Aniversário de São Paulo: como recuperar o Centro Histórico da cidade?

MAPS, na Avenida Paulista, é um dos pontos mais reconhecidos da cidadeshutterstock

São Paulo, uma das cidades mais importantes do país, está completando 470 anos nesta quinta-feira (25) repletos de histórias que atraem muitos turistas durante todo o ano e, por consequencia, fomentam a economia de toda a metrópole.

A capital do estado de São Paulo foi fundada em 1554 pelos padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Começou como um pequeno núcleo missionário e se tornou cidade somente em 11 de julho de 1711.

Com o passar dos séculos, o município se tornou um dos centros urbanos mais importantes de todo o hemisfério sul, e se consolidou como a maior e mais populosa cidade de toda a América Latina, com cerca de 12,3 milhões de habitantes, em 2022, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No entanto, apesar de toda a grandiosidade, são muitos os fatores nos quais a cidade ainda deixa a desejar. Entre eles, o mais criticado, a segurança pública, além da infraestrutura e baixa manutenção de pontos turísticos importantes, especialmente os mais antigos localizados na região conhecida como “Centro Histórico” ou “Centro Antigo”.

O Centro Histórico de São Paulo

No que é hoje conhecido como Centro Histórico de São Paulo estão diversos pontos turísticos importantes para a história da cidade, que sofrem muito principalmente devido à falta de segurança pública.

Um destes exemplos é a famosa Praça da Sé, local onde está situada a Catedral Metropolitana da Sé e o monumento do Marco Zero, inaugurado em 1934, que sinaliza o local de onde são medidas as distâncias das rodovias e fronteiras estaduais, assim como a numeração das vias públicas da cidade. Um fato curioso é que este foi o primeiro monumento do tipo inaugurado na América do Sul.

A famosa Catedral da Sé, como é mais conhecida, é a maior igreja de São Paulo. Ela teve sua construção iniciada em 1913 e apresenta um charmoso estilo gótico modificado. O templo religioso foi erguido após outras igrejas serem completamente demolidas para a ampliação do espaço.

Apesar da importância, não somente para a cidade, como para todo o estado de São Paulo, a região é também conhecida por pontos negativos, como a alta concentração de pessoas em situação de rua e por acontecimentos que revelam índices de violência.

Em 2015, Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, de 61 anos, pessoa em situação de rua, foi assassinado em frente à porta da Catedral, após ajudar uma mulher que era mantida refém por um atirador. O ocorrido, na época, chocou o país. Francisco ficou conhecido como “Herói da Sé”.

Outro local importante da região que sofre com a violência é o Vale do Anhangabaú, localizado entre outros pontos importantes da cidade, como o Viaduto do Chá e Santa Ifigênia.

Por lá também estão o Edifício Matarazzo, ou Palácio do Anhangabaú, que completa, em 2024, 20 anos como a sede da Prefeitura da cidade de São Paulo; o Theatro Municipal; a Escola de Dança de São Paulo; o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, entre outros espaços culturais importantes.

O que dizem turistas e profissionais da área

Aline Ricarte, empresária no ramo de turismo e fundadora da agência Big Five Viagens; e o casal de viajantes, Carol Barduk e Edu Feltrin, — conhecido nas redes sociais como Turistando SP —, falam sobre suas percepções sobre a cidade, tanto na perspectiva de profissionais como turistas.

A empresária destaca que, ao receber um visitante em São Paulo, e providenciar uma hospedagem, como pedido para escolher um local mais adequado, sempre vem a questão da segurança pública, algo cada vez mais problemático para a cidade.

“Eu já nem tenho mais buscado por hotéis no Centro, e isso é uma tristeza”, diz Aline ao iG Turismo, se referindo ao Centro Antigo. “Eu sei que hoje já tem vários hotéis que foram revitalizados, hotéis antigos, que têm uma história na cidade, só que é exatamente essa questão da insegurança [que gera receio].”

Ela continua: “Hoje, quando vem um turista para São Paulo, a gente pensa em um local mais seguro para que ele possa sair andando do hotel, sem precisar de um motorista de aplicativo ou táxi, e que consiga ir a um restaurante, consiga fazer um passeio. E a gente sabe que o Centro, principalmente à noite, é bastante inseguro.”

Por isso hoje, como aponta Aline, as regiões mais procuradas pelas agências para indicações a clientes são as da Avenida Paulista, Vila Madalena e Ibirapuera, entre outras nas proximidades, que “ainda não estão 100% seguras, mas há uma movimentação maior, o que ajuda a fugir um pouco da sensação de insegurança”.

Carol, do Turistando SP, concorda: “O que a gente enxerga é que quando o pessoal vem para São Paulo, a galera procura bastante a região da Avenida Paulista”. Edu acrescenta que os visitantes costumam buscar por bairros com foco na gastronomia e diferentes culturas.

