
Presidente dos Estados Unidos tem feito ameaças tarifárias constantes contra seus maiores parceiros comerciais. Donald Trump, presidente dos EUA
REUTERS/Kevin Lamarque
As ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mergulharam o país em uma guerra comercial no exterior — e têm aumentado as incertezas pelo mundo, em meio ao vai e vem na implementação de taxas por parte do republicano.
Desde que assumiu o cargo, há menos de dois meses, Trump implementou altos impostos de importação sobre produtos provenientes dos três maiores parceiros comerciais dos EUA, Canadá, China e México — e promete que mais taxas estão por vir.
Como o g1 já mostrou, a ameaça tarifária é uma estratégia antiga e conhecida de Trump para tentar vantagens em negociações bilaterais. Em seu primeiro mandato, o republicano também lançou uma guerra comercial, mas, agora, parece ter planos mais abrangentes.
Economistas enfatizam que pode haver consequências maiores para empresas e para a economia dos EUA e de outros países pelo mundo, além de ressaltarem o temor que de que os preços mais altos por conta das taxas provavelmente deixarão os consumidores norte-americanos pagando a conta.
Veja uma linha do tempo do que aconteceu até agora:
Primeiro mandato de Trump
Trump iniciou uma guerra comercial durante o seu primeiro mandato. Na época, o republicano mirava principalmente a China. Os dois países trocaram uma série de impostos retaliatórios, que afetaram centenas de bilhões de dólares em bens.
A disputa gira em torno das alegações dos EUA de que a China emprega táticas desonestas — incluindo roubo de segredos comerciais e pressão sobre empresas norte-americanas para entregar tecnologia sensível —, em um esforço para suplantar os Estados Unidos em campos avançados, como a computação quântica e carros automatizados.
Trump colocou tarifas sobre a maioria dos produtos chineses, enquanto Pequim respondeu com suas próprias taxas retaliatórias sobre produtos norte-americanos, que iam de frutas, soja e vinha a importações de aeronaves, automóveis e produtos químicos.
Em 2018, Trump impôs impostos de 25% sobre o aço importado e 10% sobre as importações de alumínio, alegando “motivos de segurança nacional”. O republicano também usou a ameaça tarifária para forçar o Canadá e o México a renegociar um pacto comercial com o país, criando o chamado Acordo EUA-México-Canadá (ou USMCA), em 2020.
Tarifas sob Biden
O ex-presidente dos EUA Joe Biden preservou, em seu mandato, grande parte das tarifas decretadas por Trump contra a China. O seu governo, no entanto, afirmou adotar uma abordagem mais direcionada.
Em outubro de 2022, Biden emitiu novas restrições sobre a venda de semicondutores e equipamentos de fabricação de chips para a China. Essas restrições foram expandidas em outubro de 2023 e, depois, em dezembro de 2024.
Naquele momento, a China respondeu com uma proibição de exportações dos EUA para vários materiais de alta tecnológia, como gálio e germânio.
Biden também aumentou as tarifas sobre veículos elétricos, células solares, aço, alumínio e equipamentos médicos com origem da China em maio de 2024.
Em julho do mesmo ano, o ex-presidente também impôs tarifas em aço e alumínio importados do México, mas produzidos em outro lugar, em uma tentativa de impedir a China de contornar as tarifas impostas a ela.
Promessas de campanha eleitoral de 2024
As medidas tarifárias de 2024 aconteceram durante uma campanha presidencial acirrada, com Biden e Trump trocando farpas, na tentativa de mostrar quem é mais duro com a China.
Durante sua campanha, Trump diz que planeja impor tarifas de pelo menos 60% sobre todas a importações chinesas se ganhar um segundo mandato. Ele também trouxe a possibilidade de impor uma taxa de até 20% sobre tudo o mais que os EUA importam, enquanto ameaçava aplicar taxas ainda maiores para países ou fabricantes específicos que levassem seus negócios para fora dos EUA.
Enquanto a administração Biden-Harris usava tarifas para atingir a China, também defendiam que a promessa de Trump de tarifas mais amplas em todo o mundo seria um erro, indicando que as medidas poderiam aumentar as despesas de uma família típica norte-americana em quase US$ 4 mil anualmente.
Novembro de 2024
Em novembro, Trump vence a eleição presidencial dos EUA. Ele continua a prometer grandes aumentos de tarifas.
20 de janeiro de 2025
Trump é empossado presidente dos Estados Unidos. Em seu primeiro discurso durante a cerimônia de posse, o republicano novamente promete “taxar países estrangeiros para enriquecer” os cidadãos norte-americanos.
Em seu primeiro dia no cargo, Trump também prometeu aplicar tarifas de 25% ao Canadá e ao México em 1º de fevereiro, mas se recusou a detalhar imediatamente os planos para taxar as importações chinesas.
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26 de janeiro de 2025
Em 26 de janeiro deste ano, Trump ameaça aplicar tarifas de 25% sobre todas as importações da Colômbia e indica outras medidas retaliatórias ao país, após o presidente colombiano Gustavo Petro ter rejeitado duas aeronaves militares dos EUA que transportavam migrantes para o país.
Em resposta, Petro também anunciou um aumento retaliatório de 25% nas tarifas sobre produtos dos EUA. A Colômbia, no entanto, mudou de ideia. Posteriormente reverteu sua decisão e aceitou os voos que transportavam migrantes. Os dois países logo sinalizaram uma interrupção na disputa comercial .
