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A agência norte-americana para o desenvolvimento internacional (USAID, em inglês) foi criada em 1961 sob a administração do Presidente John F. Kennedy e seu objetivo era ser o braço humanitário do governo dos EUA em âmbito mundial.
Sempre foi usada, porém, como uma manifestação de “soft power” norte- americano, uma forma de influenciar corações e mentes pelo mundo afora e travar uma especial batalha cultural contra o comunismo. No Brasil, por exemplo, ficou famoso o acordo firmado entre o MEC e a USAID o que resultou no ensino obrigatório de inglês nas escolas, assim como a adoção de disciplinas como Educação Moral e Cívica. Era, contudo, mais a expressão de um conservadorismo, do que de um americanismo.
Com o tempo, porém, esse perfil da agência norte-americana mudou e ela passou a ser uma correia de transmissão do progressismo, da defesa de pautas identitárias e das minorias. Com a volta ao poder de Trump, uma pequena devassa na USAID mostrou que esse giro ideológico pode ter sido acompanhado do investimento de milhões de dólares mundo afora, e ao menos parte desses recursos foi empregado de modo irregular.
Como uma das linhas de atuação da agência é trabalhar pela construção e o desenvolvimento da democracia, apoiando organizações não governamentais, meios de comunicação independentes e iniciativas sociais, o presidente da Argentina, Javier Milei, se apressou em afirmar — sem qualquer evidência ou prova — que a USAID foi usada para o cometimento de fraudes no processo político-eleitoral brasileiro.
Muito claramente é preciso ter cautela. As atividades desenvolvidas pela USAID por certo devem ser fiscalizadas e analisadas, contudo, não se deve “tomar a nuvem por Juno” e fazer um raciocínio extensivo cujos objetivos são muito mais atingir a esquerda e o campo progressivo do que esclarecer ou trazer algum fato relevante e comprovado.
Pode até ser que se descubra algo envolvendo o Brasil de algum modo, isso, porém, não está posto neste momento e não dá para preencher essa lacuna com “achismos”. Aliás, Milei deveria se concentrar em seus próprios problemas que, no momento, se concentram em tirar a Argentina da situação ainda delicada em que se encontra, bem como se defender de um certo escândalo envolvendo investimentos em criptomoedas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG