Em meio a rumores de reforma, Lula demite ministra da Saúde

Nísia Trindade não é mais ministraReprodução/Ministério da Saúde

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP)demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade,nesta terça-feira (25). O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), assumirá o cargo a partir do dia 6 de março, quando será realizada uma cerimônia de posse.

“O presidente agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério”, diz trecho da nota divulgada pelo Palácio do Planalto sobre a exoneração da ministra.

A decisão ocorre em meio a rumores e especulações sobre a saída de Nísia, que já vinham sendo noticiados anteriormente.

A ministra, que participou de eventos recentes ao lado do presidente, demonstrou descontentamento com o vazamento de informações sobre sua demissão antes de uma conversa oficial com Lula.

Essa é a primeira mudança que deverá ocorrer nos próximos dias nos ministérios do governo. Desde o fim do ano passado, está prevista uma reforma ministerial.

Mudanças no governo Lula

O governo Lula enfrenta crescente pressão devido à queda de popularidade, o que motivou mudanças significativas, incluindo uma nova etapa de reforma ministerial prevista para os próximos dias.

A primeira mudança ocorreu com a saída de Nísia e a entrada de Padilha na chefia da pasta. Ele tem o desafio de combater o aumento dos casos de dengue e melhorar a relação com governadores de oposição. A mudança reflete a busca por uma gestão mais alinhada com os objetivos estratégicos do governo.

Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Mackenzie, explicou ao Portal iG – Último Segundo que a troca da ministra Nísia é uma escolha pessoal de Lula, que busca proteger o Ministério da Saúde, uma pasta muito importante, da influência de partidos com interesses fisiológicos.

Segundo ele, mudanças ministeriais podem ocorrer por questões técnicas, como a falta de competência, capacidade ou força política do ministro, o que leva o presidente a buscar alguém mais eficaz para o cargo.

“No caso da ministra Nísia, a mudança não parece ser por incapacidade ou corrupção, mas por uma questão política. É uma forma de acomodar novos atores no governo, pensando numa reeleição mais tranquila, especialmente diante da queda na aprovação do presidente Lula”, pontuou Prando.

Rumores sobre uma possível troca no Ministério da Agricultura também circularam ao longo desta tarde. A bancada ruralista, segundo o Portal iG – Último Segundo apurou, afirma que o atual ministro nunca teve uma boa relação com o setor agropecuário e que a pressão por sua saída existe há algum tempo.

O agravamento da crise do Plano Safra aumentou a pressão, embora não haja certeza sobre a demissão.

No entanto, a maioria acredita que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), não será demitido, já que Lula o vê como seu sucessor.

O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), cotado para o cargo, negou qualquer sondagem sobre a função em um vídeo divulgado nas redes sociais.

Plano Safra

O governo suspendeu temporariamente as linhas de crédito do Plano Safra devido à falta de aprovação da Lei Orçamentária de 2025 e ao aumento da taxa Selic. Isso gerou incertezas, especialmente para os produtores, com críticas à falta de planejamento fiscal.

A distribuição desigual dos recursos entre a agricultura familiar e o agronegócio também foi um ponto de debate. O governo anunciou uma Medida Provisória de R$ 4 bilhões para mitigar os impactos, mas a situação será resolvida apenas com a aprovação do orçamento.

Popularidade de Lula

A pesquisa CNT/MDA, divulgada em 25 de fevereiro, revela que a avaliação negativa do governo Lula atingiu 44%, um aumento de 13 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior de novembro de 2024.

A avaliação positiva caiu para 28,7%, o menor nível deste mandato. O estudo foi realizado entre 19 e 23 de fevereiro e envolveu 2.002 entrevistas presenciais. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Prando explica que, no terceiro ano de seu mandato, o governo Lula 3 ainda não apresentou uma marca concreta à sociedade. Além disso, a alta nos preços e a inflação dos alimentos têm impactado negativamente na aprovação do governo. “Além disso, há uma oposição muito mais forte do que nas gestões anteriores do PT, inclusive no primeiro mandato de Dilma”, destacou o especialista.

O Portal iG – Último Segundo conversou também com o economista Nicola Tingas, chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), sobre a queda de popularidade de Lula, inclusive entre seus apoiadores mais fiéis.

Para ele, essa situação gerou uma reação do governo, que busca recuperar e expandir sua base eleitoral por meio de ações como “marketing”, novos incentivos fiscais, aumento do emprego público, exploração de petróleo, redução de impostos para quem ganha até 5 mil reais por mês, e expansão do crédito público e privado, incluindo novas modalidades como o crédito consignado. “Em resumo, é uma injeção de dinheiro na economia para conter a desaceleração do PIB e atrair apoio eleitoral”, destacou.

Com a ida de Padilha para Saúde, Lula agora precisa definir quem assumirá a Secretaria de Relações Institucionais.

A disputa pelo cargo envolve nomes como Silvio Costa Filho (União Brasil-PE), José Guimarães (PT-CE), Jaques Wagner (PT-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), com a possibilidade de a função ser atribuída ao Centrão, como parte de uma estratégia para fortalecer a base aliada no Congresso.

Para o professor Prando, a Secretaria de Relações Institucionais é essencial para o diálogo entre os três poderes e, ao alterar ministérios ou a própria secretaria, o governo busca reorganizar e fortalecer sua estrutura política.

A pesquisa também mediu o desempenho pessoal de Lula à frente do governo, e a desaprovação atingiu 55%, o maior índice deste mandato, com um aumento de 9 pontos em relação à pesquisa anterior.

A aprovação caiu para 40,5%, contra 50% antes, enquanto a desaprovação subiu para 55,3%, em comparação com 46% anteriormente. Além disso, 4,2% dos entrevistados não souberam ou não responderam, contra 5% na pesquisa anterior.

A maioria (64,8%) acredita que Lula não merece a reeleição, enquanto 31,7% acham que ele deveria governar por mais quatro anos após 2026.

A idade do presidente não foi vista como fator determinante, com 43,6% dos entrevistados mencionando que sua idade (81 anos em 2026) não influencia na sua avaliação.

Para o cientista político Gerson Leite de Moraes, as consequências políticas das mudanças no governo Lula são difíceis de prever, especialmente quando as opções são limitadas. O governo, segundo ele, se encontra em um cenário de pragmatismo e cálculo político.

Para manter uma relação com o Centrão e garantir apoio até 2026, será necessário realizar a reforma ministerial, ciente de que, mesmo assim, o processo pode envolver traições.

“Neste momento, o governo Lula depende da aliança com o Centrão, pois não consegue garantir governabilidade sem esse apoio político, muitas vezes caracterizado por negociações fisiológicas”, concluiu. 

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