Por que o Brasil não tem fiação subterrânea?

A cidade de São Paulo ficou às escuras por dias e viveu momentos caóticos. O apagão aconteceu após uma tempestade, no dia 11. Segundo a prefeitura, 386 quedas de árvores foram registradas. O recente caso paulista levanta uma discussão: por que o Brasil não tem fiação subterrânea?

A opção por aterrar a fiação é uma forma de minimizar apagões, além da vantagem estética envolvida. Entretanto, é algo desafiador, pelo alto custo e pela extensão territorial do País, motivos que indicam por que o Brasil não tem fiação subterrânea considerável.

O drama de São Paulo apenas reacendeu um debate antigo no País. Entenda por que o Brasil não tem fiação subterrânea significativa, as vantagens e desvantagens da fiação subterrânea e o planejamento necessário para avançar no tema.

Por que o Brasil não tem fiação subterrânea: São Paulo ficou às escuras

Por que o Brasil não tem fiação subterrânea: pergunta volta à tona após apagão em São Paulo | Foto: ESTADÃO CONTEÚDO/ND

Por que o Brasil não tem fiação subterrânea?

O apagão em São Paulo e os impactos da fiação aérea no Brasil

Na última sexta-feira, dia 11, um temporal atingiu a cidade de São Paulo e provocou estragos. Segundo a Defesa Civil, sete pessoas morreram na região metropolitana e no interior do estado.

A população de São Paulo teve de lidar com um período prolongado sem luz A Enel, concessionária de energia elétrica, apontou que o apagão que atingiu a cidade e a região metropolitana deixou 3,1 milhões de imóveis sem energia.

Além de árvores, 251 postes também foram afetados. O balanço do estrago apontou danos em 17 linhas de alta tensão, 221 circuitos de média tensão, 11 subestações e 17 transformadores na capital. A Enel, nesta quinta-feira (18), ainda trabalhava para restabelecer a luz para 36 mil clientes.

Segundo estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), o prejuízo financeiro aos setores de varejo e serviços é de R$ 1,65 bilhão.

O drama paulista fez voltar à tona o debate sobre a infraestrutura elétrica do País. Uma pergunta novamente ecoou: por que o Brasil não tem fiação subterrânea?

Por que o Brasil não tem fiação subterrânea: São Paulo viveu drama

Apagão em São Paulo reacende o debate: por que o Brasil não tem fiação subterrânea? | Foto: Enel/ Reprodução/ ND

Fiação subterrânea: o que é e como funciona?

Preferência em muitos locais do mundo, a fiação subterrânea consiste na instalação de cabos (energia elétrica, televisão ou telefonia) no interior do solo, em uma profundidade de cerca de 50 metros.

Além do mapeamento necessário para evitar que os cabos se encontrem com a rede de água e esgoto, a fiação subterrânea requer enterrar os dutos em valas, apoiados em uma base de concreto.

O percurso também deve contar com caixas de passagem e câmaras de transformação (lugares para os transformadores e chaves de desligamento). Ainda é necessário aterramento com areia.

Cidades como Londres, Paris, Nova York e Pequim têm percentual significativo ou se esforçam para ampliar a fiação subterrânea cada vez mais. A capital da Inglaterra, por exemplo, iniciou, em 2020, um projeto de 1 bilhão de libras (R$ 7,3 bilhões, na cotação atual) para tornar a rede elétrica de energia toda subterrânea no sul de Londres.

Já Nova York passou a investir na fiação subterrânea em 1888, após fortes nevascas castigarem a cidade. Hoje em dia, cerca de 71% do cabeamento é subterrâneo na cidade.

O principal benefício da fiação subterrânea é diminuir problemas provocados por eventos climáticos, como a tempestade que atingiu São Paulo na semana passada. Além disso, essa opção garante mais vida útil à fiação. Outra vantagem é a estética do ambiente urbano, por representar menos postes e fios espalhados pelas ruas.

Normalmente, os apagões no Brasil estão relacionados a quedas de árvores, comprometendo a fiação e provocando curtos circuitos. Esse problema não acontece com fiação subterrânea. E por que o Brasil não tem fiação subterrânea considerável?

Por que o Brasil não tem fiação subterrânea em larga escala?

