
Nesta segunda-feira os mercados financeiros ao redor do mundo registraram fortes quedas, refletindo o impacto da intensificação da guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas do planeta: Estados Unidos e China. O anúncio de novas tarifas sobre produtos agrícolas americanos por Pequim desencadeou um efeito dominó nos mercados globais, afetando desde Wall Street até a Bolsa de Valores de São Paulo.
O que aconteceu?
A China anunciou hoje um novo pacote de tarifas sobre importações dos EUA, elevando os impostos sobre soja, milho, trigo e carnes em até 15%. A medida foi uma resposta direta ao aumento tarifário promovido pelo governo americano, que recentemente impôs taxas de 20% sobre produtos chineses. O recrudescimento da disputa comercial gerou um forte clima de aversão ao risco nos mercados.
“No curto prazo, estamos vendo o mercado encarar uma realidade que já vinha se desenhando há anos: a necessidade de descentralizar a produção global. Mas, ao invés de uma transição natural, isso está acontecendo com a ‘arma na mesa’, o que gera impactos negativos imediatos para os investimentos”, avaliou Caio Augusto, economista do Terraço Econômico, em entrevista ao Flash News.
Impacto nos Mercados
Wall Street afunda
O efeito foi imediato nas bolsas dos Estados Unidos. O S&P 500 recuou cerca de 2%, enquanto o Nasdaq, índice das gigantes de tecnologia, despencou mais de 3%, atingindo o menor nível dos últimos seis meses. Empresas como Apple, Nvidia e Tesla registraram perdas significativas, enquanto os bancos, como Morgan Stanley e Goldman Sachs, também foram duramente atingidos.
Europa segue no vermelho
O pessimismo não ficou restrito aos Estados Unidos. Na Europa, o índice STOXX 600, que representa as maiores empresas do continente, operou em queda, puxado pelos setores bancário e de construção. O índice DAX (Alemanha) e o FTSE 100 (Reino Unido) também fecharam o dia no vermelho.
Brasil e emergentes sofrem o impacto
No Brasil, o Ibovespa, principal índice da B3, seguiu a tendência global e caiu 0,41%, fechando em 124.519 pontos. Já o dólar comercial, como esperado em momentos de aversão ao risco, subiu 1,06%, sendo cotado a R$ 5,85.
Mesmo os ativos digitais não escaparam da volatilidade. O Bitcoin caiu mais de 2%, ficando abaixo de US$ 80.000.
“O investidor está inseguro e tentando entender os próximos passos dessa guerra comercial. Há um claro movimento de proteção, com forte migração para ativos considerados mais seguros, como o ouro e títulos do Tesouro americano”, destacou Caio Augusto.
Por que essa disputa afeta os investimentos?
A guerra comercial entre China e EUA não é um fenômeno recente. Desde 2020, o mundo vem repensando sua dependência da produção chinesa. A pandemia evidenciou os riscos de ter cadeias produtivas concentradas em um único país, levando empresas a buscarem novos polos de fabricação.
Contudo, a maneira como essa transição está sendo forçada pode trazer mais danos do que benefícios no curto prazo.
“A China passou 30, 40 anos desenvolvendo sua capacidade produtiva e reduzindo custos. A ideia de simplesmente transferir toda a produção para outro lugar da noite para o dia é ingênua. A competitividade chinesa não pode ser substituída instantaneamente”, explicou Caio Augusto.
Além disso, a escalada das tarifas gera um impacto inflacionário direto nos EUA, o que pode forçar o Federal Reserve a rever suas políticas monetárias. O Federal Reserve de Atlanta já projeta uma retração de quase 3% para o primeiro trimestre de 2025, um cenário bem diferente do otimismo econômico registrado nos anos anteriores.
Recessão nos EUA está a caminho?
A tensão nos mercados alimenta as expectativas de uma possível recessão nos Estados Unidos ainda em 2025. Segundo Caio Augusto, esse temor não é novo, mas os sinais de desaceleração estão mais evidentes agora.
“Desde 2023, há previsões de que a economia americana precisaria frear em algum momento. Agora, todos os incentivos já foram utilizados e não têm o mesmo efeito de antes. A recessão está no radar e pode acontecer ainda neste ano”, afirmou.
Além disso, a postura agressiva dos EUA na guerra comercial pode ter um efeito reverso. Países que antes dependiam do mercado americano podem buscar alternativas, fortalecendo a economia chinesa em vez de enfraquecê-la.
“Xi Jinping deve estar entre os líderes mais satisfeitos do planeta desde o retorno de Donald Trump ao poder. Ao tentar isolar a China, os EUA podem acabar impulsionando sua influência global”, concluiu o economista.
O que esperar dos próximos dias?
Os próximos dias serão cruciais para entender a reação dos bancos centrais e dos governos a essa nova escalada da guerra comercial. No Brasil, o Banco Central pode enfrentar mais pressão sobre o câmbio, enquanto os investidores globais monitoram de perto qualquer sinal do Federal Reserve sobre uma possível mudança na taxa de juros.
Enquanto isso, o mercado deve permanecer volátil, com investidores ajustando suas estratégias para se proteger da turbulência global.
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