“A Liberdade tem crescido bastante nesses últimos anos por conta desse hype da cultura asiática e os bairros que possuem uma gastronomia mais forte, como Itaim, Jardins e Moema.”

Aline, da Big Five Viagens, diz que embora a região central demande mais atenção, ainda faz um esforço para indicar ao seus clientes uma ida à localidade.

“Conheço muito da história do Centro de São Paulo e é muito legal para a gente entender toda a fundação da cidade. No entanto, não recomendo mais que as pessoas vão sozinhas, mas sim apenas com guias que poderão fazer todo esse percurso com os turistas em segurança.”

A influenciadora Carol acrescenta que a sensação de insegurança na cidade aumentou após a pandemia de Covid-19. “A gente toma alguns cuidados para ‘turistar’ em São Paulo. Sempre estamos de olho em nossos pertences e bolsas. Os celulares, a gente tenta não mexer quando estamos andando na rua […] Esse medo era uma coisa que a gente não sentia antigamente. Depois da pandemia tudo piorou muito.”

Para se movimentar com segurança pela cidade, a guia Aline destaca que, se precisa ir a algum local que seja próximo ao metrô, dá preferência ao transporte público. “De carro eu vou ter que procurar um estacionamento, vou ter que estar com o GPS ligado. Então a gente acaba optando pelo transporte público.”

Os pontos turísticos e experiências mais marcantes de São Paulo

Para o casal Turistando SP, “os pontos turísticos mais marcantes e mais procurados com certeza estão na Avenida Paulista, onde há diversos centros culturais, museus e atrações”, pontua Carol. “A Liberdade, com diversas opções gastronômicas e culturais [é outra opção]. O centro de São Paulo, com vários prédios históricos e a bonita arquitetura também.”

Contudo, Carol pontua, mais uma vez, a sensação de insegurança em determinados locais do Centro, destacando Praça da Sé, Viaduto Santa Efigênia, Pátio do Colégio e Praça da República: “A gente sente que são regiões que sofreram muito no pós-pandemia e não temos mais a segurança de turistar, como fazíamos antes.”

Ela acrescenta: “Com relação ao Vale do Anhangabaú, a gente sente que ele melhorou muito com a reforma que teve recentemente, mas, no restante, sentimos muita insegurança ainda. Gostaria que isso fosse melhorado para que esses locais possam voltar a ter mais turistas e que as pessoas estejam lá com mais tranquilidade.”

Aline corrobora com a influenciadora: “O Vale do Anhangabaú não ficou como esperavam [pós reforma], mas ainda é um ponto que as pessoas querem ver, querem conhecer. Os viadutos do Chá e de Santa Virgínia são outros exemplos. São todos locais interessantes, só que sempre é importante ter um certo cuidado ao visitá-los.”

A profissional de turismo menciona ainda que São Paulo tem vários parques muito interessantes, mas o Ibirapuera é, sem dúvidas, o que mais se destaca, em comparação aos outros semelhantes da cidade.

“Eu acredito que pela localização, por ser mais central, e pela própria divulgação. As pessoas acabam conhecendo mais o Ibirapuera, do que, por exemplo, o Horto Florestal, que é, no meu ponto de vista, mais bonito do que o Ibirapuera, mas não tem tanta procura por conta de não ter muita divulgação, além, claro, por sua localização.”

A importância do comércio para a economia de São Paulo

Édson Pinto é diretor-executivo da Federação dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São PauloDivulgação

Um dos grandes marcos da capital paulista são seus famosos bares e restaurantes. Édson Pinto, diretor-executivo da Federação dos Hotéis, Bares e Restaurantes (Fhoresp) do estado de São Paulo, fala sobre a relevância da cidade na economia de todo o país e revela as expectativas do setor para o ano de 2024.

“O Turismo no estado de São Paulo movimenta quase 10% do Produto Interno Bruto [PIB]. Somente em 2023, o faturamento do setor foi de R$ 290 bilhões. Não à toa, São Paulo recebeu o título de ‘Capital Mundial da Gastronomia'”, diz o diretor-executivo.

“O município abarca nove restaurantes com estrelas Michelin e outros 950 de padrão internacional de excelência. Os bares são um caso à parte. Cidadãos, visitantes e turistas têm à disposição ampla opção em bairros badalados e nobres, como Itaim Bibi, Pinheiros, Moema, Jardim Paulistano, Vila Nova Conceição e Vila Madalena.”

O que precisa ser melhorado no setor?