O alto custo e a extensão territorial do Brasil representam desafios e obstáculos para a implementação da fiação subterrânea no País. O custo do aterramento é significativamente maior (pode variar de cinco a dez vezes mais caro) do que a instalação de uma rede aérea, o que começa a explicar por que o Brasil não tem fiação subterrânea.

Fios ‘compõem’ o ambiente de muitos locais – Foto: Jaraguá do Sul/Divulgação/ND

Além disso, adotar a fiação subterrânea requer um planejamento de longo prazo, com uma logística desafiadora. É necessário, por exemplo, interditar locais para cavar as valas, o que afetaria a dinâmica do local e causaria transtornos.

Um ponto negativo da fiação subterrânea é que a identificação de um possível problema pode ser mais demorada. Isso porque a rede não está visível como a aérea.

No Brasil, a fiação subterrânea corresponde a cerca de 1% da malha elétrica, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). São Paulo, há anos, tem planos de aumentar essa opção na cidade. Contudo, sem avanços significativos.

Vantagens da fiação subterrânea: segurança, estética e menos apagões

A proteção contra as intempéries se configura como a principal vantagem de redes elétricas no subsolo. Com o aterramento da rede, ela não fica exposta e não sofre os impactos de chuvas e ventos fortes, que resultam em quedas de postes e árvores na fiação aérea.

Os especialistas de engenharia elétrica apontam que essa opção é a melhor proteção contra eventos climáticos, o que evitaria problemas com queda de energia e apagões que muitas cidades do Brasil enfrentam com problemas com fiação aérea.

O impacto no visual das cidades também representaria um benefício. Atualmente, muitos locais lidam com emaranhados de fios, configurando poluição visual.

Emaranhado de fios polui visualmente as cidades – Foto: Leo Munhoz/ND

A poluição visual se junta, muita das vezes, a problemas de segurança pública, como roubos de fios, por exemplo. A opção subterrânea pode diminuir esse tipo de furto. E por que o Brasil não tem fiação subterrânea significativa?

Desvantagens e custos da fiação subterrânea

O fator custo da fiação subterrânea no Brasil é um obstáculo e se enquadra no “bloco de desvantagens”. A instalação, além do valor elevado, representa outro desafio pelo impacto que provoca, o transtorno de obras em locais movimentados.

Optar por fiação subterrânea precisa de um planejamento meticuloso, até porque demanda anos para fazer as obras necessárias e instalar o sistema de forma adequada e eficaz.

Além disso, a operação do sistema é mais complexa em relação a um dos pontos envolvidos na manutenção de redes elétricas. Por exemplo, essa opção requer um número maior de profissionais para o trabalho no dia a dia e também especificações, como certificação para espaço confinado, o que encarece o modelo.

A extensão do País também explica por que o Brasil não tem fiação subterrânea significativa. Isso representa um desafio a mais. Entretanto, é um processo de longo prazo, que exige avanços aos poucos.

Cidades brasileiras com fiação subterrânea

A Grande São Paulo, no foco pelo recente apagão, tem apenas 6% dos 43 mil quilômetros de fios da rede elétrica. A cidade brasileira com o maior percentual é o Rio de Janeiro, com 11% de fiação subterrânea. Porto Alegre tem 9%, enquanto Belo Horizonte tem 2%.

Os números das cidades brasileiras são bem diferentes na comparação com Nova York, que conta com 86% da modalidade subterrânea, em um processo iniciado lá em 1888.

Os dados levantados pelo Ipea expõem como a fiação subterrânea no Brasil é insignificante. O apagão em São Paulo 2024 põe o dedo na ferida em relação ao tema.

Por que o Brasil não tem fiação subterrânea: é viável?

A discussão sempre volta à pauta com apagões: por que o Brasil não tem fiação subterrânea? Embora cidades tenham planos de aumentar a opção, os avanços, até aqui, têm sido pequenos.

A viabilidade de uma guinada maior para essa opção para a infraestrutura elétrica no Brasil só será possível com um planejamento a longo prazo e parceria entre os governos (federal, estadual e municipal). Afinal, trata-se de política pública, com investimentos em infraestrutura elétrica.

No longo prazo, segundo especialistas, a opção por fiação subterrânea compensa – os benefícios prevalecem sobre as desvantagens. Entretanto, o planejamento com alternativas à fiação aérea deve ser bem-feito e gradual.

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