Moacir Pereira, o jornalista de dois séculos

Moacir Pereira é um símbolo para todos os que trabalham com jornalismo, especialmente o político, em Santa Catarina. Na sala de sua casa, cercado por pinturas – boa parte de artistas catarinenses, como Juarez Machado, Vera Sabino, Nicson, Cipriano e Rodrigo de Haro – e uma bela vista para a Lagoa da Conceição, falou das transições tecnológicas que viveu, dos primeiros momentos na rádio até a destreza de trabalhar com a internet, passando pelas colunas de jornal e comentários de televisão.

Intercalando momentos de angústia e de esperança sobre o jornalismo, mostrou que tem muita história para contar – pelo menos 20 temas para os futuros livros estão escolhidos.

E não se furtou em comentar sobre todos os governadores do Estado que acompanhou, registrando momentos históricos relevantes, caso da emblemática Novembrada. Também teceu críticas ao governo federal, mas entende que, embora seja fiel ao bolsonarismo, o atual governo não deve deixar de dialogar com Brasília.

Moacir, você sempre foi e é o mais repórter dos colunistas. É uma marca sua a presença in loco. Como você vê essa necessidade de estar nos lugares?

Sempre quando faço palestras falo que a presença do jornalista, seja ele de rádio, jornal ou TV, é imprescindível nos fatos. Por uma razão muito simples. Tenho confiança 100% na minha mulher, que me acompanha nos eventos, e se ela me relatar algo que viu, sei que será fiel.

Mas não é algo que geralmente só ela viu, e eu como jornalista/repórter gostaria, não posso me gabar de ter a visão de terceiros. Então, eu estando presente, consigo fazer as minhas próprias observações, visões e análises. Acho isso fundamental. Por isso, sempre estou anotando, sempre com o meu caderno. Anoto pontos-chaves e me recordo, mas minha memória não é muito boa.

Temos uma revelação aqui. Você, Moacir, que contou boa parte da história de Santa Catarina e é conhecido por justamente ter a memória boa, agora revela que a memória não é tão boa assim, como funciona isso?

Então, várias pessoas chegam em mim e comentam isso, dizem que minha memória é invejável, maravilhosa, e que sou muito privilegiado por tê-la. Mas o que acontece é que resgato fatos da política e da história. De resto, não me recordo de nada.

Algum neurologista pode explicar isso. Hoje, eu só me lembro de pontos-chaves, mas sem aquela precisão. Por isso, o bloco de notas é indispensável para mim, anoto algumas coisas e isso me ajuda a recordar o que foi falado. Uma passagem: uma vez estava eu e Cacau Menezes cobrindo um evento e esqueci meu bloco de notas, e o Cacau não estava usando.

Precisávamos fechar umas páginas para o jornal, eu uma e ele, duas. Chegando lá foi maravilhoso, fizemos algumas entrevistas, catalogamos informações boas e tudo mais. Chegou na hora de fechar o material, o Cacau fez as duas páginas e eu não consegui. Ele tem uma memória boa, ao contrário dele eu consegui anotar duas ou três questões.

E aí perdi coisas importantíssimas dessas entrevistas, desses contatos e dos fatos que constatamos. Então, por isso que sempre levo o bloquinho. Com ele é o seguinte: eu converso meia hora com a pessoa, um empresário, um político e uma autoridade, anoto duas ou três coisas, bobagens assim, entendeu? E aquelas duas ou três coisas me permitem fazer um resgate bem minucioso da conversa. Agora, números são precisos. Números anoto com precisão, porque senão acabo me perdendo.

Uma dúvida que sempre tive, você guarda esses bloquinhos?

Tudo guardado, tem uma tonelada aqui. Alguns até já dispensei, mas outros eu tenho e gosto de guardar. Guardo porque de vez em quando eu dou uma olhada e vejo algumas coisas. Minha mulher briga comigo todo dia por causa disso. Sou super desorganizado.

Às vezes, ela arruma tudo e o que fica desorganizado é minha cabeça. Minha bagunça é organizada, me encontro nela, sei onde está tudo. Tentei mudar e não consegui. Quando vejo amigos jornalistas com o escritório arrumado e a mesa limpa, fico incrédulo. Não sei como conseguem.