“Estamos com muita dificuldade de contratação de mão de obra. Já não há mais mão de qualificada disponível. Os sindicatos patronal e dos trabalhadores oferecem escolas de capacitação, mas não contam com o apoio do governo, além de o número ainda ser insuficiente para atender o enorme segmento — são cerca de 800 mil colaboradores no estado e 460 mil empresas do ramo”, diz o presidente-executivo.

Ele acrescenta: “A segurança melhorou, mas ainda precisa de investimentos, especialmente em tecnologia, em investigação, em recursos humanos [déficit no efetivo da Polícia Civil e da Polícia Militar, por exemplo] e melhor remuneração aos agentes.”

Édison conta que a Fhoresp realizou um levantamento em 2023, para identificar a opinião dos visitantes em relação aos pontos importantes da cidade, no que diz respeito à sua área de atuação.

“Naquela oportunidade, a gastronomia ficou em primeiro lugar, como o ponto mais positivo da pesquisa. Cultura — pelo impressionante número de museus, de arte e de shows —, além da hospitalidade do paulistano, vêm atrás. Transporte público e infraestrutura eficientes também foram lembrados.”

O que o poder público diz

Segundo nota enviada ao iG Turismo, a Prefeitura da capital busca atrair cada mais turistas de outras cidades e de todo o país. De 2022 a 2023, houve aumento de seis vezes no número de visitantes, segundo o comunicado. A Prefeitura credita o aumento a programas de revitalização do turismo, como o “Vai de Roteiro”, além de um reforço em relação à segurança pública.

“As ações da Prefeitura de São Paulo possibilitaram um aumento de 692,39% de frequentadores nos Centros Culturais Vila Itororó, Galeria Olido, Memória do Circo e Referência da Dança, que ficam na região central, em 2023 com relação a 2022.”

A nota continua: “A gestão municipal ampliou as opções de agenda no centro, com programação cultural gratuita na Biblioteca Mário de Andrade, Centro Cultural Olido, Centro de Referência da Dança, Biblioteca Monteiro Lobato, Praça das Artes, Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade, Salas Spcine Olido e CCSP, além dos espaços históricos do Museu da Cidade [Solar da Marquesa de Santos, Casa da Imagem e Beco do Pinto].”

A Prefeitura afirma ainda que disponibiliza o “Vai de Roteiro”, um manual que oferece passeios guiados gratuitos por diversos pontos turísticos da cidade, em seu site. A agenda completa pode ser encontrada no neste link.

Além disso, há também o “Programa Ruas Abertas”, que atualmente ocorre todos os domingos e feriados em pontos importantes da cidade, como a Avenida Paulista, e nas ruas dos Estudantes, dos Aflitos, Américo de Campos, Galvão Bueno e, desde o último domino (21), também na Avenida São João.

“Além das atrações, a gestão promove ações de valorização do patrimônio histórico e cultural, que visam preservar a rica memória, como a proposta de incentivos fiscais para a requalificação de prédios antigos”, continua o comunicado enviado ao iG Turismo.

A nota acrescenta ainda que para aumentar a segurança nesses locais, “a administração municipal reforçou em 1600 o número de guardas civis, com mais 77 viaturas e 140 motos. A GCM [Guarda Civil Metropolitana] também recebeu um curso de aperfeiçoamento para atendimento ao turista em parceria com as forças de segurança do estado. Além disso, a região conta com mais de 1200 câmeras do Smart Sampa instaladas”.

Planos de segurança para a capital de São Paulo

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) descreve iniciativas, que começaram a vigorar em janeiro deste ano, que visam reforçar a segurança pública da capital paulista. Segundo a nota, a SMSU integra diversas iniciativas destinadas a região central da cidade.

“Somente este ano, a pasta entregou para a cidade mais 1 mil novos GCMs e em setembro mais 500 agentes foram convocados. Somente para o Centro de São Paulo atuam mais de 1.600 guardas, 77 viaturas e 140 motos no patrulhamento, com rondas periódicas, 24 horas por dia, além das bases comunitárias.”

Em relação ao “Programa Smart Sampa”, iniciado em agosto de 2023, a nota afirma que atualmente “a cidade de São Paulo conta com mais de 1 mil câmeras [1.297 até 17/01/24] instaladas, operando na fase 1 [fase de testes], chamada de ‘Fase Estrutural do Programa’”.

“Essa etapa estabelece os ajustes na plataforma, operando com geradores de alerta e módulos de segurança, além da capacitação de aproximadamente 300 GCMs, quem farão o monitoramento do sistema. Posterior a essa, o programa entra na Fase Operacional, que terá início em fevereiro de 2024, com 5 mil câmeras em funcionamento na capital, junto da instalação da Central de Monitoramento, que será instalada no Prédio do Palácio dos Correios, no Vale do Anhangabaú, no Centro Histórico de São Paulo”, finaliza.

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