Quem é o servidor do BC multado em R$ 10 milhões por pesca de tubarão

Multado em R$ 10,8 milhões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por pesca de tubarão-azul, o servidor Eduardo Gonçalves Costa Amaral trabalha no Banco Central há 14 anos.

Eduardo é um dos 30 pesquisadores da instituição monetária. Ele é conselheiro adjunto do Departamento Econômico (Depec) e tem remuneração bruta de R$ 33.628,23 mil, conforme o Portal da Transparência.

Atualmente, está licenciado do BC para exercer o cargo de economista visitante no Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Cidade do México. Ele é graduado em engenharia de produção e tem doutorado em economia.

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Agentes do Ibama fazem apreensão e pesagem do tubarão-azul

Eduardo Gonçalves é servidor do Banco Central há 14 anos.
Embarcação de servidor do BC foi alvo de operação do Ibama sobre pesca de tubarão-azul
Agentes do Ibama deflagram operação em quatro cidades gaúchas
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Eduardo Gonçalves Costa Amaral, servidor do BC, foi multado pelo Ibama em R$ 10 milhões por pesca de tubarão

Reprodução/ Banco Central

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Agentes do Ibama fazem apreensão e pesagem do tubarão-azul

Ibama/Reprodução

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Eduardo Gonçalves é servidor do Banco Central há 14 anos.

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Embarcação de servidor do BC foi alvo de operação do Ibama sobre pesca de tubarão-azul

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Agentes do Ibama deflagram operação em quatro cidades gaúchas

Ibama/Divulgação

O servidor está lotado no Rio de Janeiro, a mais de 1,8 mil quilômetros de distância do litoral sul do Brasil, onde a embarcação dele foi flagrada com toneladas do animal marinho.

Procurado pela coluna, Eduardo explicou que a pesca é um negócio de família, uma espécie de complemento de renda para aposentadoria dos pais, e alegou que a atual legislação gera insegurança jurídica.

Servidor do BC foi multado três vezes pelo Ibama

Conforme a coluna revelou, o servidor do BC foi multado três vezes pelo Ibama. Juntas, as três penalidades totalizam R$10,8 millhões. Elas foram aplicadas em 2018, 2023 e 2024, nas cidades de Rio Grande (RS) e Itajaí (SC).

O tubarão-azul figura desde 2010 na lista de animais quase ameaçados de extinção. A captura desse tipo de pescado não é proibida no Brasil, mas é regulada. Há um limite legal por embarcações como forma de manter a preservação sustentável da espécie.

O Ibama aponta que Eduardo Amaral não têm autorização para pescar o animal marinho. O órgão ambiental destacou no processo que o servidor do BC utilizou uma licença de captura de outras espécies para “direcionar o esforço da pesca” mirando o tubarão-azul como alvo principal.

Procurado, o Banco Central disse que não comenta assuntos relacionados a vida privada dos seus servidores.

Multas em 2024, 2023 e 2018

A multa mais recente aplicada a Eduardo ocorreu no último dia 10 de setembro, no valor de R$ 2,7 milhões, devido à pesca de 135 toneladas de espécies diversas sem autorização.

As outras duas multas ocorreram em 2018 e em 2023, nos valores de R$ 7,82 milhões e R$ 290 mil, respectivamente. Sendo essa última, no âmbito da Operação Maikara coordenada pelo Ibama. O órgão ambiental argumentou que ele matou toneladas de tubarão-azul em desacordo com decreto estadual de espécie em extinção.

Nenhuma das três multas foram pagas. O servidor explicou que recorreu das duas mais antigas e que ainda não foi notificado do terceiro auto de infração. O Ibama analisa os argumentos da defesa.

Eduardo alega que não ultrapassou o limite legal de quilos permitidos pela embarcação, e que tem autorização do Ministério da Pesca e Aquicultura para capturar determinas espécies marinhas, entre elas o tubarão-azul.

O Ibama, no entanto, diz que a autorização dele não contempla o tubarão-azul como espécie-alvo de uma pescaria, mas, sim, como “fauna acompanhante” e que houve direcionamento proposital da captura daquela espécie. “Conforme o auto de infração, 96% da carga apreendida é de fauna acompanhante”, informou o órgão ambiental em setembro do ano passado.

Servidor diz que pesca gera lucro pequeno

Em conversa com a coluna, Eduardo admitiu ser proprietário do barco “Ana Amaral I”, onde os agentes do Ibama encontraram a pesca ilegal, e afirmou que a embarcação atende os negócios da família dele há 20 anos.

“Eu sou proprietário de uma embarcação há muitos anos. Há mais de 20 anos é feito essa pesca. É uma pesca que gera um lucro muito pequeno, é uma complementação de renda que eu uso para ajudar meu pai e minha mãe, que são aposentados. E ajudo eles a viverem, a pagar as contas do dia a dia”, explicou.

Na avaliação dele, o Ministério da Pesca e Aquicultura tem um entendimento diferente do Ibama, o que tem gerado uma insegurança jurídica para os pescadores.

“Essa é uma pesca que existe no Brasil há décadas, há anos. É uma pesca para alimentação humana. Eu não exporto, eu só faço a captura do tubarão e vendo no mercado a R$ 2,00 kg. Não é uma pesca que tem um valor tão grande para o meu barco”, completou.

Pesca sustentável do tubarão-azul

O Ministério da Pesca e Aquicultura e o Ministério do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas publicaram, em março deste ano, uma portaria interministerial determinando o limite de captura de tubarão-azul por embarcações brasileiras de 3.481 toneladas. A medida visa evitar que a espécie entre em risco de extinção e garante uma pesca sustentável do animal marinho.

Segundo o Ibama, o Brasil figura como “comprador mundial de tubarões e participa do mercado internacional de barbatanas, consideradas iguarias de alto valor na Ásia”. Ultimamente, o órgão ambiental identificou, em transações comerciais recentes, o que chamou de “grandes fraudes de origem, lastreada pela pesca ilegal e irregular”.

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