E dicas para quem está começando no jornalismo agora, focadas no jornalismo político, especificamente?

Primeiro, o domínio completo do português e da matemática. Segundo, conhecimento de inglês. Por que inglês? Porque perdi grandes reportagens porque não conseguia dominar a língua, não tinha diálogo. Só ficava no bom dia e no boa tarde. Dominando o inglês, você tem oportunidade de fazer matérias de repercussão nacional.

Para você ter ideia, uma vez estava em Nova York, em um restaurante no bairro de Tribeca, e apareceu o ator Robert De Niro. Ele estava no auge da fama, ganhando prêmios, e estava dando bola para o pessoal lá, conversando com alguns clientes.

Poxa, se eu tivesse um inglês forte tinha ido cumprimentá-lo e certamente ele iria dizer alguma coisa que renderia nota ou matéria. Perdi outro momento importante quando fiz a cobertura de uma missão internacional de Santa Catarina na Arábia Saudita, que na época era fechadíssima, pela dificuldade de comunicação.

Até fui preso numa circunstância toda especial lá, pela polícia religiosa. Um colega do Diário Catarinense, na época, que dominava o inglês, fez uma baita reportagem. E eu fiz o quê? Fiquei sobrando. Perdi uma oportunidade de ouro.

Os bastidores do poder

O início da vigorosa carreira no jornalismo político

Quando a política entrou no seu dia a dia?

Entrou quando trabalhei no gaúcho Correio do Povo. No começo, me pediram para fazer cobertura da Assembleia Legislativa. E aí comecei a tomar gosto pelos discursos, onde os debates eram de altíssimo nível. Não tinha baixaria. E outra coisa, lá no prédio atual, inaugurado pelo Ivo Silveira, acompanhei durante 40 anos a Assembleia.

Um detalhe interessante era que existia uma disputa pesada para ocupar o horário dos partidos políticos. Hoje, acompanho pela televisão e frequentemente suspendem a sessão para voltar só na hora do expediente, às 16h. É uma coisa que não consigo entender, um horário precioso daqueles e o deputado não ocupa. E olha que hoje tem transmissão de tudo que é jeito.

Quando começou a acompanhar o dia a dia na Assembleia, teve algum político que te marcou?

Ah, vários! É a época do Colombo Salles, certo? Cobri muito o governo do Colombo. Como era jovem ainda, eu batia muito na oligarquia. No fundo, tinha certa simpatia pelo PSD (Partido Social Democrático, criado em 1945 e extinto em 1965 com o AI-2), porque o PSD parecia um partido mais aberto, mais liberal e tal.

Então, essas foram coisas muito marcantes. Porém, o primeiro discurso impactante que ouvi na minha vida foi no Cine Ritz, hoje uma escola ali na rua Padre Miguelinho perto da Catedral, proferido pelo Carlos Lacerda, falando sobre as riquezas de Santa Catarina. Foi impactante. Ele falou durante quase uma hora sobre as coisas belas de Santa Catarina, como gente grande, como doutorando.

A segunda foi do Konder Reis, numa entrevista para uma emissora de televisão num sábado. Deu grande audiência. Ele começou a falar das nossas belezas naturais, desde o Norte do Estado até o Sul, contando praticamente cidade por cidade, cada uma com suas características, colonização. Uma coisa espetacular. Era realmente um baita orador.

O senhor falou que era crítico das oligarquias no começo, mas passou a admirar depois nomes como Antônio Carlos Konder Reis e Jorge Bornhausen. Como foi essa aproximação?

Para ser bem sincero, percebi que o Bornhausen era muito combatido aqui pelas oposições e por colegas jornalistas que também faziam oposição, mas era muito admirado em Brasília.

Os colegas mais brilhantes que eu ouvia lá em Brasília tinham admiração especial por ele. Comecei a prestar mais atenção nisso. Ele era fonte de informação permanente. E cheguei a algumas conclusões: eu nunca vi ele berrar com ninguém.

