Crônica de um ataque anunciado

Uma sirene tirou da cama toda a população israelense hoje. Eram 3 horas da manhã em ponto. Dessa vez, o alarme não tentava nos proteger de ataques aéreos contra Israel, mas nos alertar que nossa Força Aérea acabava de iniciar o tão esperado ataque ao Irã. Os alvos: líderes da Guarda Revolucionária Iraniana (o exército do regime dos aiatolás) e as instalações nucleares.

Prédios atingidos após ataques israelenses em Teerã, no IrãReprodução/X

Imediatamente recebemos pelo telefone as instruções do Órgão de Defesa Civil: nos mantermos próximos a áreas protegidas, manter ao alcance das mãos garrafas d’água e também um pouco de comida. Isso porque, diferente dos ataques de mísseis do Hezbollah ou do Hamas, não devemos esperar dez minutos apenas antes de sair do bunker ou do quarto de segurança, mas aguardar uma mensagem com instruções da Defesa Civil (o que pode levar horas).

Ah, as mensagens também nos pediam para mantermos a calma. Claro.

Sabíamos que o ataque aconteceria. Nas últimas semanas, muitos por aqui duvidaram da lealdade de Donald Trump a Israel quando ele iniciou a negociação de um acordo com o Irã sobre seu programa nuclear.

Trump, como Trump que é, começou com frases meio soltas, ameaças contidas, a princípio sem deixar claro o que ele esperaria em troca da suspensão das sanções econômicas  ao Irã. Com o passar do tempo, as frases ficaram menos soltas e as ameaças menos contidas: não bastaria o Irã prometer que o enriquecimento do urânio teria apenas fins civis e, se suas usinas atômicas não fossem desmobilizadas, a alternativa levaria à morte e à destruição.

Ele nunca disse que os EUA promoveriam um ataque. Ele sempre disse que Israel o faria. Agora, Trump repete que ainda acredita em um acordo. Agora, Netanyahu repete que, se houver retaliação, Israel atacará também os poços de petróleo e a infraestrutura iraniana. (Enquanto escrevo essa coluna, as ondas de ataque continuam.)

Nunca a estratégia “good cop, bad cop” foi usada em de forma tão pública e óbvia (não viu quem não quis).

Em Israel, as ruas estão vazias. Todos estão dentro de suas casas aguardando os próximos capítulos. Os reservistas estão mobilizados. Os serviços de resgate também. Os aeroportos estão fechados desde a madrugada e tudo indica que assim permanecerão por pelo menos mais três dias.

Os grandes hospitais abriram seus centros de atendimento subterrâneos, que os permitem continuar operando de forma completamente segura, mesmo sob ataque. A tensão é grande, mas menor do que a satisfação de ver esse ataque finalmente concretizado, poucos dias depois da confirmação de que o Irã já tem urânio enriquecido suficiente para 15 bombas atômicas.

Um dos hospitais subterrâneos de Israel, que os permitem continuar funcionando normalmente mesmo sob ataqueDivulgação

De uma forma que o mundo tem dificuldade em entender, destruir a capacidade atômica do Irã é mais um passo na desmobilização do fundamentalismo islâmico que está mostrando seus dentes não só em Israel, mas também na Europa (hello, Londres, Barcelona, Paris etc.) e nos Estados Unidos, que testemunhou dois ataques terroristas em um período de 10 dias.

O terrorismo não nasce e morre no Irã (hello, Catar). O Hamas não nasce e morre em Gaza (hello, Síria, Líbano, Jordânia e outros). Ainda assim, é preciso, como se diz por aqui, “aparar a grama” o tempo inteiro.

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