Empresária de Uberaba relata momentos difíceis da luta contra o câncer de mama


Viviane Quirino relata impactos da queda de cabelos; especialista explica impactos psicológicos da quimioterapia Viviane Quirino feliz após a dura batalha contra o câncer de mama
Acervo pessoal
Viviane Quirino mora no bairro Santa Maria, em Uberaba. Casada, mãe de três filhos e avó de um neto, ela é uma das coordenadoras do “Doze Guerreiras”, grupo que reúne mulheres que sentiram na pele os impactos do câncer. Além da perda de cabelos, que pode ser compensada com uso de perucas (como as que são doadas a pacientes oncológicas pelo projeto “Bem por Elas”, da TV Integração), os impactos na saúde mental demandam os importantes apoios de especialistas e da família.
Em 2010, aos 38 anos, Viviane recebeu um diagnóstico de câncer de mama. “Meu diagnóstico se deu através de um toque, o autoexame. Senti um carocinho na minha mama esquerda, que há pouco tempo não existia. Liguei para a minha ginecologista, que me disse que não haveria de ser nada, pois eu havia feito todos os exames há oito meses e estava tudo normal. Mas que, por segurança, iríamos repetir. Fiz a mamografia em um dia e no outro, o ultrassom. Os resultados não foram bons”, conta.
A médica pediu que Viviane procurasse um mastologista imediatamente. Ela não teve sorte com o primeiro profissional, porque ele disse que se não fizesse o tratamento, ela morreria em poucos meses.
Meu chão se abriu em um buraco naquele momento. Mas, como acredito sempre que Deus nos mostra o melhor trajeto, Ele colocou um anjo no meu caminho, que me disse que se eu tivesse a arma certa, entraríamos nessa luta e venceríamos. Daí a importância de profissionais especializados e preparados! A tal arma à qual meu médico se referiu era a escolha do tipo de tratamento que ele indicava: a cirurgia de mastectomia radical, que é a retirada da mama toda, e depois a temida quimioterapia
Incertezas quanto ao futuro
Foi uma fase desafiadora, cheia de incertezas, dúvidas, ansiedade e medo que surgiram durante o processo, misturados com fé, vontade de viver e com apoio total e imediato do marido e dos filhos. Viviane conheceu outras pacientes com câncer de mama que, tal como ela, viram-se diante do desafio de passar por mudanças físicas e emocionais.
A reconstrução emocional e psicológica após o tratamento, especialmente com relação à imagem, não foi fácil e nem tampouco legal. Quando olhava no espelho e me deparava com minha imagem meio desconstruída pelo tratamento, sem mama, careca, inchada, pálida, não foi a melhor sensação. Porém, ter uma rede de apoio como a que eu tive, que te aceita, respeita e te permite ajuda a viver aquele momento delicado, deixando claro que você tem pessoas te apoiando, que tudo aquilo era passageiro e que o mais importante era eu estar viva e curada. Isso faz com que você passe a aceitar melhor todo esse caminhar. Foi o que eu ouvi várias vezes do meu esposo
Viviane afirma que é muito importante ter o apoio de familiares e amigos. “O câncer muitas vezes transforma a vida das pessoas e também de seus familiares. Essa experiência mudou a minha perspectiva sobre a vida. Claro que o receio de recorrência e as incertezas fazem parte da minha vida em algum momento, mas aprendi muito durante todo o processo da doença e agradeço imensamente a Deus pela oportunidade de estar aqui curada, junto com minha família e amigos”.
Viviane Quirino com a família
Acervo pessoal
Medo de retorno da doença no pós-tratamento
O medo da recorrência é bastante comum entre pacientes que superaram o câncer. “Para mim, compartilhar estratégias, estar com pessoas que amo, ter fé em Deus, viver um dia por vez, manter o acompanhamento médico regular e ter adotado uma vida mais saudável, praticando esportes e fazendo sempre o que me faz bem me ajuda bastante a não ficar piscada com isso”, ressalta Viviane.
Para a empresária, o câncer pode ser mais do que um temido vilão. “Também foi um grande professor. Aprendi com ele coisas como o fato de que eu preciso estar bem para que eu consiga cuidar dos outros. Vivo o hoje intensamente. O ontem passou e o amanhã, não sei como será. O câncer não é uma sentença de morte. Ele pode, pode sim, ser um recomeço de vida te tornando mais resiliente, mais forte, grata à Deus e a todos que estão ao seu redor. A vida é linda e eu amo viver”, acrescenta.