Nunca vi ele suado. Nunca vi ele deixar de atender ninguém nem criticar alguém. Então, ele é um personagem diferenciado na política. Além disso, tem capacidade de articulação extraordinária. E aí, é claro, me curvei à realidade da política nacional antes de me curvar ao estadual, porque se não fosse Jorge Bornhausen, não teríamos saído da ditadura. Ele viabilizou a eleição do (José) Sarney.

Saiu da Arena, criou o PFL e viabilizou a eleição do Fernando Henrique Cardoso, que acabou com a inflação no Brasil, quando tínhamos inflação de 100% ao mês. Também foi um excelente ministro, que deu prioridade para o ensino profissional. Então, fui mudando gradativamente.

Eu queria passear um pouquinho pelas várias gerações do poder em Santa Catarina, alternâncias e continuidades. Fale um pouquinho sobre esses governadores que acompanhou. O primeiro como profissional foi o Ivo Silveira, correto?

Sim, muito de leve. Acompanhei mais ele pela continuidade do Celso Ramos, que considero o maior governador da história de Santa Catarina, sem dúvida nenhuma. E isso só aconteceu pela contribuição técnica de Alcides Abreu, e a sensibilidade política dele, um fazendeiro que não tinha nem universidade.

Se o Nereu Ramos não tivesse morrido, o Celso nem teria sido governador e a gente não teria essa Santa Catarina que tem hoje.

Aliás, não tem na mídia catarina esse resgate. Por exemplo: por que o Alcides foi o gênio do Celso Ramos? E depois colaborou com outros governadores, Esperidião Amin, inclusive.

Depois do Celso, do Ivo, vem o Colombo Salles. Como ele, nessa linha de ser um nome que ia tirar Santa Catarina das oligarquias, agiu sendo o tecnocrata?

Ele chegou em 1964 com os militares, certo? E aí vou ser sincero, se você recolher lá no jornal Correio do Povo algum material assinado por mim, vai ver que foi pau na oligarquia de ponta a ponta. Porque o Colombo lançava essas mensagens de renovação política, e eu, como um jovem de 30 anos, queria a juventude, cara, eu queria a renovação política!

E foi ele quem fez o Projeto Catarinense de Desenvolvimento. O plano do governo Colombo foi o Alcides de Abreu que fez. Ele voltou cinco anos depois do Celso Ramos, e com coisas revolucionárias. Nosso sistema de telefone era horrível, jurássico. Ele ganha uma grande dimensão a partir exatamente do governo do Colombo Salles. Então, era pau na oligarquia. E eu estava nadando de braçadas. Era outra realidade.

Uma coisa que sempre me chamou atenção foi que o Colombo veio para suplantar a oligarquia, mas acabou sendo sucedido por Konder Reis e por Jorge Bornhausen. Ou seja, o plano não deu certo?

Primeiro, não pode esquecer que o Colombo foi escolhido pelo presidente Emílio Garrastazu Médici [de 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974] e que o Konder Reis foi escolhido pelo Ernesto Geisel [de 15 de março de 1974 e 15 de março de 1979]. São duas escolas diferentes na área militar. E teve uma vida parlamentar grande e brilhante.

Tô escrevendo um livro sobre ele, vou terminar agora na viagem. Adoro escrever no navio, aquele marzão… o título que escolhi é “O Político e o Acadêmico”, porque pouca gente conhece a história do contexto como acadêmico. Então, quero resgatar um pouco dessa história e de como começou o 15 na política, como foi criado o MDB, entendeu?

E o Jorge Boranhusen?

Ele tem uma história diferente, um enredo diferente. Porque é muito inteligente. Era presidente do Arena e percebeu o seguinte, como é que vai ser a eleição do próximo da sucessão do Konder Reis? Vai ser direta ou indireta? Ele tinha grandes contatos em Brasília e no Rio, e disseram que a eleição iria continuar sendo indireta, e ele foi atrás do que era necessário para ter eleição indireta.

E, para ser escolhido o governador na eleição, além do apoio indireto na Assembleia, que era fundamental, teria também que ter respaldo popular.

