
Santa Catarina está vivendo uma nova onda de calor, que deve ir até o mês de março. As temperaturas elevadas afetam não somente as pessoas, mas também as cadeias produtivas, principalmente as que envolvem animais, como a pecuária de leite.
Em Itapiranga, no Extremo-Oeste de Santa Catarina, cidade que tradicionalmente registra recordes de calor, os agricultores buscam alternativas para manter a produção e a qualidade de vida dos rebanhos.

O calor intenso pode comprometer a pecuária de leite, principalmente em cidades como Itapiranga – Foto: Divulgação/Cristian Schwengber/ND
Como o calor intenso afeta a pecuária de leite
O produtor rural Cristian Luis Schwengber possui 170 vacas em lactação e explica como a adaptação da estrutura e do manejo dos animais faz a diferença para manter a produtividade e o bem-estar do rebanho.
O calor intenso afeta a pecuária de leite devido ao estresse térmico que as vacas sofrem com as altas temperaturas. Quando os animais entram nesse estresse térmico, reduzem o apetite e aumentam a frequência respiratória. Vacas mantidas em ambientes mais frescos tendem a produzir mais leite.

Vacas mantidas em ambientes mais frescos tendem a produzir mais leite – Foto: Divulgação/ Cristian Schwengber/ND
Estratégia começa na construção do galpão
Uma das estratégias do produtor rural foi construir um galpão em uma área mais elevada da propriedade, a 370 metros acima do nível do mar. Segundo ele, a cada 100 metros de altitude, a temperatura ambiente pode reduzir cerca de 1 °C, o que impacta diretamente na pecuária de leite, já que o calor excessivo reduz a eficiência das vacas.
Além disso, Schwengber optou pelo sistema compost barn, que proporciona mais espaço para cada animal, evitando o superaquecimento. Na propriedade, ele reservou 16,6 metros quadrados para cada vaca, que melhora a ventilação e reduz a concentração de calor dentro do ambiente.
Outro diferencial é a estrutura do telhado. O galpão conta com três camadas de cobertura e aberturas superiores, chamadas de lanternins, que funcionam como uma chaminé, permitindo que o ar quente suba e saia com mais facilidade, ajudando a manter o ambiente fresco.

Na propriedade, o produtor reservou 16,6 metros quadrados para cada vaca – Foto: Divulgação/Cristian Schwengber/ND
Ventiladores e aspersão para reduzir o calor
Mesmo com uma estrutura planejada, o calor ainda pode ser um problema, por isso o produtor investiu em um sistema completo de ventilação e resfriamento.
A propriedade conta com ventiladores distribuídos por todo o galpão, especialmente na sala de ordenha, sala de espera e na pista de alimentação. Eles funcionam 24 horas, desligando apenas quando a temperatura cai abaixo de 13 °C.
Além da ventilação, há um sistema de aspersão de água, que refresca os animais em momentos de calor intenso. O sistema é acionado automaticamente sempre que a temperatura ultrapassa 23 °C, garantindo que as vacas recebam banhos programados ao longo do dia. O controle é feito com base nos sinais de estresse térmico dos animais.

A propriedade conta com ventiladores distribuídos por todo o galpão, especialmente na sala de ordenha – Foto: Divulgação/Cristian Schwengber/ND
Colares inteligentes registram a temperatura corporal
Para monitorar a saúde e o conforto das vacas, Schwengber utiliza colares inteligentes, que registram dados sobre a temperatura corporal, atividade e bem-estar dos animais. Com essas informações, é possível ajustar os horários de resfriamento e outras práticas para minimizar o impacto do calor.
Segundo o produtor rural, a alimentação também é adaptada para reduzir a produção interna de calor. Como o processo digestivo das vacas gera calor naturalmente, a dieta inclui ingredientes específicos que ajudam a minimizar esse efeito. Esse ajuste nutricional é feito com a orientação de um veterinário especializado.

Pecuária de leite: a alimentação também é adaptada para reduzir a produção interna de calor – Foto: Divulgação/Cristian Schwengber/ND
Mais conforto, mais leite
Todas essas medidas têm um impacto direto na produtividade. O produtor explica que vacas criadas em ambientes mais frescos produzem mais leite, e estudos apontam que para cada 100 metros de altitude, a produção pode aumentar em até um litro por vaca.
Com esse manejo cuidadoso na pecuária de leite, Schwengber garante que suas vacas enfrentem melhor os períodos de calor e mantenham bons níveis de produção, reforçando a importância do bem-estar animal para o sucesso da pecuária de leite

Estudos apontam que para cada 100 metros de altitude, a produção pode aumentar – Foto: Divulgação/ Cristian Schwengber/ND
Epagri auxilia os produtores a reduzir os impactos do calor
De acordo com Marcelo Rohden, engenheiro-agrônomo e extensionista rural da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), o conforto térmico é crucial para que os animais expressem todo o seu potencial, especialmente no caso das vacas-leiteiras, que são extremamente sensíveis ao calor.
Marcelo destaca que a Epagri tem auxiliado os produtores com várias linhas de crédito e recursos do Estado, permitindo que eles invistam na adequação de suas instalações e na implementação de sistemas que minimizem o estresse calórico.

As vacas passam parte do tempo em ambiente controlado e parte em pastagens – Foto: Divulgação/ Cristian Schwengber/ND
Sistemas de semi-confinamento na pecuária de leite
Entre as soluções mais adotadas na pecuária de leite estão os sistemas de semi-confinamento, onde as vacas passam parte do tempo em ambiente controlado e parte em pastagens. Esse modelo ajuda a reduzir o impacto do calor, mantendo os animais em locais ventilados e com acesso à água e sombra durante as horas mais quentes.
Para os bovinos de corte, embora o impacto do calor também seja significativo, o foco tem sido em práticas como o sistema silvo pastoril, que proporciona sombra nas pastagens e ajuda a mitigar o estresse térmico.
Sistemas de sombreamento nas pastagens
Outro aspecto importante é a implantação de sistemas de sombreamento nas pastagens, onde árvores proporcionam sombra para as vacas durante a maioria do dia. “A Epagri tem incentivado a construção de cisternas e a instalação de mini estações de tratamento para garantir água potável e de qualidade para o rebanho”, explica.
A Epagri oferece suporte no planejamento e acesso a programas de financiamento, como o Financia Leite, que oferece até R$ 40 mil para melhorias na propriedade, e o Pronampe Leite, que subsidia até 5% da taxa de juros para financiamentos destinados à pecuária de leite.
“Com essas iniciativas, o objetivo é proporcionar ao produtor de leite a possibilidade de alcançar a produtividade necessária para obter rentabilidade, mesmo enfrentando os desafios impostos pelo calor”, conclui.