1º de fevereiro de 2025
Trump assina uma ordem executiva para impor tarifas sobre importações do México, Canadá e China — 10% sobre todas as importações da China e 25% sobre as importações do México e Canadá a partir de 4 de fevereiro .
O republicano invocou esse poder ao declarar uma emergência nacional — ostensivamente sobre imigração ilegal e tráfico de drogas . As taxas sobre o Canadá e o México ameaçam explodir o próprio acordo comercial USMCA de Trump, que permitiu que muitos produtos cruzassem as fronteiras da América do Norte sem impostos.
A ação rapidamente provocou indignação nos três países, com promessas de medidas retaliatórias.
3 de fevereiro de 2025
Trump concorda em pausar as tarifas impostas ao Canadá e ao México por 30 dias, após os países entrarem em um acordo e prometerem tomar medidas para apaziguar as preocupações do republicano sobre a segurança da fronteira e o tráfico de drogas.
4 de fevereiro de 2025
As novas tarifas de 10% de Trump sobre todas as importações chinesas para os EUA entram em vigor .
A China retalia no mesmo dia, anunciando uma enxurrada de contramedidas. Entre elas, novas taxas abrangentes sobre uma variedade de produtos norte-americanos e uma investigação antimonopólio sobre o Google .
As tarifas de 15% da China sobre produtos de carvão e gás natural liquefeito, e uma taxa de 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas e carros de grande porte importados dos EUA, entram em vigor em 10 de fevereiro .
10 de fevereiro de 2025
Trump anuncia planos para aumentar tarifas de aço e alumínio . Ele remove as isenções de suas tarifas de 2018 sobre o aço — o que significa que todas as importações de aço serão taxadas em um mínimo de 25%.
O republicano também aumenta suas tarifas de alumínio de 2018 de 10% para 25%. As medidas devem entrar em vigor em 12 de março.
Trump assina decreto que impõe tarifas recíprocas contra países que taxam produtos dos EUA
13 de fevereiro de 2025
Trump anuncia um plano para tarifas “recíprocas”, prometendo aumentar as tarifas dos EUA para corresponder às taxas de impostos que outros países cobram sobre as importações do país, “para fins de justiça”.
Economistas alertam que as tarifas recíprocas, definidas para anular décadas de política comercial, podem criar caos para os negócios globais .
Além da China, Canadá e México, ele indica que países adicionais, como a Índia, não serão poupados de tarifas mais altas. E nas semanas seguintes, Trump sugere que os países europeus podem enfrentar uma taxa de 25% como parte desses esforços.
25 de fevereiro de 2025
Trump assina uma ordem executiva instruindo o Departamento de Comércio a avaliar se uma tarifa sobre o cobre importado seria necessária para proteger a segurança nacional. Ele cita o uso do material na defesa, infraestrutura e tecnologias emergentes dos EUA.
1º de março de 2025
Trump assina uma ordem executiva adicional instruindo o Departamento de Comércio a avaliar se as tarifas sobre madeira serrada também seriam necessárias para proteger a segurança nacional. O argumento é que a indústria da construção e as forças armadas dependem de um forte fornecimento de produtos de madeira nos EUA
4 de março de 2025
As tarifas de 25% de Trump sobre importações do Canadá e do México entram em vigor , embora ele limite a taxa a 10% sobre a energia canadense. O republicano também dobra a tarifa sobre todas as importações chinesas para 20%.
Os três países prometem medidas retaliatórias. O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau anuncia tarifas sobre mais de US$ 100 bilhões em produtos norte-americanos ao longo de 21 dias, enquanto a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, diz que seu país responderia com suas próprias tarifas retaliatórias, sem especificar os produtos alvos imediatamente, sinalizando esperanças de desescalada.
Enquanto isso, a China impõe tarifas de até 15% sobre uma ampla gama de exportações agrícolas importantes dos EUA. Ela também expande o número de empresas dos EUA sujeitas a controles de exportação e outras restrições em cerca de duas dúzias.
5 de março de 2025
Trump concede uma isenção de um mês em suas novas tarifas que impactam produtos do México e Canadá para montadoras dos EUA . A pausa acontece depois que o presidente falou com líderes de três grandes montadoras, a Ford, a General Motors e a Stellantis.
6 de março de 2025
Em uma extensão mais ampla, Trump adia tarifas de 25% sobre várias das importações do México e algumas importações do Canadá por um mês. O republicano sinaliza, no entanto, que ainda planeja impor tarifas “recíprocas” a partir de 2 de abril.
Trump deu crédito a Sheinbaum pelo progresso na segurança da fronteira e no tráfico de drogas como uma razão para suspender novamente as tarifas. Em uma publicação no X, Sheinbaum disse que ela e Trump “tiveram uma ligação excelente e respeitosa na qual concordamos que nosso trabalho e colaboração produziram resultados sem precedentes”.
As ações de Trump também amenizam as tensõs nas relações com o Canadá, embora a incerteza sobre a guerra comercial permaneça.
Ainda assim, após suas tarifas retaliatórias iniciais de US$ 21 bilhões sobre produtos dos EUA, o governo canadense disse que havia suspendido sua segunda onda de tarifas retaliatórias no valor de US$ 87 bilhões.