‘Desistir é um verbo que eu não conjugo’, diz professora que enfrentou preconceitos e hoje forma procuradores e juízes


Com 16 anos de ensino para concurso, Ceres Rabelo, acredita na transformação de realidades pela educação. Ceres Rabelo é professora de direito
Ceres Rabelo/Arquivo Pessoal
“Quando alguém me diz que quer ser professor, eu digo: ‘está preparado?’ porque é uma jornada, um caminho sem volta”. A frase é da professora Ceres Rabelo, que coleciona momentos memoráveis do processo de construção da carreira que encara como uma missão que sempre admirou: a de ser professora.
Ceres é paraibana de coração, de estrada profissional e de título oficializado pela Assembleia Legislativa do Estado, mas é pernambucana de registro. A professora é filha de um engraxate e uma artesã e teve uma infância pobre em Serra Talhada, no interior de Pernambuco, onde cresceu em meio a dificuldades, mas sempre compreendendo que para mudar a própria a realidade, a educação seria o caminho.
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Segundo a professora, as habilidades de comunicação, que seguem com ela para cada sala de aula, surgiram muito cedo quando ainda criança brincava de entrevistar, explicar o que aprendia e dar aula para a família e para os colegas.
“A gente não se torna professora, a gente nasce professora. É um dom. Repassar ensinamento e conhecimento é algo que transcende a vida. A gente já nasce professor”, disse ela.
Ceres Rabelo nasceu e viveu a infância em Serra Talhada, Pernambuco
Ceres Rabelo/Arquivo Pessoal
Encorajada pelos pais e pelo irmão, a menina que deu os primeiros passos em um casa sem água encanada e rodeada pelo barro seco e batido do Sertão pernambucano, deu continuidade à sua paixão pelos estudos em João Pessoa em 2000. O caminho de adaptação à nova realidade cruzou com o preconceito imediatamente.
“A gente sabe que existe o preconceito com quem é sertanejo, com quem é do interior e eu vim adolescente e aqui o pessoal dizia que eu comia palma que o gado não queria. Eu escutava essas coisas e isso só fazia me fortalecer porque eu quis vencer pelo conhecimento e mérito e foi assim que conquistei”, explicou.
Já na capital paraibana, chegou a lecionar inglês e português, mas o direito a conquistou a ponto de fazê-la cursar a graduação com bolsa de estudos e de levar a então estudante a se encantar pela sala de aula mesmo com tantas dificuldades que a acompanharam no processo de crescimento profissional.
“Faz 16 anos que estou em sala de aula e vou ficar até o último dia de vida com certeza e a maior dificuldade que eu encontrei é a do começo quando os alunos pensavam ‘aula de Direito Penal, então vai vir um professor policial militar de 1,90m ou um policial civil’ e vinha uma professora novinha, mas que dominava o assunto. Então o preconceito e machismo sempre existiram”, comentou.
Trajetória no universo dos concursos
Ceres Rabelo é professora de direito
Ceres Rabelo/Arquivo Pessoal
Após emendar o curso de direito em pós-graduações importantes como Processo Civil e Direito Militar, Ceres viu à sua frente a oportunidade de continuar em sala de aula, onde coleciona disciplinas ministradas como: Processo Penal, Direito Penal, Legislação Extravagante, Direito Civil, Processo Civil, Geoestratégia, Geopolítica, Direitos Humanos, Direito Internacional e Direito Constitucional.
Após 16 anos ininterruptos de ensino, o nome da pernambucana de coração paraibano consegue ocupar lugares de destaque e registros no currículo como o de professora de cursos online transmitidos por canais do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ceres Rabelo ensinou em cursos online transmitidos por canais do Supremo Tribunal Federal (STF)
Ceres Rabelo/Arquivo Pessoal
Entre os feitos que mais a orgulham está o de participar da aprovação de profissionais em carreiras como as de policiais, auditores, procuradores, juízes, entre outros.
As conquistas, segundo a professora, vêm de pessoas de diferentes regiões do país que em boa parte acompanham ou acompanharam as aulas por meio de plataformas e redes sociais, por onde boa parte das aulas são disponibilizadas. Celebrar a mudança positiva na vida desses concurseiros por meio da educação é o que, segundo a profissional, dá sentido à missão e faz aliviar as dificuldades que marcam a trajetória.
“Lembro que no cursinho onde ministrava aula em 2008, eu tinha que preparar aula, questões e ministrar era equivalente a R$ 9 a hora/aula. Um aula de direito que exigia conhecimento de jurisprudência, de técnica e de doutrina. Então essa desvalorização deixa a gente abatido, mas quando a gente recebe um bilhete ou encontra alguém na rua dizendo ‘professora, fui seu aluno e sou concursado, sou policial, auditor da receita…’ isso não tem preço”, disse orgulhosa.
Rotina intensa
Com a pandemia, a professora viu a rotina se intensificar ainda mais. Procurada por plataformas de ensino à distância, Ceres se divide entre palestras e viagens mensais entre João Pessoa e Brasília para gravação de aulas em estúdios de educação à distância, o que segundo ela, a satisfaz por poder alcançar ainda mais pessoas ao usar a internet com o objetivo de romper as barreiras geográficas.
Dedicada aos concurseiros, é também concursada na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), advoga e é vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-PB, além de defensora da causa animal.
Amor pela Paraíba e pela profissão
Ceres Rabelo recebeu Título de Cidadã Paraibana e medalha Epitácio Pessoa, maior honraria da ALPB
Ceres Rabelo/Arquivo Pessoal
Também na ALPB, recebeu o título de cidadã paraibana e a medalha Epitácio Pessoa – maior honraria da Assembleia – em maio deste ano, após obter maioria absoluta dos votos da Casa, que a reconheceu pelos serviços prestados à educação da Paraíba.
A professora hoje vê cada dificuldade e conquista no caminho como motivos para continuar na profissão que, de acordo com ela, a escolheu.
“Desistir é um verbo que eu nunca conjugo. O que me motiva é saber que minha profissão nunca vai acabar porque todos nós precisamos de professores várias vezes na vida e ainda vamos precisar para muitas coisas. Essa é uma profissão muito bela”, disse.
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