Porque o litoral do Piauí foi tomado por milhares de caravelas-portuguesas?


Mais de 40 de pessoas sofreram queimaduras na pele ao tocar nas caravelas, que cobriram a faixa de areia das praias do Piauí em 24h. Segundo bióloga, fenômeno pode estar ligado às mudanças climáticas. Águas-vivas em Luís Correia, litoral do Piauí
Luís Gustavo Graça / TV Clube
Mais de 40 pessoas, incluindo crianças e adultos, sofreram queimaduras causadas por caravelas-portuguesas nas praias de Luís Correia, no Piauí no último final de semana, quando milhares delas cobriram a faixa de areia.
Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade, foram registrados 32 atendimentos no sábado (21), e mais de 15 no domingo (22) de banhistas relatando queimaduras provocadas pelas caravelas.
Abaixo, você vai saber:
O que são as caravelas portuguesas?
Porque tantas caravelas apareceram no litoral do PI?
O que fazer em caso de queimaduras?
O que são as caravelas portuguesas?
Fotógrafo registrou tentáculos da caravela-portuguesa dentro d’água
Rafael Mesquita
As caravelas-portuguesas são um tipo de cnidário, e seu nome científico é Physalia physalis.
As caravelas são formadas por duas partes: uma com os longos tentáculos e outra parte que flutua. São pequenas bexigas que ficam na superfície da água, e são empurradas pelo vento, como os barcos que lhe deram nome, enquanto os tentáculos ficam afundados na água.
Apesar da beleza, essa espécie marinha é uma das mais perigosas presentes no Brasil, e também a que causa mais acidentes, quando banhistas tocam nos tentáculos.
O veneno da caravela-portuguesa fica concentrado nos tentáculos do animal. E o contato com a pele humana provoca dores muito fortes, queimaduras que podem ser até de terceiro grau, que se assemelham a marcas de chicotes.
Quando chega à areia, as caravelas morrem. Mas atenção: mesmo assim elas continuam causando queimaduras.
Em casos mais extremos, a toxina causa reações alérgicas graves acompanhadas de arritmias e náuseas.
Segundo a bióloga Liliana Souza, o aparecimento das caravelas-portuguesas nas praias do Piauí é comum nesta época do ano, mas não essa quantidade. Para ela, o caso pode ser resultado das mudanças climáticas e da poluição (entenda abaixo).
Porque tantas caravelas apareceram no Piauí?
Mais de 40 pessoas foram vítimas de queimadura por águas-vivas do tipo caravela-portuguesa no litoral em 24 horas
A bióloga Liliane Souza explicou ao g1 que o surgimento desses animais nas praias é comum todos os anos, nessa mesma época. Mas não na quantidade vista nos últimos dias.
Segundo ela, as mudanças climáticas, que elevaram a temperatura da água do mar, podem ter aumentado a reprodução das caravelas, causando a formação de uma grande população.
“Estamos vivendo uma crise climática, que ‘favorece’ algumas situações dessas. No período reprodutivo, a temperatura mais alta das águas intensifica a reprodução”, explicou.
Outro fenômeno que contribuiu foram os fortes ventos que atingiram a região nos últimos dias, e causaram uma ressaca na última terça-feira (17), quando mais de 15 barracas foram destruídas pelas ondas.
Liliana explicou também que o avanço da maré sofre influência da lua, mas também é consequência da intervenção humana na natureza.
“A erosão marinha, que causa esse intenso avanço, ocorre em virtude da retirada da vegetação costeira e a ocupação irregular. A praia está na foz de um estuário, e isso aumenta a ação da natureza”, explicou a bióloga.
O que fazer em caso de queimaduras?
Mais de 40 pessoas foram vítimas de queimadura por águas-vivas no litoral do Piauí em 24 horas
Reprodução
A primeira orientação em caso de queimaduras causadas por caravelas-portuguesas é lavar o local do ferimento com água do mar, e nunca usar água doce na queimadura, bem como “receitas” alternativas mais conhecidas, como urina ou café.
Veja abaixo a lista de orientações, da bióloga Liliane Souza:
Lavar o local abundantemente com água do mar;
Nunca lavar com água doce
Não esfregar (risco de espalhar a toxina e aumentar o tamanho da lesão);
Usar um objeto para retirar com muito cuidado os tentáculos que ficarem presos à pele, como uma pinça, um palito de picolé ou um cartão;
Levar para casa uma garrafa com água do mar, para continuar lavando o local;
Leia também: Tocou em uma caravela-portuguesa? Veja como eliminar toxina que causa queimaduras graves na pele
Equipes do Corpo de Bombeiros estão nas praias de Atalaia, Coqueiro, Peito de Moça, Itaqui, Arrombado, Carnaubinha, Maramar e Macapá para alertar as pessoas e os donos de barracas da situação.
De acordo com a técnica de enfermagem Jaquelline Soares, do Samu, esses animais estão tanto dentro da água quanto na areia da praia, devido a isso é preciso atenção e cuidado. Ela usou as redes sociais para pedir que os banhistas fiquem longe das praias.
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“Passando aqui para dar um alerta ao papais, mamães, turistas, banhistas, donos de bares do nosso litoral, que evitem o banho, principalmente com crianças. Estamos com um número grande de atendimentos de queimaduras por águas-vivas do tipo Caravela Portuguesa”, alertou a profissional.
Alta da maré
Maré avança e destrói barracas na Praia de Maramar, no litoral do Piauí
Mais de 15 barracas foram atingidas e parcialmente destruídas nas praias de Maramar e Macapá, em Luís Correia, no litoral do Piauí, após subida da maré com a ressaca do mar, que começou na última terça-feira (17). A previsão é que a situação se estenda pelo menos até domingo (22), e pode causar mais prejuízos.
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Ao g1, a proprietária Clécia Oliveira afirmou que perdeu três vãos de sua barraca e ficou apenas com a parte da rampa de acesso para pessoas com deficiência. Nem mesmo as manilhas de concreto colocadas no local contiveram a maré. Segundo ela, vizinhos lidaram com perdas ainda maiores.
Ressaca faz maré avançar e destruir barracas nas praias de Maramar e Macapá, no Piauí
Reprodução
“A maré chegou até a cozinha da barraca de um vizinho nosso. A destruição foi feia. Eu perdi cerca de 70% da minha barraca, que tem uma extensão de 50 metros, de um lado a outro, em frente à praia”, contou Clécia.
A dona da barraca apontou que, embora haja ressacas marítimas todos os anos, a que aconteceu nesta semana foi mais intensa que as outras. As ondas chegaram a ultrapassar o calçamento da praia.
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Arquivo pessoal
Ação humana agrava prejuízos, diz bióloga
A situação dos proprietários está sendo acompanhada pela prefeitura de Luís Correia e a Comissão Ilha Ativa, que atua no litoral piauiense. Conforme a bióloga Liliana Souza, membro do grupo, o avanço da maré sofre influência da lua, mas também é consequência da intervenção humana na natureza.
“A erosão marinha, que causa esse intenso avanço, ocorre em virtude da retirada da vegetação costeira e a ocupação irregular. A praia está na foz de um estuário, e isso aumenta a ação da natureza”, explicou a bióloga.
Na visão de Liliana, a especulação imobiliária, além do fenômeno natural da ressaca, obriga a população a recuar as construções no litoral. Para ela, um projeto de contenção da erosão marinha deve ser elaborado pelo poder público para reduzir os estragos.
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