Especialista explica impactos da quimioterapia na saúde mental
Taísa Vaz de Mendonça (CRP 04-44428) atua como psicóloga clínica para adultos
Acervo pessoal
Taísa Vaz de Mendonça (CRP 04-44428) é psicóloga, terapeuta cognitiva comportamental e pós-graduanda em Neuropsicologia. Trabalha como psicóloga clínica para adultos, crianças e adolescentes no Espaço Arte e Mente, em Uberaba. Ela explica que o tratamento quimioterápico afeta a saúde mental das pacientes de diversas maneiras.
A forma e a intensidade dependerão de alguns fatores que são individuais em cada pessoa. Mas, de maneira geral, além de todo impacto físico, os medos que envolvem o curso da doença e os aspectos relacionados à perda de cabelo são os mais desafiadores. A história de vida, a forma de ver e enfrentar o mundo, sua rede de apoio, a relação com a própria espiritualidade, a maneira como recebeu a notícia, o acesso aos serviços de saúde e aos profissionais de saúde adequados podem influenciar em como a paciente irá enfrentar a situação
Ainda segundo Taísa, receber um diagnóstico de câncer já tem uma repercussão negativa na vida de uma pessoa e por isso a forma como esse tratamento será conduzido, envolvendo inclusive todas as pessoas que têm contato com a paciente, fará toda a diferença no seu estado psicológico.
“Bem por Elas” como exemplo a ser seguido
Viviane Quirino classifica o “Bem por Elas”, iniciativa da TV Integração que promove doações de cabelos para confecção de perucas que são posteriormente doadas a pacientes oncológicas, como uma ação significativa tanto no aspecto físico quanto no emocional.
Perder o cabelo durante a quimioterapia, que é um efeito colateral comum, é um momento difícil para muitas pacientes, como foi para mim, já que o cabelo é frequentemente associado à identidade e autoestima. A ação de receber cabelos para produção e doação das perucas ajuda a resgatar essa autoestima, proporcionando aos pacientes uma sensação de normalidade e controle em um momento de tanta vulnerabilidade
Além disso, acrescenta Viviane, essa ação reforça o espírito de solidariedade e empatia. “Quando alguém doa o cabelo, está oferecendo mais do que um simples acessório. Está oferecendo confiança, esperança e apoio em uma jornada que pode ser muito desafiadora. Para as pacientes, receber uma peruca confeccionada com carinho por doadores significa saber que não estão sozinhas e que há uma rede de apoio que as ampara. Esse gesto simples, mas profundo, pode fazer toda a diferença no enfrentamento à doença, ajudando a restaurar não só a aparência, mas a força emocional de quem está passando por essa batalha”, conclui Viviane Quirino.
Voluntários exibem mechas coletadas durante edição anterior do ‘Bem por Elas’
Tv Integração
Já a especialista Taísa Vaz de Mendonça (CRP 04-44428) afirma que a autoestima feminina é complexa e envolve fatores diversos. Para a maioria das pacientes a perda dos cabelos tem impacto negativo na autoestima e na própria identidade e feminilidade, pois o cabelo está ligado a fatores culturais e sociais muito difundidos em nosso meio.
A campanha é muito importante e tem o seu valor, pois ajuda essas pacientes a resgatarem um pouco mais da sua autoestima, que afeta seu emocional e, consequentemente, sua saúde mental. Por ser uma campanha solidária, a própria doação de cabelo por outras mulheres estimula a empatia e um apoio importante que promove a sensação de cuidado e de apoio à paciente, permitindo a melhora da sua imagem e confiança neste momento tão desafiador
Programe-se
Em comemoração ao Outubro Rosa (movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama), a TV Integração promove a quarta edição do “Bem por Elas” de 7 a 29 deste mês, no Shopping Uberaba. Renomados cabeleireiros da cidade farão cortes de cabelos para serem doados à Associação Vencer para a confecção de perucas, que posteriormente serão entregues a pacientes oncológicas. Também haverá arrecadação de produtos de higiene e beleza. O evento acontece na loja 526-528, entrada E, ao lado da Milky Moo.

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