Ele começou a circular por Santa Catarina, tinha que ter apoio e começou a circular perguntando o que as pessoas pediam. E muito antes da escolha, todo dia algum jornal de Santa Catarina dava manchete: Joinville apoia Jorge, Chapecó apoia Jorge, Criciúma apoia Jorge. Isso foi decisivo.

A questão da Novembrada pega esse governo do Jorge Bornhausen. Foi um episódio mal conduzido?

Pessimamente conduzido, por Brasília, não por Florianópolis, não. Qual a causa da Novembrada? Número 1: Figueiredo diz que prefere o cheiro do cavalo ao cheiro do povo. 2: disseram que a principal razão da vinda era anunciar a Usina Siderúrgica de Santa Catarina, e ele já havia antecipado que a usina não viria. 3: prepararam as escadas para 2.000 pessoas. 4: mandaram, na véspera da visita, uma placa do governo de Brasília à cidade, pelo Figueiredo, para ficar debaixo da figueira na Praça XV, homenageando Floriano Peixoto.

Uma falta de conexão com a realidade. Floriano Peixoto é detestado em Santa Catarina. E aí os estudantes se manifestaram, a oposição. Arrancaram a placa, botaram fogo na placa na frente do palácio, e Bornhausen era o governador

recém-empossado, no início da gestão. Bom, os estudantes se reuniram, os partidos políticos, e protestaram na frente do palácio. E o Figueiredo fez aquele gesto, entendido como um palavrão, mas dizem que ele queria dizer que era pequena a manifestação, mas não foi assim entendido. E aí, pior ainda, ele partiu para a porrada com os estudantes.

Aí você vê o preparo do cara! E até então, ele, em todo lugar, ia visitar, tomar um café na esquina, queria ser o “João do Povo”, a política do Said Farhat, que era ministro das Comunicações. Mas o grave não foi ele ter ido tomar um cafezinho depois da manifestação.

O que provocou a Novembrada foi a decisão de prender os estudantes. As informações que estão aí agora, na realidade, é que o Bornhausen era radicalmente contra prender os estudantes. Mas de quem foi a decisão? Do ministro-chefe da cavalaria militar. E aí criou um problema, pois ficou na história que foi o Jorge quem mandou prender os estudantes. E ele pagou a conta.

Era de mudanças

A carreira de Moacir acompanhou novidades tecnológicas e políticas que transformaram a sociedade

Como foi a transição para a televisão, as transformações de tecnologias e veículos?

Comecei em 1970, na TV Cultura, em 31 de maio, o primeiro dia de transmissão. O pessoal que trabalhava na rádio foi para a televisão. Eu, Roberto Alves, Ciro Barreto. Sempre me dei bem, porque era apresentação ou comentário, nunca trabalhei com edição. Tive que adaptar a fala de rádio para a televisão, porque são mensagens diferentes, linguagens diferentes.

A gente teve a volta das eleições diretas e o Esperidião Amin, que acabou marcando um período histórico. Como é que foi cobrir a primeira eleição?

Foi a campanha de maior participação que já vi na história de Santa Catarina, uma diferença mínima de votos e dois projetos muito distintos, com muita adesão popular, Jaison Barreto e Esperidião Amin.

Aquela eleição tinha dois rumos e marcou o que Santa Catarina viria a ser, certo? 

Marcou, por dois motivos diferentes. Pela eleição do Esperidião, que era do PDS, mas tinha projetos bem inovadores, mais democráticos e populares, seja na agricultura, na assistência ao trabalhador. E é marcante também porque o Jorge Bornhausen foi catapultado ao cenário nacional por essa eleição também.

O Bornhausen não seria senador do PFL (Partido da Frente Liberal) sem aquela vaga.

Com certeza, e também não teria sido sem a ajuda do Amin. Tanto é que, da segunda vez, ele ganhou da mesma forma, com a mesma chapa. Separados, eles sofriam derrota, juntos, eram vitoriosos [risadas].

