Na busca por parceiro, fêmea do macaco-prego joga pedras no macho para chamar a atenção


Considerado um dos mais inteligentes, primata também utiliza galhos e outros materiais como ferramentas. Espécie foi filmada na Serra da Capivara, no Piauí. Na busca por parceiro, fêmea do macaco-prego joga pedras no macho para chamar a atenção
Já pensou se essa moda pega? Quando o assunto é reprodução, vale tudo na natureza. Inclusive jogar pedrinhas no macho para “quebrar o gelo” e iniciar um contato. Essa é a técnica utilizada pela fêmea de macaco-prego (Sapajus libidinosus), espécie presente na Serra da Capivara, no Piauí.
“O macho tá lá comendo distraído, não tá querendo nada. Aí ela vai lá, pega a pedra e joga nele. Aí o macho, nada. Aí ela vai lá e joga a pedrinha de novo. Ela vai repetindo isso até a hora que o macho interage com ela e aí acontece [a cópula]”, explica o primatólogo Andrews, primatólogo e mestre em Comportamento Animal pela USP.
Fêmea do macaco-prego utiliza pedras para fazer primeiro contato com o macho
Tiago Falótico
Na biologia, esse tipo de comportamento é chamado de display sexual e, até o momento, só foi registrado nesse grupo de primatas. Por existirem muitas variações comportamentais, Andrews ressalta a importância de estudar a diversidade de macacos em diferentes localidades.
Tendo pedras como ferramenta, esses primatas realizam o processamento de frutos e também cavam a terra para pegar tubérculos. Mas a pedra é apenas uma ferramenta utilizada por essa população da Serra da Capivara.
Primatas esmagam frutos com uso de pedras
Tiago Falótico
Com a ajuda de uma vareta, feita a partir de galhos de árvores, esses mamíferos conseguem ainda alcançar alimento em lugares de difícil acesso, capturando aranhas-de-alçapão, lagartos escondidos em fendas e até coletando mel em colmeias.
“Então, a vareta fica como se fosse uma parte do corpo desse animal. Eles conseguem alcançar onde não alcançam. Por exemplo, lagarto, eles ficam em fendas. Então, eles vão lá com a vareta, sondam ali até o lagarto sair”, diz o biólogo.
Macaco-prego usa vareta para alcançar alimento em locais de difícil acesso
Tiago Falótico
Macaco-prego-amarelo
O grupo dos macacos-prego é dividido nos gêneros Cebus e Sapajus, totalizando cerca de dez espécies. O primeiro gênero pode ser encontrado na América Central e em uma parte da América do Sul. Já o segundo é endêmico do Brasil, com distribuição ampla, ocorrendo entre os biomas Cerrado e Caatinga.
Uma curiosidade sobre eles está no nome “macaco-prego”. Segundo o especialista, tanto a fêmea quanto o macho apresentam órgãos sexuais no formato de prego, o que acabou lhes dando o nome.
Membros mais velhos do bando ensinam os mais novos a usar ferramentas
Tiago Falótico
Nos grupos de Sapajus libidinosus habitam entre 25 a 50 indivíduos em comunidade. Apesar de existir um macho alfa, outros machos podem habitar o bando sem serem agredidos. O cuidado dos filhotes é feito majoritariamente pela fêmea, mas os machos ajudam.
A espécie é poligâmica e apresenta pouco dismorfismo sexual – diferenças entre machos e fêmeas que não envolvem os órgãos sexuais. Onívoros, se alimentam de frutos, sementes, insetos e pequenos vertebrados.
Estado de conservação
De acordo com o Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve) do ICMBio, a espécie é considerada Quase Ameaçada (NT) no país. Além da destruição de habitat, a exposição cada vez maior de primatas nas redes sociais aparece como um incentivo à captura.
População estudada pelo especialista habita a Serra da Capivara, no Piauí
Tiago Falótico
“Por mais que tenha criadores que são legalizados, tem muita gente que não tem dinheiro pra isso, então vai recorrer ao tráfico. Então, o filhote é retirado da mãe, muitas das vezes a mãe é morta por causa disso. Então, é uma situação bem complicada”, afirma Andrews.
Para proteger os animais, a Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr) elaborou a campanha “Macaco não é pet”, a fim de informar sobre os riscos e consequências para a saúde e bem-estar de humanos e primatas.
Macacos procurando alimento em fendas com uso de varetas
Tiago Falótico
“Todos os macacos brasileiros vivem em grupos sociais e quando não convivem com macacos da mesma espécie, como é o caso de muitos animais cativos, acabam desenvolvendo doenças crônicas graves como o que ocorre com os seres humanos em altos níveis de stress, ansiedade, e depressão”, informa a cartilha.
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