica financeiramente uma implantação de um sistema com coleta e tratamento porque não tem a economia de escala que sustenta esse serviço. Por mais que seja um serviço público, ele precisa ser autofinanciável ao longo dos 30 anos”, aponta o professor.

O presidente da Casan, Edson Moritz, anunciou que o programa Esgotamento Sobre Rodas será adotado para atingir a meta de 50% de tratamento de esgoto até 2026. Atualmente, Santa Catarina tem 30% de cobertura.

Por que os caminhões limpa-fossa são a melhor alternativa?

Fossa ou tanque séptico de esgoto

As fossas sépticas são comuns em áreas onde não há rede de esgoto – Foto: Divulgação/Istockphoto

Nos municípios de pequeno porte e nas áreas rurais, não há contribuintes o suficiente para custear uma estação de tratamento. Além disso, a topografia é acidentada e as moradias são muito distantes uma da outra, o que complica a implantação de uma rede.

Por exemplo, nas regiões do Planalto, Serra e Meio-Oeste, a geografia irregular exigiria uma longa rede, com energia induzida por bombeamento, o que aumentaria a tarifação e a complexidade da infraestrutura.

O pesquisador Pablo Sezerino esclarece que a rede tradicional de esgoto é “sempre a primeira opção quando se tem um conjunto de pessoas aglomeradas”, o que não é o caso dos locais com baixa densidade populacional.

Caminhão limpa-fossa

A Casan vai realizar a coleta do lodo com caminhões limpa-fossa, para garantir a limpeza periódica dos lotes – Foto: IMA

Entre os 194 municípios em que a Casan opera, 140 têm menos de 15 mil habitantes. Nas cidades onde não há rede de esgoto, a população geralmente conta com sistemas individuais para tratar os efluentes no lote.

Ainda assim, o subproduto acumulado nos tanques sépticos, comumente chamados de fossas, deve ser retirado uma vez por ano. A proposta da Casan é oferecer a coleta do lodo e a limpeza periódica das fossas, serviço que é realizado hoje por empresas privadas sob demanda do morador.

O excesso, então, será transportado até uma estação de tratamento ou uma unidade de gerenciamento de lodo por caminhões de auto vácuo, também chamados de “limpa-fossa”.

Reservatório da Casan em Santa Catarina

Entre os 194 municípios em que a Casan opera, 140 têm até 15 mil habitantes – Foto: Casan/Divulgação/ND

A Casan pretende instalar mais 38 unidades pelo estado para receber o lodo. O professor Pablo Sezerino aponta que o sistema pode ser utilizado não só em cidades pequenas, mas também em bairros de grandes municípios que ainda não dispõem de saneamento básico.

Em Florianópolis, por exemplo, foi sancionada a lei “Pacto pelo Saneamento” em 2023, que prevê o serviço de limpeza programada em bairros que não têm rede de esgoto.

“Toda vez que houver um serviço de tratamento de esgoto no lote, há que ter serviço associado de limpeza programada. Essa é uma das ações que garantirão a qualidade desse modal de atendimento”, determina o professor.

Programa Esgotamento Sobre Rodas utiliza plantas para tratar o lodo

Wetlands em unidade de gerenciamento de lodo da Casan em Descanso SC

Os “wetlands” construídos contam com plantas para filtrar o lodo – Foto: Divulgação/Casan

Além do emprego de caminhões limpa-fossa para a retirada do lodo das residências, a Casan também adotou um método diferente para o tratamento dos subprodutos em Descanso.

A cidade-piloto testa os chamados “wetlands”, também conhecidos como jardins filtrantes, na unidade de gerenciamento de lodo. O sistema simula ambientes como pântanos e manguezais, onde plantas limpam o lodo em um processo natural.

Os “wetlands” são um exemplo de soluções baseadas na natureza. Esse conceito se refere a abordagens inspiradas ou apoiadas nos processos naturais, com o objetivo de enfrentar desafios ambientais, econômicos e sociais.

O tratamento tradicional dos efluentes exige um grande gasto energético e gera de gases de efeito estufa, como o gás metano e o dióxido de carbono. Nesse sentido, as soluções baseadas na natureza dispensam a necessidade de produtos químicos e reduzem o impacto ambiental.

Unidade de gerenciamento de lodo em Descanso

O investimento na construção da unidade de gerenciamento de lodo é de R$ 2,4 milhões – Foto: Divulgação/Casan

“A gente está usando as plantas que capturam parte desses subprodutos gerados como parte integrante do sistema, então as plantas contribuem para fazer a neutralização dos gases e subprodutos gerados no tratamento”, explica Alexandre Bach Trevisan, engenheiro químico da Casan.

Mais do que atenuar os prejuízos ao meio ambiente, o tratamento do lodo com soluções baseadas na natureza também pode trazer benefícios para outros setores da economia.

“Será um um material tratado que é rico em fósforo, e fósforo é a base da agricultura. Então eu tenho ali um caldo nutricional que sairia no tratamento desses subproduto”, afirma o professor da UFSC Pablo Sezerino.

“Isso é engenharia ambiental do século 21. Não é só fazer o tratamento para evitar danos ambientais, é fazer o tratamento para evitar danos ambientais e agregar valor aos subprodutos”, destaca.

Jardins filtrantes da Casan em Descanso, SC

Os jardins filtrantes reduzem os danos ambientais no processo de depuração do lodo – Foto: Divulgação/Casan

A obra deve custar 2,4 milhões, mas a Casan ainda não tem estimativa do quanto vai pesar no bolso do contribuinte, visto que o preço do serviço é definido pelas agências reguladoras.

“A gente acredita que vai ser uma unidade de referência e vai ajudar a superar uma das questões do saneamento, que é levar o saneamento às cidades pequenas”, garante Alexandre Bach Trevisan.

“As pequenas cidades vão ficando para trás e a gente queria abrir o olho que a universalização do saneamento não se dá só nas grandes cidades. Tem que se dar também nas pequenas cidades, com soluções adequadas a essa realidade”, conclui.

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