E teve a aproximação do Bornhausen com o Luiz Henrique da Silveira…

Outro episódio histórico sobre o qual escrevi muito. Acho que nós, jornalistas políticos, temos sensibilidade política mais aguçada, e com alguma frequência, acertamos. O episódio do PFL começa com panfletagem de um professor esquerdista de São Paulo chamando o Jorge Bornhausen de nazista.

Aí, o (empresário) Fernando Marcondes faz um desagravo a ele, com um almoço no Costão do Santinho. Fui convidado, como jornalista, e minha expectativa era de que houvesse um número grande amigos do Jorge, ex-secretários, aliados, parentes etc.

E isso aconteceu. Só que, num determinado momento, chega o governador Luiz Henrique da Silveira, inclusive o deputado federal Walmor de Luca, o maior crítico de Jorge Bornhausen. Isso foi emblemático.

Pensei: olha, está nascendo aqui alguma coisa nova, e não teve outra. E as eleições provaram que se o Luiz Henrique não tivesse feito aliança com o PFL, não teria ganho a eleição. Então o Luiz Henrique foi um grande articulador, um cara visionário. Outro detalhe interessante: o Esperidião é o cara do voto, o Jorge, da articulação. Por isso dá certo.

E o Luiz Henrique, uma mistura?

Sim. Ele era tão popular quanto era articulador. E tem outra coisa, era um cara que tinha amor pelo Estado e vontade de acertar, e acertar rapidamente. Ele fica com uma imagem de autoritário, na minha leitura, e fui até criticado pelo livro que escrevi sobre ele, por colocá-lo com uma imagem muito positiva, mas foi a imagem que constatei como jornalista.

A imagem autoritária era pela vontade de fazer acontecer, os projetos, obras, asfaltos, tudo. A gente pulou alguns governadores, vamos falar brevemente deles. Pedro Ivo, que não pôde completar o mandato. O  Pedro Ivo teve um erro básico.

Foi o primeiro governador do MDB, e foi um cara sacrificado, sofreu terrivelmente com as doenças e com uma oposição pesada dentro do próprio partido. O maior equívoco dele foi não dar transparência a esse problema da doença que o matou em 1990. Com o

Tancredo também foi assim.

Exatamente. Se não tivesse escondido, talvez estivesse vivo na posse. Mas também, não se sabe se o sistema queria ele ou o Sarney na posse, até hoje é uma dúvida que ninguém esclareceu. O Pedro Ivo quis mostrar para a sociedade que não estava doente, mas estava. E se a equipe dele tivesse mostrado transparência, ele teria tido mais liberdade para fazer o que precisava ter feito.

Vilson Kleinübing foi mesmo o governante mais liberal da história catarinense?

O mais liberal e o mais visionário, no sentido de mudança, seja na reforma fiscal, no controle de gastos, várias iniciativas na área tecnológica. Ele era engenheiro. Foi o primeiro governador a buscar parcerias no exterior, fez uma visita aos chamados Tigres Asiáticos, e cobri essa viagem. E de lá surgiu a ideia de parques tecnológicos, como o Sapiens.

Foi um dos poucos governadores que visitou a origem da fruticultura de climas temperados, em missão a Aomori, no Japão, e aprimorou ainda mais a produção de frutas de Santa Catarina. Um governo reformista, de cortes de gastos e inovador, do ponto de vista tecnológico.

E o governo Paulo Afonso, marcado por escândalos, precatórios, quase impeachment…

Lamentavelmente, isso aconteceu. Paulo Afonso era a esperança de uma nova liderança política nacional. Um cara inteligente, com uma oratória brilhante. Se não tivesse feito a besteira dos precatórios, hoje estaria no cenário nacional, com destaque.

Você acompanhou isso tudo muito de perto, não é? Lendo seu livro “O Golpe das Letras”, vi que foi algo que se repetiu no Brasil inteiro. Mas os outros Estados federalizaram suas dívidas.

Se tivesse que escrever “O Golpe das Letras” novamente, eu escreveria de outra maneira. Uma delas é o seguinte: por que o Miguel Arraes [ex-governador de Pernambuco] se salvou? E o secretário da Fazenda dele era o Eduardo Campos. Ele tinha forte liderança nacional, que o Paulo Afonso não tinha.

