UFPB inaugura disciplina inédita sobre a religião da Jurema Sagrada

O curso de ciências das religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) passa a oferecer, no semestre 2025.1, a primeira disciplina em uma universidade voltada exclusivamente para o estudo da Jurema Sagrada. O novo componente curricular é resultado de uma colaboração técnica com o professor Stênio Soares, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro do grupo de pesquisa The Africa Multiple Cluster of Excellence, da Universidade de Bayreuth, na Alemanha.

As aulas acontecerão às quartas-feiras, das 19h às 20h30, na sala 317 do Centro de Educação (CE/UFPB), a partir do dia 11 de junho. Estudantes da UFPB poderão se matricular durante o período de matrícula extraordinária, que acontece nos dias 26 e 27 de maio. Pessoas externas à universidade também podem participar como ouvintes, enviando uma manifestação de interesse para o e-mail do professor Stênio Soares ([email protected]).

A disciplina propõe uma abordagem sobre a formação sócio-histórica da Jurema Sagrada a partir de suas principais matrizes religiosas e culturais, com ênfase em sua cosmologia afro-indígena. A jurema será tratada como um sistema cultural religioso, compreendendo sua organização social, estrutura ritual, liturgias e cosmologias.

Estão previstos, ao longo do curso, encontros com juremeiras e juremeiros da Paraíba, além de diálogos com artistas cuja produção emerge da relação espiritual e estética com a religião, como a música, as artes cênicas, a literatura, o cinema e as artes visuais. A proposta é analisar os contextos políticos e as estratégias de resistência, sobretudo diante do racismo religioso.

Entre as lideranças religiosas, Mãe Renilda chama atenção para a relevância histórica e cultural da jurema no território paraibano. “A Jurema Sagrada é uma religião da própria da Paraíba. Faz parte da nossa história, da nossa cultura, da nossa ancestralidade. Ter uma disciplina sobre ela na maior universidade do estado é algo muito importante”, pontua.

Já Pai Beto, guardião da Jurema Sagrada e presidente da Federação Cultural Paraibana de Umbanda, Candomblé e Jurema, celebra o ineditismo da iniciativa acadêmica: “A jurema ainda é pouco estudada. Tanto que nunca teve uma disciplina voltada diretamente pro culto da jurema paraibana. Então, pra mim, é muito marcante ver esse interesse crescendo dentro da universidade, saindo de pesquisas isoladas pra formar uma turma inteira voltada pra essa temática”.

As atividades de ensino da disciplina estarão articuladas às atividades do projeto de pesquisa Museu como Encruzilhada e na Encruzilhada, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) e também coordenado pelo professor Stênio Soares. O conjunto dessas atividades de ensino e pesquisa está subsidiando a criação do Museu da Diáspora Negra, dos Povos Originários e das Comunidades Tradicionais, uma obra do Governo do Estado da Paraíba, por meio da Secretaria de Mulheres e Diversidade Humana (SEMH), em parceria com o Ministério da Cultura (MinC).

A secretária Lídia Moura, que está à frente da SEMDH, destacou o papel do novo museu como instrumento de valorização dos povos tradicionais do estado: “A Paraíba é um estado formado por população negra, quilombola, indígena, cigana, etc. E junto com a história de todas essas pessoas e etnias, existe também o sagrado e a diversidade religiosa. Então o museu, que será supervisionado pela secretaria, vem pra reforçar esse patrimônio e já começa criando pontes e trazendo aprendizados científicos”.

Para Soares, a iniciativa representa um marco importante para a universidade e para a sociedade. “Quando o Departamento de Ciências das Religiões me sugeriu ministrar um componente optativo de tema livre, eu vi a oportunidade de abordar apenas a Jurema Sagrada e colocar essa religião no centro da relação entre ensino, pesquisa e extensão universitária. A partir dessa experiência, podemos olhar para a cultura paraibana compreendendo a importância das suas matrizes afro-indígenas na constituição da nossa identidade”, enfatiza.

A professora Dilaine Sampaio, coordenadora do curso de Ciências das Religiões, destaca o ineditismo da proposta: “A jurema sempre esteve presente em nossa matriz curricular, dividindo espaço com outras religiões afro-indígenas. A novidade é que, como disciplina optativa isolada, ela terá agora o foco e a profundidade que merece. Trata-se de uma religião riquíssima e diversa, que contribui de forma significativa para o patrimônio cultural do nosso estado”.

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