Ozempic natural? Chá verde traz benefícios para a saúde, mas impacto na perda de peso é pequeno


Especialistas explicam que o chá pode ser um auxiliar no processo, mas não existe nenhum alimento ou suplemento mágico para emagrecer. Chá verde é um Ozempic natural?
Reprodução EPTV
Se você nasceu entre os anos 90 e 2000, provavelmente deve ter ouvido que o chá verde é ótimo para emagrecer. Ele sempre figurou nas dietas (da moda ou não) por seus componentes, como as catequinas e a cafeína, que podem contribuir para a perda de peso de algumas maneiras. Agora, ele vem recebendo um novo título, o de “Ozempic natural”.
Especialistas ouvidos pelo g1 explicam que o chá verde pode ser um aliado na estratégia de perda de peso, mas não existem alimentos mágicos que promovam um emagrecimento rápido. Além disso, é preciso lembrar que o Ozempic é um medicamento — e também não opera milagres.
“A semaglutida é remédio para tratar doenças, como obesidade e diabetes. Os chás podem ser úteis em uma estratégia alimentar, já que têm baixa caloria, hidratam e podem ter um efeito diurético. Mas nenhum chá isoladamente se provou emagrecedor”, explica o endocrinologista Alexandre Hohl, vice-presidente do departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
“Existem alimentos com efeito termogênico, como o chá verde, mas o que eles aumentam no nosso metabolismo não impacta o todo. Esses alimentos aumentam o metabolismo na hora que ingerimos e eles só têm efeito naquele consumo. O incremento de aumento de metabolismo é muito pequeno, não faz diferença na perda de peso”, ressalta a nutricionista Lara Natacci, pós-doutora em nutrição pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora clínica da Dietnet.
“Seja o chá verde ou qualquer outro tipo de alimento isoladamente não irá resolver o problema, já que o emagrecimento requer olhar multifatorial, com alimentação ajustada em déficit calórico, sono, atividade física, gestão do estresse, equilíbrio hormonal, estoque adequado de nutrientes corporais, hidratação”, completa Gisele Haiek, nutricionista funcional especializada em emagrecimento feminino e saúde da mulher.
📍Para recordar: o Ozempic virou febre entre pessoas que desejam emagrecer. O medicamento, que tem como princípio ativo a semaglutida, é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2. No entanto, cientistas começaram a observar um “efeito colateral” da substância: a perda de peso. Em 2024, chegou ao Brasil o Wegovy, medicamento indicado para o tratamento de obesidade, que também tem a semaglutida como ativo.
Produzida por companhia Dinamarquesa, semaglutida é destinada para tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
Reprodução/Fantástico
A cereja do bolo
Para as nutricionistas, o chá verde pode ser a “cereja do bolo” do plano alimentar. No entanto, é preciso primeiro do bolo.
“O chá verde tem propriedades que podem auxiliar no processo de emagrecimento, mas é preciso estar tudo muito ajustado, inserido em um contexto para o emagrecimento. Ele tem compostos bioativos interessantes, mas precisa estar em uma estratégia alimentar. Não adianta estar na ‘carbolândia’, consumindo um monte de açúcar, e colocar o chá verde”, pontua Gisele Haiek.
Ela reforça que o contexto importa mais do que a inclusão isolada de um alimento e dá um exemplo: se no seu plano alimentar estão estipuladas 2.000 calorias e você consome 5.000 calorias, de nada adianta inserir qualquer “alimento milagroso” e achar que vai emagrecer.
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Uma xícara de chá não faz mal…
Os especialistas alertam que é preciso cuidado na hora de ingerir chás.
“Não devemos ultrapassar o consumo de até 3 xícaras de 250 mL de determinado chá ao dia. Ficar tomando chá o dia todo achando que vai ajudar a desinchar não é legal. De maneira geral, os chás aumentam a diurese e a eliminação de líquidos. Algumas pessoas substituem a água pelo chá e acabam desidratando”, diz Gisele Haiek.
Também não é indicado tomar por mais de três dias seguidos o mesmo chá. E se o chá escolhido da vez foi o verde, cuidado com os horários e o consumo, já que ele possui cafeína, que pode trazer insônia, ansiedade, taquicardia ou problemas estomacais.
Alexandre Hohl, que também faz parte da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), lembra que as plantas não são inofensivas e podem provocar problemas como insuficiência hepática aguda, por exemplo.
Seguindo a trend do momento
De tempos em tempos, surge uma nova trend, seja de um alimento, suplemento ou mesmo dieta. Segundo Lara Natacci, o risco de seguir dietas com esses alimentos “milagrosos” é que elas não serão feitas para sempre.
“Geralmente essas dietas envolvem restrições, com o consumo de um só alimento, restrição de um determinado grupo alimentar. A dieta não está de acordo com a rotina da pessoa, não está individualizada com as possibilidades de cada. A chance de não conseguir sustentar é muito grande”, aponta a nutricionista.
Estudos apontam que pessoas que fazem restrição severa na alimentação, até 80% delas recuperam o peso depois porque não conseguem manter. O resultado: efeito sanfona. O processo constante de emagrece-engorda tem um impacto negativo no coração e pode provocar diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e alteração do metabolismo, mesmo para quem não está acima do peso.
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Fazendo o básico
Pode parecer clichê, mas o básico bem-feito funciona:
Consumir fontes de proteína, fontes de carboidrato e complementar com frutas, verduras e legumes (priorizar sempre o natural)
Se manter hidratado
Fazer atividade física
Cuidar do sono
Gerenciar o estresse
Cuidar dos relacionamentos
Evitar o abuso do álcool
Tomar sol e ter contato com a natureza
Desconfiar de promessas milagrosas
“O que faz a diferença são os hábitos saudáveis, que incluem a alimentação equilibrada, exercício frequente, sono, ter relacionamentos saudáveis. É um conjunto de fatores associado a tendência genéticas, ambiente que a pessoa vive. É simplista falar que um suplemento vai trazer algum benefício nesse sentido, ele pode ter um efeito meio placebo. Se não existir mudança, o suplemento não vai funcionar”, finaliza Lara Natacci.
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