E depois tem a volta do Esperidião Amin, que olhou demais para Brasília e descuidou de Santa Catarina, pela ambição política?

Tem vários aspectos a considerar. Número 1: ele foi candidato à presidência  da República em 1994, em um projeto equivocado. O Esperidião Amin é um gênio da política e hoje é a maior autoridade política do Estado, mas também dá as suas derrapadas. Se candidatar à presidência foi uma.

O fato de você ter 60% de aprovação não significa que vai ter 60% dos votos. E digo mais, Luiz Henrique da Silveira teve a mesma garra para derrotar Esperidião Amin em 2002 que o próprio Esperidião teve para derrotar o Jaison 20 anos antes.

E depois a tríplice aliança resultou nas eleições do Raimundo Colombo como governador, como foi a trajetória dele?

Ele teve alguns altos e baixos. A principal obra foi a ponte Hercílio Luz. Acho que o (Carlos) Moisés cometeu essa grande injustiça. O Colombo merecia uma foto em uma placa na inauguração da ponte, sem dúvidas. Mas a grande lacuna do Colombo foi a área cultural. Costumo fazer sempre essa análise com os governadores também. Se tirar o CIC daqui, você perde muito culturalmente.

Hoje, temos uma plateia cativa, um público presente, atrações, filmes e artistas, tudo coopera para o enriquecimento do Estado. É inacreditável saber que isso não existia antes. Hoje, vejo o governo do Jorginho (Mello) com essa falha também. Por isso, o Bornhausen é lembrado até hoje. Luiz Henrique é outro que se destacou na área. O próprio Bolshoi é fruto disso.

E o governo Moisés, algum destaque?

O que ele fez na área cultural? Não lembro. O que Moisés fez na área de construção política? Qual a grande construção que ele fez? Não lembro. Foi um governo muito complicado, acredito que ele errou em trair o presidente(Jair) Bolsonaro, que o elegeu. Santa Catarina perdeu muito com isso.

Presente e futuro

A avaliação do cenário político de hoje e perspectivas do amanhã

A gente vê que o governador Jorginho tem essa preocupação em não descompassar da figura do Bolsonaro, que é muito forte no Estado.

Não sei se isso é positivo, tendo em vista o interesse do Estado. Ele tem razão em manter sua linha política e ideológica, mas acho que vincular-se ao bolsonarismo pode fechar portas em Brasília. Não sei se isso é bom para Santa Catarina. Claro que ele não pode trair o Bolsonaro, mas precisa se relacionar com Brasília.

E como você vê esse governo Lula?

Profundamente decepcionante, sob todos os aspectos. O Brasil está péssimo no exterior, ainda mais quando defende ditaduras, como na Venezuela. Internamente, tem crise toda hora. Enfim, qual projeto de nação esse governo tem para implantar?

Você via um projeto de nação no governo Bolsonaro?

O Bolsonaro tinha projetos positivos. O primeiro foi estimular a nacionalidade. Se você ver os espetáculos na Inglaterra, vê pessoas de todas as idades acenando para as bandeiras.

Na Holanda, todos usam bandeiras alaranjadas. Em qualquer lugar, a bandeira é um símbolo nacional. Duas coisas positivas no Bolsonaro foram despertar esse amor pela bandeira, pela nacionalidade, e ter sido um governo técnico. Na minha opinião, foi um dos governos técnicos melhor montado e executado nos últimos anos.

Na última eleição, vimos grande polarização com Lula e Bolsonaro. Você se vê hoje dentro dessa polarização ou enxerga a possibilidade de outro caminho?

Neste momento, eu não vejo. Porque o bolsonarismo se confundiu com esses valores da família brasileira, que são da sociedade judaica-cristã, que se aplica na família, educação, valores, escola sem partido, defesa da vida, defesa da liberdade de expressão.

Isso não é esquerda. A esquerda tinha esta bandeira como a principal, sou testemunha como presidente do sindicato. Eles tinham o monopólio da liberdade e hoje quem assume isso é a direita, os esquerdistas erram na avaliação. A bandeira da liberdade não é do bolsonarismo, e sim de pessoas específicas.

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