Em estado de guerra (por Tânia Fusco) 

“O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo.” A frase, referência ao conflito do Oriente Médio, é do discurso de Lula, na abertura da Assembleia Geral da ONU, organismo que apontou como esvaziado e sem voz ativa. Incapaz de mediar conflitos. Neste começo do século 21, a ONU é isso. Infelizmente.

O mundo enfrenta o maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial, com 56 guerras ativas, em 2024, e 92 países envolvidos, ameaçando a segurança mundial. Os dados são do Global Peace Index (GPI) ou Índice Global da Paz, divulgados anualmente pelo Institute for Economics and Peace.

Em 2023, foram 162 mil mortes. Um recorde nos últimos 30 anos, segundo o relatório. Os conflitos na Ucrânia e em Gaza foram responsáveis por quase três quartos dessas fatalidades. Apenas no início de 2024, 47 mil mortes relacionadas a guerras foram registradas.

O relatório do GPI conclui que muitas das condições que precedem grandes conflitos mundiais estão mais elevadas do que em qualquer momento desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Como não temer?

Nesta semana, um único ataque de Israel ao Líbano resultou em 492 mortos, 1.645 feridos, milhares de desalojados. Não há o que justifique.

Os representantes do Estado de Israel não aplaudiram nada do discurso de Lula. Como cegos, os defensores do atual Estado violento, que é o do Israel, costumam simplificar, apontando como antissemitas toda e qualquer crítica às violências cometidas em Gaza e, agora, no Líbano. Triste jogo de cena.

No mundo, o impacto econômico da violência tem sido devastador. Em 2023, o custo das guerras alcançou US$ 19,1 trilhões (R$ 106 trilhões).  O que significa perda global de US$ 2.380 (R$ 13.200) por pessoa ou 20% nas perdas de PIB. Já os gastos com pacificação representaram 0,6% do total investido em forças militares.  Quem quer mesmo acabar com as Guerras?

É preciso falar de paz. É preciso mudar a ONU. Dar-lhe mais voz ativa. Todo mundo sabe. Todo mundo vê. Poucos falam. Lula tem falado.

Os dados da GPI cobrem 99,7% de toda a população mundial, e classificam como “estado de paz”, nos países, em cinco níveis: muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo.

O Brasil ocupa a 131ª posição no ranking mundial da violência, classificado como “baixo estado de paz”. Na verdade, vivemos em estado de guerrilhas internas.

Ainda assim, em 2024, subimos da 132ª para a 131ª posição entre 163 países incluídos no ranking global de violência. Regionalmente, o Brasil ocupou uma das últimas posições do índice de paz da América Latina. Estamos à frente apenas de México (136º), Venezuela e Colômbia (ambas em 140º). Tá feia a coisa.

Na América do Sul, o Brasil está na nona posição em ranking liderado pela Argentina.  De doer.

Nem tudo está perdido. Há oásis de paz mundo afora. Islândia, Irlanda, Áustria, Nova Zelândia e Singapura são os cinco países menos violentos do mundo, seguidos de Suíça, Portugal, Dinamarca, Eslovênia e Malásia. Ainda há para onde escapar.

Arte do Planalto

Abre hoje, a partir das 19 horas, no Museu Nacional da República, a exposição “Brasília/A arte do Planalto”, com 200 obras de 128 artistas. A mostra, que aborda Brasília como uma obra de arte coletiva, ficará aberta até 28 de novembro.

 

Tânia Fusco é jornalista 

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