
A forte onda de calor que atinge o país e intensifica as temperaturas do verão escancara um problema que atinge boa parte da população: a falta de climatização no transporte público. Nas principais cidades de Santa Catarina, a situação é alarmante. Levantamento realizado pelo ND Mais mostra que os ônibus com ar-condicionado são apenas 25,7% da frota com pouco mais de 1200 veículos, nas seis principais cidades do estado.

Em Chapecó, nenhum ônibus da frota está equipado com ar-condicionado – Foto: Prefeitura de Chapecó/Divulgação
Os dados foram coletados junto às empresas prestadoras do serviço e as prefeituras de Joinville, Florianópolis, Blumenau, Itajaí, Criciúma e Chapecó. Além de números sobre as frotas de ônibus em cada cidade, a reportagem do ND Mais questionou de que forma as administrações municipais buscam melhorar a oferta do transporte público.
Apenas 25% do transporte tem climatização nas principais cidades de SC
Nas seis principais cidades do estado, 1.245 ônibus estão disponíveis para o transporte de passageiros, entre linhas executivas e convencionais. Deste total, 320 (25,7%) possui sistema de ar-condicionado disponível. Em todos os municípios já citados, o preço da tarifa é o mesmo havendo ou não climatização.
O maior percentual de ônibus com ar-condicionado está Itajaí, onde todos os veículos que circulam na cidade possuem o equipamento. Segundo informado pela concessionária SOL (Sistema de Ônibus Local), são 45 ônibus — 40 atuando em conjunto e 5 reservas — operando em 26 linhas. “Quando algum motorista reporta problema na refrigeração, o ônibus é substituído para manutenção”, afirmou a empresa em nota.
Diferentemente da cidade do Litoral Norte, em Chapecó, no Oeste catarinente, nenhum dos 93 ônibus que operam na cidade possui climatização. “Não há previsão de implantação do sistema”, informou a concessionária Auto Viação Chapecó ao ND Mais. O preço da tarifa de ônibus no município é R$ 4,85.

Calor extremo expõe falta de climatização no transporte público em Santa Catarina – Foto: Arte/ND
Em Florianópolis, ônibus com ar-condicionado são 4% da frota convencional
Moradores e visitantes da capital catarinense podem utilizar o transporte público em três modalidades: convencional (saindo dos seis terminais espalhados pela cidade); executiva (que faz trajetos diferenciados e com menos paradas) e Formiguinha (linhas sociais que atuam na região central de Florianópolis). Todos os serviços são prestados pelo Consórcio Fênix.
Conforme informado pela secretaria de Infraestrutura e Manutenção da Cidade, Florianópolis conta com 73 ônibus da linha executiva — também chamada de Amarelinho em referência a cor do veículo — e todos eles possuem ar-condicionado. A tarifa da modalidade custa R$ 18 para linha longa e R$ 14 para curta.
No transporte regular, são 450 carros disponíveis, mas apenas 18 ônibus com ar-condicionado. Dez carros fazem as linhas do projeto Formiguinha e nenhuma possui o recurso. O valor da tarifa dos ônibus convencionais em Florianópolis muda conforme o método de pagamento, mas é indiferente quanto à existência ou não do ar-condicionado.

Apenas 17% dos ônibus de Florianópolis possui ar-condicionado – Foto: PMF/ND
O valor começa em R$ 1,78 para tarifa social de estudante paga no cartão, chegando a R$ 6,90 para pagamento em dinheiro e QR Code — tarifa mais cara entre as capitais do país. Aos domingos, o transporte é gratuito. A modalidade Formiguinha tem custo zero. Diariamente, cerca de 220 mil pessoas usam o transporte público de Florianópolis.
À reportagem do ND Mais, a secretaria de Infraestrutura e Manutenção da Cidade informou que boa parte dos veículos que não possui ar-condicionado está equipada com um sistema de renovação de ar e escoamento, que promove a troca do ar no ambiente cerca de cinco vezes por hora. Segundo a secretaria, o método é capaz de diminuir a temperatura interna em até cinco graus.
Além disso, a pasta destacou que “está atenta à questão do conforto térmico nos coletivos e vem buscando alternativas para expandir o número de ônibus com ar-condicionado para as linhas convencionais”. A prioridade, no entanto, é “garantir a eficiência e a segurança do sistema de transporte público como um todo”. Por isso, não há um prazo definido para que mais ônibus com ar-condicionado passem a circular.

Projeto Formiguinha oferece transporte gratuito e busca melhorar mobilidade nos morros de Florianópolis – Foto: PMF/ND
Situação nas outras cidades de Santa Catarina
Em Blumenau, maior cidade em número de habitantes do Vale do Itajaí, apenas 17,85% do transporte público é feito por ônibus com ar-condicionado. Ao todo, 196 veículos prestam o serviço de mobilidade urbana, sendo 35 ônibus com ar-condicionado.
À reportagem do ND Mais, a administração municipal informou que estuda uma maneira de realizar a melhoria “sem impactar no valor final da tarifa para o usuário”, que é de R$ 6,90 para pagamento em dinheiro e R$ 5,50 para quem usa cartão vale-transporte.
Em Criciúma, no Sul de Santa Catarina, a situação é bastante similar. Dos 102 veículos disponibilizados à população, apenas 21,56% (22) são ônibus com ar-condicionado. Conforme informado pelo executivo, desse total, 19 são Amarelinhos (linha Troncal) e três são Brancos (Alimentadores).
Por meio de nota, a concessionária responsável afirmou que o intuito é, “com o tempo, fazer a troca dos alimentadores de acordo com autorização do Poder Público e renovação da frota”. O valor da tarifa, que indefere da existência ou não de climatização, é de R$ 5,25 para usuários do CriciúmaCard Cidadão e CriciúmaCard Vale-Transporte.

Ônibus com ar-condicionado representam 45% da frota em Joinville – Foto: Divulgação/Prefeitura de Joinville/ND
No Norte do Estado, onde há uma das tarifas mais caras de Santa Catarina, a situação se repete. Segundo a prefeitura de Joinville, menos da metade dos ônibus que circulam na cidade possui equipamento de climatização. De 286 veículos, apenas 127 são ônibus com ar-condicionado, o que representa 45% da frota.
Atualmente, o valor da passagem antecipada em Joinville custa R$ 6,25 e a embarcada, R$ 6,50. Na prática, no entanto, o preço da tarifa de ônibus é ainda mais alto. Oficialmente, o valor unitário do bilhete é R$ 7,60, mas o município aplica um subsídio de R$ 1,35, formando a tarifa social. Assim, o que o usuário paga é a parte restante do bilhete.
Há exatamente um ano, a administração municipal de Joinville deveria ter lançado um edital para concessão do transporte público buscando, entre outras melhorias, a qualificação do serviço com ar-condicionado, internet wi-fi e sistema de comunicação para o motorista. Apesar do atraso, a prefeitura garante que o documento está em fase de revisão final para que seja enviado ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) e, após análise, ser publicado.
As empresas responsáveis pelo transporte público na cidade, Gidion e Transtusa, não quiseram se manifestar sobre um possível aumento no número de ônibus com ar-condicionado devido ao processo de licitação em aberto.