O anúncio do marketplace dos Correios para o primeiro semestre de 2025 levanta uma série de questões sobre o papel da estatal na economia e a viabilidade desse novo modelo de negócios. A proposta de criar uma plataforma própria de e-commerce, com vendas diretas e parcerias com pequenos empreendedores, pode parecer inovadora à primeira vista, mas, na prática, reforça um problema recorrente nas empresas estatais: a falta de foco no seu core business e a interferência direta em mercados já atendidos de maneira eficiente pelo setor privado.
Um erro estratégico para os Correios
Os Correios desempenham um papel na logística e na entrega de mercadorias. Porém, ao invés de aprimorar sua eficiência e competitividade nesse setor, a estatal decidiu entrar em um mercado altamente competitivo dominado por gigantes como Amazon, Mercado Livre e Magazine Luiza. Essas empresas investem bilhões em tecnologia, atendimento ao cliente e eficiência logística.
Ao tentar concorrer com elas, os Correios desviam seu foco daquilo que deveria ser prioridade: melhorar seus serviços de entrega, reduzir custos operacionais e se tornar uma empresa sustentável financeiramente. Afinal, a estatal fechou 2024 com um prejuízo de R$ 2,13 bilhões e um déficit total de R$ 3,2 bilhões. Criar um marketplace em meio a essa crise financeira soa mais como um tiro no escuro do que como uma estratégia bem planejada.
Concorrência desleal e ineficiência estatal
Outro ponto crítico é a concorrência desleal que esse marketplace pode gerar. Como estatal, os Correios têm privilégios que os players privados não possuem, como isenção de tributos específicos e acesso a financiamento governamental. Isso significa que a empresa poderá operar em condições diferentes das demais plataformas, distorcendo a competição e criando um ambiente menos equilibrado para o mercado.
Além disso, se ao analisar o histórico das iniciativas digitais do setor público, é possível ver que a ineficiência e a falta de inovação são problemas recorrentes. Basta lembrar do “Marketplace do Governo”, criado em 2021 para compras públicas que se tornou um exemplo de burocracia e ineficiência. Não há garantias de que o marketplace dos Correios será diferente.
A justificativa não se sustenta
A principal justificativa da estatal para a criação do marketplace é ampliar o acesso de pequenos empreendedores ao comércio eletrônico, aproveitando a capilaridade da empresa.
No entanto, essa missão poderia ser cumprida sem que os Correios se tornassem um concorrente direto das plataformas existentes. Parcerias estratégicas com marketplaces privados e melhorias na logística para pequenos negócios seriam soluções mais eficientes e alinhadas ao papel da empresa.
Além disso, é ingênuo acreditar que uma estatal, com sua estrutura burocrática e seu de problemas operacionais, conseguirá competir com gigantes que dominam o setor há décadas. A experiência do usuário, a confiabilidade do serviço e a inovação constante são essenciais para o sucesso de um marketplace – e são nesses pontos que os Correios falham.
Conclusão
O marketplace dos Correios já nasce como uma ideia equivocada. Em vez de se aventurar em um setor para o qual não está preparado, a estatal deveria focar em resolver seus problemas estruturais, melhorar a qualidade dos serviços de entrega e buscar formas mais inteligentes de se tornar sustentável financeiramente.
Criar um marketplace próprio em um momento de crise econômica interna, sem uma vantagem competitiva clara e com um histórico de ineficiência, pode gerar mais prejuízos para uma empresa que já enfrenta dificuldades.
O caminho para os Correios não está na concorrência direta com os gigantes do varejo, mas sim na especialização e modernização de sua atividade principal: a logística.