Funcionários protestam contra falta de médicos e técnicos e cortes no orçamento no Hospital Federal de Bonsucesso


Setor de emergência foi fechado por falta de pessoal. Relatório diz que o orçamento da unidade não é reajustado há 10 anos. ‘É um descaso’, diz paciente que aguarda cirurgia há 1 ano. Funcionários protestam contra cortes no orçamento no Hospital Federal de Bonsucesso
Salas da direção do Hospital Federal de Bonsucesso (HBF) foram ocupadas por um protesto de funcionários. Eles denunciam o sucateamento da unidade, que já foi referência no Rio.
Documentos encaminhados ao órgão revelam o abandono: faltam médicos, técnicos, enfermeiros e assistentes. E o orçamento vem ficando cada vez menor, impactando no funcionamento.
Segundo documentos da própria unidade, o Hospital Federal de Bonsucesso tem menos dois mil profissionais do que deveria para atender a população.
Faltam médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, técnicos, assistentes, fisioterapeutas e nutricionistas.
A carência de anestesistas provocou o fechamento de seis salas de cirurgias — a unidade já teve 142 profissionais dessa área e hoje tem apenas 44.
O baixo número de clínicos gerais também compromete o setor de emergência que precisou ser fechado.
Hospital Federal de Bonsucesso
Reprodução/TV Globo
Mão de obra escassa
O RJ2 teve acesso a documentos do hospital enviados ao Ministério da Saúde que indicam a necessidade da contratação de pessoal.
Para reabrir a emergência, a unidade vai precisar de, ao menos, 665 médicos, 40 técnicos, 54 assistentes administrativos, 43 farmacêuticos, 199 enfermeiros e 279 auxiliares.
Segundo o documento, é evidente a extrema necessidade de contratação de pessoal para assegurar a abertura da emergência com qualidade e segurança.
Hospital Federal de Bonsucesso
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Além da falta de pessoal, o hospital vem sofrendo com cortes no orçamento. De acordo com um documento, datado da última sexta-feira (4), o orçamento da unidade não é reajustado há 10 anos.
O relatório cita ainda um corte nas verbas: dos mais de R$ 12,5 milhões previstos para o último trimestre desse ano, o Ministério da Saúde enviou pouco mais de R$ 7 milhões, cortando R$ 5,2 milhões.
A coordenadora de despesa alerta no ofício enviado ao Ministério a possibilidade de faltar insumos e medicamentos até o fim do ano, impactando também na limpeza, alimentação, segurança e manutenção.
Segundo outro documento, do começo do mês passado, existem cerca de 300 funcionários cujos contratos já venceram.
São eles 48 médicos, 61 enfermeiros e 179 técnicos, o que pode impactar no fechamento de todo o bloco infantil e de toda enfermaria clínica e cirúrgica, totalizando 136 leitos.
“Isso provavelmente vai impactar no atendimento à população. Nós funcionários aqui de Bonsucesso estamos muito preocupados”, fala o médico e presidente do corpo clínico do HFB, Júlio Noronha.
Hospital Federal de Bonsucesso
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Hospital já foi referência
O HFB já foi referência em cardiologia e transplantes. Ele tem 412 leitos, mas a metade deles hoje está fechada.
A desconfiança de servidores e funcionários é que o sucateamento da unidade seja uma estratégia do governo federal para transferir a administração do hospital para uma empresa pública que já funciona no Rio Grande do Sul — o Grupo Conceição.
Em protesto, cerca de 40 servidores decidiram ocupar a sala da diretoria do hospital. A manifestação já dura uma semana. Entre os ocupantes estão médicos e enfermeiros e outros profissionais.
“Esse processo de estrangulamento, sucateamento, de abandono é fomentador do fechamento de leitos da rede federal. O Ministério da Saúde deve explicações à sociedade fluminense”, fala a diretora do Sindsprev/RJ, Christiane Gerardo.
O efeito prático da falta de médicos é não ter atendimento de intercorrências clínicas dos 412 leitos das 17h até as 7h e em todos os fins de semana ou feriados.
Segundo o relatório, todos os pacientes adultos fora da UTI e da unidade coronariana estão nesses horários sem assistência de uma equipe que faça uma visita médica. Técnicos da unidade dizem que “a situação é insustentável”.
‘É um descaso’, diz paciente
Com dor na coluna, Maria Cristina aguarda cirurgia há 1 ano
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“Eu precisava fazer essa cirurgia com urgência. É um descaso, má administração”, fala a aposentada Neuza dos Santos.
Há 1 ano a empregada doméstica Maria Cristina Guedes chegou à unidade com dores na lombar. Recebeu indicação para cirurgia.
“O doutor pediu todos os exames, falou que a minha cirurgia era de emergência, foram prorrogando e no final do ano, depois de quase 1 ano de espera, disse que não tinha anestesista no hospital.”
Enquanto espera, o quadro dela piorou muito. “Eu sinto dor direto, até pra dormir eu sinto dor, não sei mais o que fazer.”
O que dizem os citados
O Ministério da Saúde informou que não houve cortes e sim a antecipação de recursos para reforçar estoques de insumos e que uma medida provisória prorrogou até dezembro os contratos temporários.
Informou ainda que tem mantido diálogo com os sindicatos e entidades envolvidas no processo de reestruturação da rede federal, por meio de parcerias com instituições públicas federais e que a abertura de leitos e a qualidade e acessibilidade dos serviços são prioridades.
O Grupo Conceição, do Rio Grande do Sul, nega que vá assumir o controle do hospital.

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