Delegada ingeriu bebida alcoólica antes de acidente com seis vítimas na Grande Fortaleza, diz inquérito


Ela foi indiciada por lesão corporal dolosa, conforme a Delegacia de Assuntos Internos. A defesa nega. O acidente aconteceu em maio de 2023. Delegada investigada por causar acidente em Aquiraz pula catraca do IJF em Fortaleza
Reprodução
Um inquérito policial apontou que a delegada Regia Amazonas Hiwatashi consumiu bebida alcoólica antes de um acidente que deixou seis feridos em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. O inquérito foi concluído pela Delegacia de Assuntos Internos da Controladoria Geral de Disciplina (CGD) do Ceará. A acusada fazia parte da Polícia Civil do estado.
O acidente aconteceu no dia 27 de maio na CE-452, em Aquiraz, na via que leva à Prainha, um dos destinos turísticos mais conhecidos da região. Na batida, seis pessoas ficaram feridas. Segundo testemunhas, a delegada apresentava sinais de embriaguez.
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O inquérito da DAI apontou lesão corporal culposa sob influência de álcool ou outra substância psicoativa. O direito de dirigir da delegada ficou suspenso ou proibido. Entre as vítimas, algumas pessoas ficaram com sequelas graves.
“Das seis, uma ainda está sem trabalhar, com atestado médico de seis meses; teve de colocar uma prótese no femur, faz fisioterapia, ingestão de medicamentos e não consegue se locomover sozinha”, disse Tiara Bitencourt, advogada de acusação. A advogada disse ainda que as vítimas vão solicitar também indenização.
Já Leandro Vasques, advogado de defesa da delegada, informou que respeita, mas discorda da conclusão apresentada no inquérito. “A bem da verdade, a delegada não fez ingestão de bebida alcoólica. Inclusive, uma das testemunhas, que é técnico do Samu e esteve presente na ocorrência, testemunhou e afirmou que não verificou nem hálito, nem torpor com relação à delegada”, comentou.
“O sinistro se verificou, na verdade, em razão de um caso fortuito, imprevisível, que se deu em razão de uma retinopatia diabética, ou seja, alteração da diabetes da delegada, que turvou a sua visão”, complementou Vasques.
A delegada também é investigada na esfera administrativa, com um procedimento disciplinar que analisa a conduta da servidora.
Acusada atuou em delegacia de acidentes de trânsito
Regia atuou, até janeiro de 2023, na Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (DADT), quando foi exonerada, segundo informações obtidas pela TV Verdes Mares.
Na DADT, a suspeita exercia o cargo de delegada adjunta, que tem por atribuição a substituição legal do delegado-geral em suas ausências. Um delegado adjunto também pode desempenhar outras atribuições definidas pelo gestor da unidade policial.
A delegada teve a exoneração publicada pela Secretaria Estadual do Planejamento e Gestão no Diário Oficial do Estado no dia 10 de janeiro de 2023. Desde que foi exonerada da função, ela ficou afastada da Polícia Civil por licença médica, conforme informações da corporação.
Delegada pulou catraca de hospital
A delegada e as vítimas foram levadas para o Hospital Instituto José Frota (IJF) em decorrência das lesões sofridas no acidente. No local, conforme informações da investigação da Polícia Civil, a delegada não esperou atendimento e foi embora da unidade hospitalar antes da chegada das equipes policiais que atenderam o caso.
Imagens obtidas pelo g1 mostram o momento em que a delegada pula a catraca do IJF, na capital cearense, para se evadir da unidade hospitalar (veja abaixo).
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O advogado de defesa, Leandro Vasques, informou que a cliente “não estava sob efeito de bebida alcoólica” e que a delegada não fugiu do hospital, mas teria assinado um pedido de alta e buscado atendimento em uma unidade hospitalar particular.
Em nota, o IJF informou que “não tem autorização para divulgar informações privadas dos usuários”, e que os pacientes não são obrigados a permanecer no hospital, “exceto em casos de demanda judicial ou policial”.
Momento do acidente
Segundo o inquérito policial, ao qual o g1 teve acesso, o acidente aconteceu por volta das 18h40 . A delegada dirigia um veículo Ford Ranger e, segundo as vítimas do acidente e outras testemunhas, o automóvel estava andando em “zigue-zague” na pista até que se chocou contra um Fiat Uno e um Honda Accord.
Após o acidente, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) foi acionada e chegou ao local. De acordo com as testemunhas, a delegada estava desacordada ao volante, e sua companheira, no banco ao lado, estava em estado de embriaguez e não conseguia manter-se de pé.
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Arquivo pessoal
No veículo Ford Ranger foi encontrada uma garrafa de whisky com sinais de consumo recente, um cooler para bebidas e uma arma de fogo. Nas proximidades do acidente também foi encontrada outra garrafa de whisky, esta fechada.
No Honda Accord, um dos veículos atingidos pelo Ford Ranger, havia dois passageiros, que não sofreram ferimentos. No outro veículo atingido, o Fiat Uno, havia quatro pessoas: o condutor, sua esposa gestante e outros dois passageiros. Quando os policiais foram ao veículo, constataram que os quatro estavam feridos, e que o motorista havia quebrado o braço com o impacto do acidente.
Conforme depoimentos dos policiais que atenderam a ocorrência, a delegada permaneceu desacordada até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Uma vez desperta, ela se recusou a fazer o teste de bafômetro, como consta no inquérito policial.
A ocorrência foi atendida pela Delegacia Metropolitana de Aquiraz e foi registrado como lesão corporal culposa na direção de um veículo automotor, crime previsto no Código de Trânsito Brasileiro, com agravante caso o condutor esteja com capacidade psicomotora alterada em razão de álcool, o que pode levar a pena de dois a cinco anos de prisão.
Em nota, a Corregedoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública do Ceará (CGD) informa que determinou “instauração de procedimento disciplinar para a devida apuração na seara administrativa” e que o procedimento está, atualmente “em trâmite”.
A Polícia Civil, por sua vez, informou que o inquérito policial que investiga a ocorrência “está em fase de conclusão” e que mais detalhes não serão divulgados para “não comprometer os trabalhos policiais em andamento”.
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