Aniversário de SP: projeto de energia solar quer combater crises climática e econômica na periferia de São Paulo


Primeira microgeradora foi instalada na sede do Instituto Favela da Paz, no Jardim Nakamura, na Zona Sul, e abastece quatro casas. Projeto se conecta ao ODS 7. Projeto de energia solar quer combater crise climática e econômica na periferia de São Paulo
Reprodução/TV Globo
Os irmãos Cláudio e Fábio Miranda são os fundadores do Instituto Favela da Paz, projeto criado em 2010, com o propósito de desenvolver e implementar tecnologias sustentáveis e acessíveis no Jardim Nakamura, bairro periférico localizado dentro do distrito do Jardim Ângela, no extremo Sul da capital paulista.
A iniciativa começou como estúdio na década de 90 oferecendo aulas de música para a comunidade. Depois, passou a ter projetos de sustentabilidade e energia renovável.
Apelidado de “Professor Pardal”, Fábio costuma levar conhecimento sobre sustentabilidade para moradores de outras periferias da capital. Faz isso de forma curiosa, com seu Lab Móvel, uma espécie de van adaptada com tecnologias, chamado por ele de Laboratório de Tecnologia Ambulante.
Além disso, há três anos essa história ganhou mais um capítulo, com a instalação da primeira Micro Geradora de Energia Solar da Quebrada, do projeto Energia para Todos. São cerca de 22 painéis solares que abastecem pelo menos quatro casas alocadas na sede do Instituto, com 25 moradores. Um dos objetivos do sistema é, além de combater a crise climática, reduzir a conta de luz dos moradores em até 95%.
Graziela Gonzaga, analista ambiental, foi a idealizadora do projeto. Ela trabalha numa multinacional australiana e todo ano a empresa promove um desafio entre os funcionários para desenvolver projetos inovadores. A analista mora na periferia e sempre trabalhou em áreas mais ricas da cidade, o que a fez enxergar com nitidez as desigualdades entre as duas regiões.
“Em 2019, o tema do desafio era sustentabilidade e energias renováveis. E eu sempre me perguntei porque os projetos envolvendo sustentabilidade não eram acessíveis para todo mundo, já que o meio ambiente afeta a vida de todos. Eu nunca vi um painel desse na periferia, achava injusto só ter em casas de ricos. Veio daí a ideia de levar para a periferia a tecnologia de energia solar, fiz o projeto, e ele foi aprovado pela empresa, em janeiro de 2020”, conta ela.
O primeiro passo depois da aprovação era encontrar locais que pudessem receber o projeto. O primeiro contato aconteceu em maio, toda a parte de desenvolvimento, documentação e aprovação do projeto levou alguns meses e, em junho de 2021, as placas fotovoltaicas foram entregues. “Quando a Grazi entrou em contato com a gente, inicialmente, já sonhávamos como poderíamos nos tornar uma casa sustentável”, comentou Claudio Miranda, presidente do instituto.
“A instalação a gente fez com acompanhamento de um técnico. Foi muito legal. Hoje a gente consegue realmente abater isso na conta de luz”, lembrou Fábio.
Para Paulo Roberto Torres, morador beneficiado pela microgeradora, é um ganho significativo para a comunidade. “Antes das placas solares, a conta de luz chegava a superar os R$ 1.000, isso incluindo todos os moradores do espaço. Agora, com o projeto, a gente não fica tão preocupado, criou também uma consciência de economia de energia.”
Projeto de energia solar quer combater crise climática e econômica na periferia de São Paulo
Reprodução/TV Globo
Próximos passos
A ideia é que este seja o primeiro de muitos projetos de instalação de energia solar em regiões periféricas. Cláudio, Fábio e Graziela estão agora buscando novos parceiros para viabilizar o financiamento de projetos de energia renovável e capacitação de moradores da periferia para a instalação de placas fotovoltaicas e sistemas elétricos, que irão formar uma associação de energia solar na comunidade.
Fábio, que sempre promoveu tecnologias sustentáveis na região do Jardim Ângela, conta que a microgeradora de energia solar vai potencializar ainda mais as ações e outros projetos do Instituto Favela da Paz, e também irá gerar emprego e renda para novos instaladores, capacitados pelo projeto.
“Começamos com 25 pessoas, todas já formadas, que vão fazer a instalação de mais de 100 placas solares da associação, que será sediada em um galpão de 200 metros quadrados aqui no bairro. Esse sistema vai abastecer em torno de 30 famílias”, completa Fábio.
“A gente não sabia que ia crescer. Mas tínhamos que fazer o primeiro, e depois pensar no que fazer. E o primeiro está pronto”, disse Graziela.
“Favela da Paz hoje é essa forma de criar um espaço colaborativo. Onde você pode se integrar daquilo que você gosta. É um polo cultural, de vivência, aberto pro mundo”, completou Fábio.
Por dentro do ODS
Para as celebrações dos 470 anos da capital paulista, o Bom dia São Paulo, o SP1, SP2 e o g1 exibem nesta semana uma série de reportagens sobre paulistanos que estão fazendo a diferença em cada uma das áreas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ajudando a tornar a cidade um lugar melhor e mais justo para todos.
Nesta reportagem, tratamos do ODS 7: que fala sobre assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.
Confira em detalhes o que ele estabelece:
7.1 Até 2030, assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a serviços de energia
7.2 Até 2030, aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na matriz energética global
7.3 Até 2030, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética
7.a Até 2030, reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa
7.b Até 2030, expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento, particularmente nos países menos desenvolvidos, nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus respectivos programas de apoio.
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