O lado B da avenida: veja curiosidades e bastidores dos desfiles de carnaval em São Paulo


Engana-se quem acha que o carnaval se resume ao que é mostrado na transmissão ao vivo; há espaço até para um cochilo antes de entrar na avenida. Por trás das câmeras, folia teve guindaste para colocar destaques em carro alegórico e paz entre torcidas de futebol. Ala das baianas no desfile da Mocidade Alegre, na madrugada deste domingo (11)
Bete Marques/O Fotográfico/Estadão Conteúdo
Engana-se quem pensa que os desfiles de carnaval em São Paulo se resumem ao que é mostrado pela TV. As câmeras captam muita emoção e tensão, é verdade. Mas nem só de adrenalina e samba no pé viveu o carnavalesco que passou pelo Anhembi nesta sexta-feira (9) e neste sábado (10). Houve espaço, inclusive, para um cochilo antes de entrar no Sambódromo.
Nos bastidores, a edição de 2024 da folia paulistana teve:
🏗️ Passistas sendo elevadas por guindastes que alcançavam 34 metros de altura.
🦅 Tensão da Gaviões da Fiel antes de pisar na Avenida.
⚽ Rivalidade no futebol transformada em paz no samba, entre escolas que representam times.
🚃 Empurradores de carros alegóricos contratados de albergues.
😴 Pausa para soneca.
Veja detalhes mais abaixo nesta reportagem:
Guindaste de 34 metros de altura
Guindaste utilizado para tirar integrantes de alegorias.
Deslange Paiva/ g1 sp
Subir nos carros alegóricos demanda paciência, disposição e muita coragem para enfrentar o medo de altura. E descer das alegorias também não é fácil: os integrantes das escolas passam por um tipo de “resgate”, executado pelo Corpo de Bombeiros.
A depender da altura, a equipe usa uma espécie de gaiola, içada a até 34 metros acima do solo.
Ela é sustentada pelo guindaste e controlada por outro profissional que fica no chão. Dois bombeiros ficam responsáveis por retirar o integrante da alegoria.
Homem manuseia corda para guiar a gaiola que irá resgatar um integrante de escola de samba
Deslange Paiva/ g1
Tensão pré-invasão da Gaviões
Integrantes da Gaviões da Fiel entregam bandeirinhas aos torcedores
Atrás dos portões verdes que separam a área de concentração e o início da Avenida, um clima de tensão e adrenalina tomou conta dos membros da Gaviões da Fiel.
Com a chegada da bateria e da rainha da escola, Sabrina Sato, os ânimos ficaram ainda mais à flor da pele. Estava para começar, mas não sem antes ocorrer a distribuição das tradicionais bandeirinhas para a torcida.
Um pelotão de corintianos apareceu e se aglomerou no portão. Com eles, centenas de flâmulas da Gaviões. Como soldados, logo tomaram o Sambódromo.
A partir daí, o que se via eram maços de bandeirinha sendo arremessados em direção à arquibancada. Em retribuição, os torcedores vibravam. O barulho só não foi maior do que quando a escola teve a entrada anunciada.
Rivalidade só no futebol
Reginaldo e Edson, da Mancha Verde, no Carnaval 2024
Gustavo Honório/g1
Apesar da rivalidade no futebol, as torcidas do Palmeiras, representada pela Mancha Verde, e do São Paulo, pela Independente Tricolor e pela Dragões da Real, conviveram bem na concentração das escolas de samba.
Para representantes da Mancha e da Independente, disputa em campo — que muitas vezes extrapola os limites do bom senso e da civilidade — não se mistura com o carnaval.
Fabiano Santos, da Ala da Família da Independente Tricolor, escola de samba com raízes no São Paulo Futebol Clube, disse que no Sambódromo o clima é diferente:
“Existe a questão da disputa, é claro, mas o foco é o carnaval”.
O colega de escola Eduardo Nascimento faz coro. Segundo ele, a Independente tem uma série de membros que são palmeirenses, santistas e corintianos.
Para Reginaldo Pereira, ex-vice-presidente da Mancha Verde, escola ligada à Sociedade Esportiva Palmeiras, “carnaval é carnaval, é festa”. “A rivalidade existe com todas as escolas no intuito de ganhar. É diferente do futebol. O futebol é uma paixão que é histórica, é outra história.”
“Nós nos respeitamos aqui na Avenida. Sabemos o trabalho deles, e eles sabem do nosso. Não é nem questão de paz, é no respeito mesmo”, destacou.
Ele afirmou que a Mancha também tem membros que torcem para outros times que não o Palmeiras. “A gente tira um barato um com o outro, porque a Mancha está por cima, como o Palmeiras também está ultimamente. Mas é numa boa, nesse tipo de nível de brincadeira”, ressaltou.
Emerson Dias, da diretoria da Mancha, concorda.
“Já tinha a Dragões, a Gaviões, respeito sempre prevaleceu no carnaval. É um momento de descontração, diversão. A rivalidade do futebol fica lá fora. A paixão do carnaval é mais leve, divertida, é um público diferenciado”.
R$ 30 para empurrar uma alegoria
Empurradores de carros das escolas de samba de SP
Os empurradores de carros alegóricos, que foram contratados por escolas de samba que desfilaram no Anhembi, ganham cerca de R$ 30 por carro. Muitas vezes, um mesmo homem faz o trabalho em escolas diferentes, para conseguir mais dinheiro.
Na dispersão, começa uma correria dos empurradores que participam de mais de uma escola. Além dos voluntários das escolas, a maioria dos empurradores que trabalharam neste sábado era formada por homens contratados em albergues da capital paulista.
Já no final do desfile da Barroca da Zona Sul, conforme as alegorias iam chegando na dispersão, os homens que estavam empurrando corriam para trocar de camiseta e trocar pelo manto da agremiação seguinte. A correria foi flagrada pelo g1 (veja o vídeo acima).
Além do valor de R$ 30, os empurradores ganham alimentação da organização.
Pausa para soneca
Hellen (à esq.) e Cristina (À dir.), integrantes da Rosas de Ouro descansando
Gustavo Honório/g1
Em meio a tanto batuque, teve quem encontrasse um jeitinho para cochilar e recuperar as energias de um dia cheio.
Hellen acordou por volta das 6h para treinar jiu-jítsu, foi para o trabalho e não sobrou uma horinha sequer para dormir antes do desfile. Ela chegou ao Anhembi por volta das 21h, mas a tensão do desfile não a deixou fechar os olhos.
O jeito foi usar a sarjeta como “sofá”. O tempo de organização da ala foi suficiente para ao menos descansar os olhos.
“Para a gente, não é novidade, é nosso estilo. A adrenalina não deixa dormir, então a gente tira um cochilo quando dá”, afirma.
* Colaborou Carlos Henrique Dias
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