Mudanças climáticas tiveram peso maior do que o El Niño na seca da Amazônia em 2023, aponta estudo


Especialistas em assuntos climáticos do Brasil, Reino unido, Holanda e Estados Unidos analisaram os dados da seca extrema na Bacia Amazônica entre junho e novembro de 2023. Mudanças climáticas tiveram peso maior do que o El Niño na seca da Amazônia em 2023, aponta estudo
Jornal Nacional/ Reprodução
Cientistas do Brasil e de mais três países divulgaram a conclusão de um estudo sobre a seca histórica registrada em 2023 na Amazônia.
O estudo realizado pelo World Weather Attribution reuniu 18 especialistas em assuntos climáticos do Brasil, Reino unido, Holanda e Estados Unidos. Juntos, eles analisaram os dados da seca extrema na Bacia Amazônica entre junho e novembro de 2023.
Eles usaram dois índices para avaliar a gravidade da estiagem: a pouca quantidade de chuvas no período, além do aumento da temperatura pelas ondas de calor que levam à maior evaporação. Com base nesses dados, os pesquisadores analisaram, separadamente, o impacto da mudança climática e do fenômeno El Niño, que quando está ativo aquece as águas do Oceano Pacífico e dificulta o avanço das frentes frias pelo país, diminuindo a quantidade de chuva no Norte e Nordeste.
Regina Rodrigues é professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e participou do estudo. Ela explica que os dois fenômenos ajudaram na diminuição extrema da chuva em 2023, mas que o aumento da temperatura foi impulsionado principalmente pelas mudanças climáticas.
“Mais ou menos 75% mudanças climáticas e 25% El Niño. Quando a gente coloca as condições atuais, incluindo as mudanças climáticas, aumenta muito a probabilidade de ocorrência. Então, quer dizer, isso significa que ela ocorre muito mais frequente e com muito mais intensidade, porque, se fosse só com as constantes naturais, ela seria bem mais suave e ocorreria bem menos frequentemente”, explica Regina.
O estudo também faz projeções. De acordo com os pesquisadores, se a temperatura em todo o mundo permanecer como hoje, 1,2º C cima da fase pré-industrial, a seca intensa na Amazônia deverá se repetir a cada 50 anos. Mas, se o mundo não diminuir as emissões de gases de efeito estufa ou frear o desflorestamento, esses fenômenos ficarão mais comuns, de acordo com o estudo.
Segundo o relatório, se a temperatura ficar 2º C a mais em relação à fase pré-industrial, a probabilidade de uma seca excepcional como a de 2023 – com pouquíssima chuva e altas temperaturas – poderá ocorrer uma vez a cada 13 anos.
Esse alerta não impacta somente quem vive na região. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, a mais importante no processo de sequestro de carbono do planeta, sendo indicada pelos cientistas como crucial para a estabilidade do clima global.
“Tem que reduzir , tem que fazer uma transição para energias limpas, renováveis. E desmatamento, que também gera muito CO2. Então, o Brasil, no caso, se a gente quiser falar do Brasil, se reduzir o desmatamento, já reduz 40% dessas emissões”, afiram Regina Rodrigues.
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