Maduro diz que opositor lhe pediu ‘clemência’ para sair da Venezuela


Edmundo González deixou o país rumo à Espanha em 8 de setembro, após mais de um mês de perseguição do governo de Nicolás Maduro pós-eleições. Opositor afirma que documento assinado por ele, de aceite à decisão do Tribunal Supremo venezuelano, ‘tem nulidade absoluta’. Líder opositor venezuelano Edmundo González vota nas eleições presidenciais em Caracas, em 28 de julho de 2024
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou, nesta quinta-feira (19), que seu adversário nas eleições presidenciais, Edmundo González Urrutia, lhe pediu “clemência” para conseguir sair da Venezuela e ir para a Espanha.
“Ao final me dá vergonha alheia que o senhor González Urrutia, que me pediu clemência, não tenha palavra com o que se empenhou e alegue sua própria inépcia e sua própria covardia para tentar salvar sei lá o que”, afirmou Maduro, ao se referir às declarações do ex-diplomata, de 75 anos, que disse ter sido “coagido” por autoridades venezuelanas para conseguir partir para o exílio.
O candidato de oposição Edmundo González afirmou nesta quarta-feira (18) que foi forçado a assinar uma carta aceitando uma decisão do Tribunal Superior de Justiça (TSJ) da Venezuela que reconhecia a vitória de Maduro. A assinatura do documento permitiu sua saída da Venezuela, ocorrida no início do mês.
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O opositor disse foi visitado por membros do governo Maduro na embaixada espanhola em Caracas, onde estava escondido em meio às perseguições, que deram um ultimato a ele. Depois disso, González pediu asilo político na Espanha, onde está atualmente. Quando chegou ao país europeu, González disse que deixou a Venezuela para evitar um conflito.
“Vou contar a verdade sobre minha saída da Venezuela. (…) O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente, Delcy Rodríguez, me apresentaram um documento para permitir minha saída do país. Em outras palavras, ou eu assinava ou sofria as consequências. Foram horas muito tensas de coação, chantagem e pressões”, disse González.
Por conta da assinatura ter ocorrido sob coação, segundo González, o opositor disse também que o documento “está viciado e tem nulidade absoluta, devido a um grave vício no consentimento”. A decisão do TSJ que reafirmou a vitória de Maduro na eleição, referendando o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral, é contestada pela comunidade internacional, que também exige a publicação das atas eleitorais. (Leia mais abaixo)
O opositor afirmou ainda que o governo venezuelano “sempre recorre a jogo sujo, chantagem e manipulação”, e considerou ser mais útil permanecer livre, mesmo que fora do país, do que ser preso e impossibilitado de lutar pelo resultado divulgado pela oposição, que deu vitória a González. A publicação das atas eleitorais em um site foi motivo para o Ministério Público abrir investigação contra o candidato da oposição e pedir mandado de prisão contra ele.
O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, rebateu a fala de González, chamou-o de mentiroso e disse que o opositor assinou por vontade própria o documento reconhecendo a vitória de Maduro.
“As únicas coisas que a gente leva para o túmulo são o bom nome e a palavra (…) você está me coagindo para que eu o obrigue, estou disposto a mostrar conversas com Edmundo González (…) se você não desmentir o que acabou de dizer, vou mostrar as gravações e mais coisas”, afirmou Rodríguez.
Em coletiva de imprensa, o presidente da Assembleia Nacional também compartilhou fotos do momento da assinatura do documento na embaixada da Espanha. (Veja abaixo)
Edmundo González (ao fundo) na embaixada da Espanha em Caracasm, acompanhado da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez (à esq), e do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez (careca), assinando documento reconhecendo vitória de Maduro na eleição. Assinatura ocorreu no início de setembro.
Reprodução/Jorge Rodríguez
Jorge Rodríguez também questionou o teor de coação relatado por González. “Se você assinou sob pressão, como é que uma de suas filhas ainda vive pacificamente na Venezuela com sua família?”, questionou.
No primeiro pronunciamento após González deixar o país, o presidente Nicolás Maduro falou sobre o opositor em tom de despedida, desejou a ele “sorte em sua nova etapa da vida” e disse que agora “o país está tranquilo”. O presidente venezuelano acrescentou que ele participou pessoalmente das negociações para González deixar o país.
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Perseguição após eleições
A Venezuela vive um impasse desde a eleição presidencial, ocorrida em 28 de julho. O Conselho Nacional Eleitoral venezuelano declarou o presidente Nicolás Maduro vencedor da eleição, em resultado contestado pela oposição e pela comunidade internacional por falta de transparência –as atas eleitorais, que comprovariam o resultado, não foram publicadas até o momento.
Dias depois, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) referendou o resultado anunciado pelo CNE e proibiu a divulgação das atas. Tanto o TSJ quanto o CNE são alinhados ao governo Maduro.
Edmundo González foi o candidato da oposição na eleição e enfrentou Maduro nas urnas. A oposição, liderada por María Corina Machado, garante que González ele venceu o pleito com ampla vantagem, com base em cerca de 80% das atas impressas pelas urnas eletrônicas e publicadas em um site.
A ONU apontou a veracidade das atas divulgadas pela oposição. Por outro lado, o Ministério Público venezuelano, também alinhado a Maduro, disse que as atas são falsas e abriu investigação contra a oposição. Após González faltar a intimações do MP para prestar depoimento, um mandado de prisão foi expedido contra o opositor.
Temendo ser preso pelo regime Maduro, González estava escondido há mais de um mês e era considerado foragido. Em uma carta enviada ao Ministério Público ele afirmou que não ia se apresentar, pois considera que o processo contra ele não tem fundamento legal.
Investigação contra González
Edmundo González é investigado por crimes como usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação de atividades ilegais, sabotagem de sistemas e associação criminosa.
Segundo o MP, o pedido de prisão foi apresentado após González ignorar três intimações para prestar depoimento. O órgão é aliado do presidente Nicolás Maduro e controlado por chavistas.
O procurador-geral Tarek Saab afirmou que as intimações tinham como objetivo colher o depoimento de González sobre a publicação de atas impressas das urnas eleitorais em um site.
A líder da oposição, María Corina Machado, também está sendo investigada pelo Ministério Público. Na quinta-feira (5) ela se responsabilizou pela publicação das atas eleitorais em um site.

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