É #FAKE que vídeo mostre gigante em São Thomé das Letras


Vídeo com pessoas comuns no mesmo local mostra efeito similar. Especialistas apontam ilusão de ótica. É #FAKE que vídeo mostre gigante em São Thomé das Letras
Circulam nas redes sociais vídeos em que pessoas alegam ter avistado um homem gigante em São Thomé das Letras. É #FAKE.
selo fake
g1
Um dos vídeos, intitulado “cara gigante em São Thomé das Letras” alcançou mais de 300 mil visualizações em duas semanas. Enquanto a câmera filma uma pessoa a distância, pessoas no vídeo dizem: “Tem um cara gigante ali” ou “o cara do tamanho da árvore, galera”, e ainda: “o pôr-do-sol nem apareceu, mas apareceu um gigante lá no pôr-do-sol”. A câmera mostra então pessoas próximas e depois fixa no suposto gigante. Alguém diz: “Olha aqui embaixo o tamanho dos caras e olha o tamanho do cara [o suposto gigante].”
Não é verdade que o vídeo mostre um gigante em São Thomé das Letras. Uma nova gravação do vídeo no mesmo lugar, filmando pessoas de estatura normal, mostra que elas também parecem maiores do que realmente são. Especialistas consultados pelo Fato ou Fake apontam que a impressão é causada por ilusão de ótica.
A pedido do Fato ou Fake, Thaís Machado, assessora de comunicação social da Prefeitura de São Thomé das Letras, levou duas pessoas ao ponto onde o vídeo viral foi filmado para fazer uma reconstituição da cena.
É #FAKE que vídeo mostre gigante em São Thomé das Letras
Reprodução
Thaís ficou posicionada em um ponto turístico conhecido como “Pirâmide”, de onde as pessoas se reúnem para observar o pôr do sol. Duas pessoas, uma mulher de 1,61 metro um homem de 1,79 metro, foram para o local onde o suposto gigante foi visto.
Thais fez um vídeo e deu zoom na câmera para mostrar ambos. É possível observar que, tal qual o falso “gigante”, eles também parecem alcançar a altura árvores ou ficar acima delas.
Veja os passos da checagem
O vídeo viral identifica onde o registro foi feito, mas foi preciso checar. O Fato ou Fake consultou um guia turístico segundo o qual a imagem foi feita a partir da “Pirâmide”, em São Thomé das Letras. Imagens do Google Maps confirmaram a localização.
Em seguida, o Fato ou Fake consultou o perito em crimes digitais Wanderson Castilho, que não viu sinais de manipulação do vídeo. “Não tem nenhuma edição. Na verdade é uma ilusão de ótica. Ele está em um nível mais alto do que a árvore. A árvore parece ser uma árvore de seis, sete metros, mas na verdade é uma árvore menor. O zoom dá a impressão de que ele está do mesmo tamanho que a árvore”, diz.
Outro passo foi tentar identificar o homem filmado. Ele não foi encontrado. Publicações nas redes sociais especularam sobre a identidade deles: dois homens de mais de 2 metro de altura foram apontados como sendo o gigante do vídeo; ambos negaram ao Fato ou Fake. Um deles foi o influencer Thanos, de 2,17 metros.
A etapa seguinte foi mostrar o vídeo a acadêmicos, escritores e neurocientistas que pudessem ajudar a entender o fenômeno.
Autor dos livros “Mentes brilhantes”, “Mentes geniais” e “Mentes fantásticas”, o escritor Alberto Dell’Isola afirma que a ilusão de ótica é a melhor explicação. “Quando temos muitos objetos distantes, temos dificuldade em avaliar o tamanho deles. Por isso é tão comum as pessoas tirarem fotos fingindo que carregam a Torre de Pisa ou que estão tocando o topo da pirâmide do Louvre.” Ele aponta um exemplo em vídeo. “No vídeo de São Thomé das Letras, existe um zoom que acaba favorecendo esse tipo de engano”, diz.
Pós-graduado em neurociência, o matemático Conrad Élber Pinheiro, do canal Professor Guru, analisou as imagens e conclui que “pode-se afirmar, categoricamente, que não se trata de um gigante.” Na verdade, podemos dizer que se trata apenas de uma ilusão de ótica. “Uma ilusão de ótica pode ser definida como sendo uma percepção visual que diverge da realidade física causado por uma confusão gerada no cérebro a partir do que é enxergado.”
Ele diz que a neurociência explica o fenômeno. “O nosso cérebro armazena em seu inconsciente milhões de informações adquiridas ao logo da vida, incluindo objetos, formas e tamanhos. Porém, essas informações não são armazenadas de forma isolada: através de um processo cognitivo, realizado por sinapses neurais, nosso cérebro estabelece relações entre as imagens que vemos ao longo da vida e cria padrões. Veja:
Quando se pensa em uma árvore e uma pessoa, imediatamente o cérebro busca uma relação entre elas e traz ao nosso consciente uma relação pré-estabelecida, conforme ilustra a imagem: uma pessoa é relativamente pequena ao se comparar com uma árvore.
Conrad Elber Pinheiro
Possivelmente, você imaginaria que se trata de um “gigante” ou que é ima pessoa ao lado de uma pequena árvore. Porém, nosso cérebro também é muito criativo, além de “não admitir” coisas incompletas. Então, ele imagina o restante da figura, mesmo sem haver um contexto explícito, e traz algum tipo de percepção. A criatividade humana faz com que a ideia de um “gigante” seja muito mais interessante do que a ideia de uma pessoa ao lado de uma árvore pequena (algo que nosso cérebro encara como sendo monótono).
Conrad Elber Pinheiro
Porém, quando nossa visão percebe todo o contexto, a criatividade é minimizada e a parte racional predomina. Na figura a seguir, temos um contexto mais completo: uma pessoa sobre uma superfície ao lado de uma árvore. Nosso cérebro sabe a altura média das pessoas e considerando que a pessoa está sobre uma superfície, isso faz nosso cérebro concluir, de forma mais racional e menos criativa, de que a árvore não é tão grande.
Conrad Elber Pinheiro
Em resumo, o processo de criação da ilusão de ótica envolve várias regiões do cérebro, sendo as principais o lobo occiptal (que processa as imagens e envia as informações para outras regiões do cérebro), córtex visual (que processa as informações captadas pelos olhos de forma consciente), lobo parietal (que ajuda a criar uma representação mental daquilo que nossos sentidos captam) e lobo temporal (relacionado à memória e reconhecimento dos objetos).
Dell’Isola explica que gigantes não existem por um motivo bem simples: matemática. “Quando se aumenta o tamanho de um objeto tridimensional, como o corpo humano, o volume cresce de acordo com o cubo das dimensões, enquanto a área de superfície aumenta apenas com o quadrado. Por exemplo, se uma pessoa dobrasse de altura, sua área superficial aumentaria por um fator de 4 (2²), enquanto seu volume aumentaria por um fator de 8 (2³). Esse aumento desproporcional no volume em relação à área geraria problemas fisiológicos sérios. Um corpo gigante precisaria de muito mais sustentação e recursos biológicos, como oxigênio e nutrientes, mas suas pernas e ossos não teriam força suficiente para suportar o peso adicional.”
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Reprodução
Fato ou Fake explica
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