João Cândido: enredo do Paraíso do Tuiuti, ‘Almirante Negro’ é considerado herói em cidade do RS


Marinheiro líder da Revolta da Chibata é natural de Encruzilhada do Sul, a 170 km de Porto Alegre. Cidade exibe busto de marinheiro nascido em 1880. Busto de João Cândido, o ‘Almirante Negro’, em Encruzilhada do Sul, cidade natal do marinheiro
Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Encruzilhada do Sul/Divulgação
O Paraíso do Tuiuti vai unir a Marquês de Sapucaí a um município do Sudeste do Rio Grande do Sul nos desfiles desta terça-feira (13). A escola de samba tem como enredo a história de João Cândido, marinheiro líder da Revolta da Chibata, em 1910, natural de Encruzilhada do Sul, a 170 km de Porto Alegre.
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A trajetória do “Almirante Negro”, como foi apelidado, é motivo de orgulho no município, de 23 mil habitantes. Em uma das principais avenidas da cidade, há um busto de Cândido.
João Cândido lutou contra as agressões a chibatadas aplicadas contra os marinheiros, que eram, na sua maioria, negros. Para o pesquisador Antônio Bica, autor do livro “João Cândido – O herói negro de Encruzilhada do Sul”, o militar foi um exemplo de bravura.
“Ele foi um herói em todos os sentidos, a bravura dele. Foi um absurdo para a branquitude um negro pobre parar o país”, afirma.
Enredo e Samba: Paraíso do Tuiuti desfila pelo reconhecimento de João Candido como herói brasileiro
Vida e legado
João Cândido Felisberto nasceu em 1880, filho de ex-escravizados. Ainda na adolescência, ele viveu em Rio Pardo e em Porto Alegre, ingressando em uma escola preparatória para marinheiros. Depois de entrar na Marinha, Cândido foi para o Rio de Janeiro e atuou na instrução de jovens que ingressavam na força.
Respeitado pelos pares, se tornou uma liderança, a ponto de representar os colegas na principal demanda no início do século 20: o fim dos castigos físicos. Mesmo abolida cerca de 10 anos antes, a prática era constante.
“Esse homem viu o sofrimento dos irmãos. Eles botavam a corda e enchiam de agulhas. Pegavam eles, atavam num tronco e davam uma ‘tunda’. Já fazia tempo que tinha passado a escravatura e eles permaneciam escravizados”, conta Bica.
Na Revolta da Chibata, os marinheiros tomaram navios e apontaram os canhões para o Rio de Janeiro. O governo se comprometeu a acabar com os castigos e a anistiar os revoltosos. No entanto, Cândido foi expulso da Marinha e preso.
Encouraçado Minas Gerais e o Almirante Negro
Montagem
O “Almirante Negro” morreu no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos. Ele passou o fim de sua vida em São João do Meriti, onde ainda mora o único filho vivo de Cândido, Adalberto do Nascimento Cândido.
“Meu pai foi um cidadão gaúcho. Com 14 anos ele entrou para a Marinha de Guerra do Brasil e foi o líder do movimento da Revolta da Chibata, em 1910. Ele é um herói do povo”, fala.
O projeto que torna João Cândido um dos Heróis da Pátria ainda tramita no Congresso, sob resistência da Marinha. O nome do marinheiro está inscrito no Livro dos Heróis do Estado do Rio de Janeiro.
O Ministério Público Federal defende que a União faça reparações e compensações à família de João Cândido. Em 2008, no Dia da Consciência Negra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou uma estátua do “Almirante Negro” no Rio de Janeiro.
Estátua homenageando João Cândido no Centro do Rio
João Ricardo Gonçalves/g1
Enredo
O objetivo do enredo, segundo o carnavalesco Jack Vasconcelos, é reforçar o nome do homenageado como um grande herói do povo brasileiro.
“O propósito do enredo é a gente colocar o João Candido no lugar de herói brasileiro, que é devido”, diz o carnavalesco.
Paraíso do Tuiuti desfila pelo reconhecimento de João Candido como herói brasileiro
Reprodução TV Globo
Conterrâneo de Cândido, o pesquisador Antônio Bica concorda.
“O João Cândido deveria ser estudado nos colégios, nas universidades. Esse homem era fora do tempo dele”, ressalta.
‘Almirante Negro’ é o enredo da Tuiuti para 2024
Divulgação
Confira a letra do samba:
Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A Cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti
Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de Araras
Nascia um herói libertador
O mar com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador
Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés
Ôôô A Casa Grande não sustenta temporais
Ôôô Veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais
Lerê lerê mais um preto lutando pelo irmão
Lerê lerê e dizer nunca mais escravidão
Meu nego… A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Veio ao porto em saudação
Ah! nego… A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição
O luto dos tumbeiros
A dor de antigas naus
Um novo cativeiro
Mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Yemanjá com suas flores
E o Cais da luta ancestral
Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba enredo
Imortal!
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